Vasco Pulido Valente, in: Jornal Público
Conheci ontem as
dez criaturas que se se resolveram candidatar a Belém. Foi um espectáculo
triste e vexatório. Marcelo Rebelo de Sousa anda por aí a gabar a singularidade
desta desgraçada eleição: é mais barata, mais livre e os partidos não se metem
na coisa. Marcelo talvez seja espertíssimo – um ponto discutível, apesar da
propaganda –, mas pelo menos não percebeu que esta palhaçada em que
hoje participa o degrada a ele e diminui a autoridade do Presidente da
República.
Nunca na história da política portuguesa
(e sabe Deus que ela desceu a abismos de indignidade) se viu espectáculo assim.
A galeria de horrores que ontem nos mostrou a televisão ultrapassa as piores
cenas do Constitucionalismo e da República. E Marcelo participa nos festejos,
abanando aprovativamente a cabeça, como um sacristão.
Tirando Marcelo, apareceram nove
candidatos, sem currículo ou capacidade para guarda-portão, mas que pretendem
guardar a República e o regime contra qualquer adversidade externa ou interna.
Declaram todos que estão cheios de ideias, talvez porque ninguém ainda se deu
ao trabalho, sem dúvida frustrante, de lhes comunicar o que são ideias. Sampaio
da Nóvoa, hirto como uma vassoura, repete os lugares-comuns do folclore
socialista. Marisa Matias, uma “passionária” de trazer por casa, distribui
asneiras que só mostram a sua ignorância e a sua confusão. Maria de Belém é um
poço vazio, com algumas “causas” sem pés nem cabeça. Paulo Morais, por baixo de
uma luxuriante cabeleira, exibe a sua mania da corrupção, de uma maneira
insultuosa e quase alucinada.
E há mais. Vitorino Silva, o Tino de
Rans, que tirou a sua candidatura do fundo da “alma”; um senhor (Cândido
Ferreira) que armou um pequeno distúrbio porque se imagina com direito a mais
tempo de antena; um segundo senhor (Jorge Sequeira) que propõe a “meritocracia”
para a salvação da Pátria (palavra de honra); um antigo padre, convertido ao
PC, que se atrapalha com a nova teologia. Finalmente, há também Henrique Neto,
um homem simpático, de quem se esperava um pouco mais de juízo.
Os despautérios que se ouviram numa noite
chegam para uma vida. A Assembleia da República devia fabricar uma lei para
decoro do regime e do país: uma lei que obrigasse cada candidato presidencial a
depositar 200.000 euros a fundo perdido para adquirir o direito de exibir o seu
cabotinismo e a sua estupidez. O que, pela amostra de 2016, não é muito.
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