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Sócrates é o político mais visado em
escândalos em 40 anos de democracia - estudo
Coimbra, 23 dez (Lusa) - Em 40 anos de
democracia, o antigo primeiro-ministro José Sócrates é o político mais visado
em escândalos políticos na comunicação social, tanto em frequência de peças,
como em número de casos, conclui uma tese de doutoramento da Universidade de
Coimbra.
A tese, intitulada "A mediatização do
escândalo político em Portugal no período democrático", analisou o período
de 25 de abril de 1974 a 25 de abril de 2014 a partir da cobertura de
semanários de referência, além de ter identificado 99 casos de escândalo
político e 126 protagonistas a partir da pesquisa e análise de 4.739 peças do
“Expresso”, “O Jornal”, “O Independente” e “Sol”.
José Sócrates é o protagonista "mais
visado", disse à agência Lusa o autor da tese, Bruno Paixão, sublinhando
que para este estudo, cuja análise terminou a 25 de abril de 2014, não foram
abordados outros casos mediáticos, como a Tecnoforma, que visa Passos Coelho, a
Operação Marquês (José Sócrates) ou os vistos Gold (Miguel Macedo).
Com maior número de peças, está Sócrates,
seguido de Armando Vara (PS), Isaltino Morais (PSD), Leonor Beleza (PSD),
Carlos Melancia (PS), Paulo Portas (CDS), Paulo Pedroso (PS), Costa Freire
(PSD), Fátima Felgueiras (PS) e Duarte Lima (PSD).
No número de casos, volta a aparecer
Sócrates, com nove casos, seguido de Armando Vara e Mário Lino (PS), com cinco
casos, Paulo Portas, Duarte Lima, Paulo Penedos (PS) e Nobre Guedes (CDS), com
quatro, e depois Miguel Relvas (PSD), Rui Pedro Soares (PS), Abel Pinheiro
(CDS), Cavaco Silva (PSD) e Mário Soares (PS), com três.
"Os ataques à justiça e aos ‘media’
não devem ser desvalorizados. [José Sócrates] tanto tem amigos para a vida como
inimigos para a vida e isso é percetível na forma como é tratado",
apontou.
O investigador frisou que num inquérito
‘online’ que realizou para a tese três semanas após a detenção de Sócrates, ao
qual responderam 1.436 pessoas, apenas 04% dos inquiridos afirmaram achar que
este estaria inocente.
O sistema judicial, "ao deixar que
saiam informações em segredo de justiça para as páginas de jornais, permite que
sejam feitos julgamentos mediáticos, independentemente do desfecho" em
tribunal, sublinhou.
"O maior desafio", na sua
perspetiva, centra-se na necessidade de se debater a forma como é fornecida
informação por parte da justiça e os critérios utilizados para que esta seja
transmitida. "Terá de se pensar no segredo de justiça e tomar importantes
decisões: ou se mantém e se pune quem o prevarica ou então abre-se o segredo de
justiça".
Segundo Bruno Paixão, o escândalo político
tem aumentado de década para década, sendo que de 2004 a 2014 verificou-se a
maior fatia de peças sobre escândalos políticos (57,9%), mas esta percentagem
distancia-se do número de casos ocorridos (43,4%). "Os ‘media’
hiperbolizam os casos", conclui o estudo.
Na investigação de Bruno Paixão, em 99
escândalos identificados 67 estão relacionados com poder (com mais de metade
sobre atos que visam o proveito próprio do político), 21 do foro financeiro
(fuga ao fisco e interesses financeiros privados não declarados), dez de
conduta e um de natureza sexual (Casa Pia).
A tese foi realizada na Faculdade de
Letras da Universidade de Coimbra.
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