06/12/2015
É triste dar esta notícia ao
Partido Comunista, mas Lenine passou a vida a desaprovar o que ele está a fazer
agora. Claro que o Partido Comunista já não sabe quem foi Lenine e naturalmente
não leu uma palavra dele. De qualquer maneira, não deve ser agradável descobrir
que o homem, com a sua proverbial delicadeza, achava que alianças como as de
agora com o PS eram puro “cretinismo parlamentar”. Claro que Estaline e alguns
sucessores o permitiram meia dúzia de vezes (e tarde de mais), com o fim
altruísta de fortalecer a posição interna da URSS, coisa que, infelizmente, não
se aplica ao Portugal de 2015. Só que nenhuma autoridade se atreveu a abolir o
princípio, e Jerónimo de Sousa deve olhar hoje com melancolia para as bancadas
da extrema-esquerda cheias dos seus queridos cretinos votando no PS.
Entretanto, os portugueses que não
pertencem à seita ficaram na simpática situação de não saber quem os governa. O
dr. António Costa não, porque depende do PC, e o PC também não, porque é uma
organização semi-secreta. Ninguém conhece o nome ou viu a cara dos membros da
Comissão Central ou do Secretariado. Ninguém tem a mais remota ideia sobre as
finanças do partido, sobre quem verdadeiramente manda lá dentro ou sobre o que
ele quer e para onde vai. E menos se ainda vive em 1952 ou 1989 ou se, por
acaso, conseguiu com esforço descobrir que está noutro século e noutro mundo,
facto que o deixará maravilhado. Mesmo quando se chocalha, o PC não dá sinais
de agitação. Continua quieto e calado, sem mostrar vestígio de uma ideia ou de
uma simples comoção.
Deus, se puder, lhe perdoará. Mas
sucede que, neste momento, e esperemos que por pouco tempo, nós somos
governados por uns senhores sem cara, que decidem o que lhes convém à nossa
revelia, por razões que não nos comunicam. Ora, por enquanto, nós não somos
mujiques da Grande Rússia, nem o Exército Vermelho resolveu acampar no Terreiro
do Paço. O dr. António Costa, que usa o título de primeiro-ministro, tinha a
obrigação de informar o público sobre o que anda ou não anda a negociar (não é
ele um homem de negócios?) com o PCP. A maioria dos portugueses com certeza que
se interessa pela conversa e, por uma vez, Costa cumpriria as regras de um
velho e desusado regime que se chama democracia. Mas Costa adoptou os costumes
dos seus presentes patrões e não abre a boca. “Cretinismo parlamentar”, mas
muito útil.
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