terça-feira, 22 de março de 2016

A gabardina azul

 
Miguel Esteves Cardoso  - jornal Público
 21/03/2016 - 00:05

Foi na Primavera de 1971 que me apaixonei pelas clarividências de Leonard Cohen.

Em Março de 1971 saiu o álbum mais importante da minha vida: Songs of Love and Hate de Leonard Cohen.
No Verão de 1971, tinha eu 16 anos, estávamos a passar férias em Tarrant Rushton em Dorset. Levei o disco comigo mas estava tão riscado que tive de ir a Blandford Forum comprar outro.
Antes de acabar o ano comprei um terceiro disco de vínil, já que os anteriores tinham sido tão tocados que só ficou o ruído constante dos riscos: um som pior ainda do que o silêncio, julgava eu, naqueles dias. 
Havia um primeiro e segundo lado. As canções eram todas boas mas umas eram mais agressivas do que as outras. A canção mais feia e violenta de todas era Diamonds In The Mine. Mas era, à mesma, muito boa, apesar de ser pior do que todas as outras. A anterior, Dress Rehearsal Rag é uma das maiores maravilhas da obra de Leonard Cohen.
No disco Songs of Love and Hate, que durava menos de três-quartos de hora, o segundo lado da versão vinílica é mais maravilhoso ainda do que o primeiro. Há a obra-prima Love Calls You By Your Name. E depois há a canção que é possivelmente a canção mais bonita e misteriosa dos últimos 60 anos: Famous Blue Raincoat.
There’s music on Clinton Street/ All through the evening”...e “Yes and Jane came back by with a lock of your hair/ She said that you gave it to her/ That night that that you planned to go clear; did you ever go clear?”
Foi na Primavera de 1971 que me apaixonei pelas clarividências de Leonard Cohen. Há 45 anos.

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