segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

Património da Cidade - Costa Pereira


Por: Costa Pereira   Portugal, minha terra.
 
No passado dia 12, fui ao Coliseu dos Receios assistir à “Festa de Natal, EDP”. , graças a um convite que pessoa amiga me ofereceu. Festa animada pela Companhia Internacional de Circo que de 05 a 27 de Dezembro ali se vai manter. Gostei, pois já ali não entrava há muitos anos.

A ultima vez foi como ilusionista num espectáculo organizado pelos Clube dos Sargentos da Armada. Hoje arredado da vida artística, nem por isso é menos consolador rever salas onde actuarmos, nesta agora com mais penhor dado calhar de ter ficado junto ao palco que já pisei. Desta sala que é orgulho da cidade de Lisboa, a sua origem remonta aos finais do século XIX e assim referenciada: “No dia 14 de Agosto Ade 1890 é inaugurada uma grande sala de espectáculos, o novo Coliseu dos Recreios. Vicissitudes várias levaram ao desaparecimento de outras casas lúdicas, sendo então urgente a construção deste novo espaço, erigido de raiz na Rua das Portas de Santo Antão e aberto ao público ainda longe das obras terminadas”. Importante não só pelo serviço prestada à cultura nas mais diversas modalidades , mas também como imóvel original que é, e portanto  uma peça destacada do património da cidade. Avaliar por o que desta sala reza a história: “o Coliseu dos Recreios foi inovador na introdução da arquitectura do ferro, ainda insipiente em Portugal, através da espectacular cúpula em ferro, com 25 metros de raio, vinda da Alemanha, encomenda feita à firma Hein Lehmann e C.ª. O telhado, também em ferro foi instalado em 1889, da responsabilidade do engenheiro Lacombe. O traço da obra deveu-se aos engenheiros Goulard, pai e filho e ao português Manuel Garcia Júnior; a construção metálica coube a Castanheira das Neves e a decoração ao pintor António Machado. Do arquitecto Cesare Ianz é o projecto da fachada do edifício, última parte concluída, de três pisos, com motivos decorativos em reboco e algumas carrancas, que lhe conferem e aumentam a grandiosidade”.

Não importa quando, mas a certa altura, esta sala entrou na posse da família Covões, e sob direcção dessa família se mantêm hoje, conservando e honrando o nome de Ricardo Covões. Deste diz o seu herdeiro Álvaro Covões : “ foi deputado à primeira Assembleia da República. Nós até temos um salvo-conduto assinado por um ministro da Primeira República, no dia 5 de Outubro de 1910, a requisitar um automóvel para ele. Foi também co-autor da lei das oito horas de trabalho, da Primeira República. Sei que chegou a explorar o Teatro de São Carlos, porque não havia dinheiro e, na bancarrota, optou-se por fazer aquilo que é correcto: tratar dos bens essenciais e prescindir de outros. Depois acaba por entrar no Coliseu, comprando grande parte das quotas“. – Mais uma prova de que os bons negócios se fazem através do escadório partidário….Como quer que seja foi pela mão desta família que o Coliseu dos Recreios mais se assumiu como sala de espectáculos popular, estabelecendo preços baixos e apresentando espectáculos de diversos tipos, entre os quais a opera.

Dos muitos que ali assisti recordo o Circo de Moscovo que creio foi em 1971. Deu furor já que todos queriam ver os comunistas. Fui um desses espectadores, e como em entrevista, diz Álvaro Covões, também eu tive oportunidade de ver como “viviam os artistas de Leste, dos países comunistas”. E adianta mais “não tinham liberdade nenhuma, nem tinham dinheiro, só andavam com moedas, não podiam sair sozinhos, só em grupo, eram maltratados , enfim uma escravidão.

E acrescenta: “ numa fase em que havia uma mentalização pró-comunista na sociedade portuguesa, imediatamente fui para o outro lado, porque aquilo não fazia sentido. Mas só porque conhecia uma verdade que toda a gente desconhecia”. - Também conheci essa verdade, porque nessa altura fazendo parte da Secção de Ilusionismo dos Joses de Portugal, era costume nosso, sempre que um ilusionista estrangeiro ou de fora de Lisboa viesse a cidade, ser convidado a visitar a nossa associação. Assim aconteceu, com o ilusionista desse circo, mas o trabalho que deu para se conseguir arrancá-lo do cerco…. Mesmo assim, atrás dele vieram mais uns tantos que não eram mágicos….


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