Por: Costa Pereira Portugal, minha terra.
No passado dia 12,
fui ao Coliseu dos Receios assistir à “Festa de Natal, EDP”. , graças a um
convite que pessoa amiga me ofereceu. Festa animada pela Companhia
Internacional de Circo que de 05 a 27 de Dezembro ali se vai manter. Gostei,
pois já ali não entrava há muitos anos.
A ultima vez foi
como ilusionista num espectáculo organizado pelos Clube dos Sargentos da
Armada. Hoje arredado da vida artística, nem por isso é menos consolador rever
salas onde actuarmos, nesta agora com mais penhor dado calhar de ter ficado
junto ao palco que já pisei. Desta sala que é orgulho da cidade de Lisboa, a
sua origem remonta aos finais do século XIX e assim referenciada: “No dia 14 de
Agosto Ade 1890 é inaugurada uma grande sala de espectáculos, o novo Coliseu
dos Recreios. Vicissitudes várias levaram ao desaparecimento de outras casas
lúdicas, sendo então urgente a construção deste novo espaço, erigido de raiz na
Rua das Portas de Santo Antão e aberto ao público ainda longe das obras
terminadas”. Importante não só pelo serviço prestada à cultura nas mais
diversas modalidades , mas também como imóvel original que é, e portanto uma peça destacada do património da cidade.
Avaliar por o que desta sala reza a história: “o Coliseu dos Recreios foi
inovador na introdução da arquitectura do ferro, ainda insipiente em Portugal,
através da espectacular cúpula em ferro, com 25 metros de raio, vinda da
Alemanha, encomenda feita à firma Hein Lehmann e C.ª. O telhado, também em
ferro foi instalado em 1889, da responsabilidade do engenheiro Lacombe. O traço
da obra deveu-se aos engenheiros Goulard, pai e filho e ao português Manuel
Garcia Júnior; a construção metálica coube a Castanheira das Neves e a
decoração ao pintor António Machado. Do arquitecto Cesare Ianz é o projecto da
fachada do edifício, última parte concluída, de três pisos, com motivos
decorativos em reboco e algumas carrancas, que lhe conferem e aumentam a
grandiosidade”.
Não importa
quando, mas a certa altura, esta sala entrou na posse da família Covões, e sob
direcção dessa família se mantêm hoje, conservando e honrando o nome de Ricardo
Covões. Deste diz o seu herdeiro Álvaro Covões : “ foi deputado à primeira
Assembleia da República. Nós até temos um salvo-conduto assinado por um
ministro da Primeira República, no dia 5 de Outubro de 1910, a requisitar um
automóvel para ele. Foi também co-autor da lei das oito horas de trabalho, da
Primeira República. Sei que chegou a explorar o Teatro de São Carlos, porque
não havia dinheiro e, na bancarrota, optou-se por fazer aquilo que é correcto:
tratar dos bens essenciais e prescindir de outros. Depois acaba por entrar no
Coliseu, comprando grande parte das quotas“. – Mais uma prova de que os bons
negócios se fazem através do escadório partidário….Como quer que seja foi pela
mão desta família que o Coliseu dos Recreios mais se assumiu como sala de
espectáculos popular, estabelecendo preços baixos e apresentando espectáculos
de diversos tipos, entre os quais a opera.
Dos muitos que ali
assisti recordo o Circo de Moscovo que creio foi em 1971. Deu furor já que
todos queriam ver os comunistas. Fui um desses espectadores, e como em
entrevista, diz Álvaro Covões, também eu tive oportunidade de ver como “viviam
os artistas de Leste, dos países comunistas”. E adianta mais “não tinham liberdade
nenhuma, nem tinham dinheiro, só andavam com moedas, não podiam sair sozinhos,
só em grupo, eram maltratados , enfim uma escravidão.
E acrescenta: “
numa fase em que havia uma mentalização pró-comunista na sociedade portuguesa,
imediatamente fui para o outro lado, porque aquilo não fazia sentido. Mas só
porque conhecia uma verdade que toda a gente desconhecia”. - Também conheci
essa verdade, porque nessa altura fazendo parte da Secção de Ilusionismo dos
Joses de Portugal, era costume nosso, sempre que um ilusionista estrangeiro ou
de fora de Lisboa viesse a cidade, ser convidado a visitar a nossa associação.
Assim aconteceu, com o ilusionista desse circo, mas o trabalho que deu para se
conseguir arrancá-lo do cerco…. Mesmo assim, atrás dele vieram mais uns tantos
que não eram mágicos….
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