António
Costa caracterizou-se em todo o processo que o levou ao cargo que a partir de
hoje ocupa (desde a “disputa” da liderança do partido a António José Seguro) em
duas vertentes. Em primeiro lugar pela sua manha e pela brutalidade que uma
grande maioria dos portugueses detesta; em segundo lugar assentou a sua
“governação” num frágil entendimento à esquerda (com a assinatura daquela
papelada), com o único objectivo de sobrevivência politica por ter perdido as
eleições.
E, com este
percurso pretende um putativo equilíbrio das finanças públicas, da economia e da
sociedade fragilizada pela corrupção de décadas, principalmente ao nível do
Estado.
O seu
percurso de conquista de poder não augura nada de bom. E o seu fim político,
reafirmamo-lo, não deverá ser glorioso. Por várias razões. Por muito que uma
determinada “elite” tente “tapar o sol com a peneira”, afirmando e reafirmando
aos quatro ventos que esta governação é legitima, nós insistimos no contrário.
A forma como este “governo” chegou ao poder só não fere a sensibilidade dessa
“elite” que, diga-se em boa verdade, tem sido a principal causadora do atraso
do país (contribuindo para a corrupção estatal). E é por essa razão que o país
(ressalvando as devidas excepções), nunca teve uma verdadeira elite,
fundamental para o correcto desenvolvimento do país. Mas a este assunto
voltaremos brevemente.
Mas fere a
sensibilidade dos homens cultos (e mulheres, claro está). Daqueles (as) que leram os clássicos, os entenderam e os entendem.
Maquiavel aprovaria, sem demoras, esta tomada de poder por parte do PS. Mas
Sófocles, Eurípides, Ésquilo, Cícero, Marco Aurélio e tantos outros ficariam
assombrados! E prefeririam morrer criticando-a, a ser governados por essa gente.
Para eles, esta tomada de poder seria a maior golpada parlamentar que os seus
olhos teriam visto. Fundamentalmente porque não ligava com a ética republicana
e democrata que tanto defenderam nos seus escritos. Além de filósofos, foram escritores,
políticos (alguns estadistas) e iniciados nos mistérios (Órficos, Samotrácia e Elêusis, por exemplo) .
E, de
facto, assim foi. Essa “elite” para desculpabilizar a golpada (que o PS já por
duas vezes tentou. Em 1987 não conseguiu, mas foi poder em 2005 quando nos
levou à bancarrota) comparou Portugal a meia dúzia de casos da Europa. Como se
Portugal fosse a Dinamarca, a Suécia ou a Noruega! Em primeiro lugar, esses
países são ricos, podendo dar-se ao luxo de jogos parlamentares; em segundo
lugar, alguns desses países assentam o regime político em monarquias constitucionais;
em terceiro lugar quando o partido vencedor não governa, faz-se uma verdadeira
coligação entre os partidos perdedores, cujo governo daí resultante inclui
elementos desses partidos (e não apenas de um); em quarto lugar só podem
pertencer a esse governo perdedor partidos que obtenham uma percentagem
superior a 18%; em quinto lugar, quando se inicia a campanha eleitoral, os
eleitores estão devidamente informados que o futuro governo pode surgir de uma
coligação de derrotados. Nada disto se verificou no caso português. E porque
Portugal é diferente, não se pode comparar o que não é comparável, nem se pode
impor a um país pobre (que em 40 anos já foi por três vezes intervencionado
pelo FMI) um regime de um país rico.
Mas há
muito mais sobre a ilegitimidade da “governação” de Costa. A tradição
portuguesa nunca apontou para esta solução, e quando empurraram Costa para este
caminho reafirmaram que seria o futuro candidato a primeiro-ministro. Muito
mais haverá que dizer sobre a atitude primária de as esquerdas se juntarem
apenas para derrubar a direita. Este tema ainda não é oportuno.
Este
“governo”, sendo legal, está ferido por falta de legitimidade. E Costa ocupa um cargo que
não conquistou por mérito próprio (nas urnas), mas por golpada parlamentar.
Quem
injustamente foi arredado do poder conquistado com mérito próprio que preste
bem atenção. Costa sabe bem que governa ilegitimamente, bem como os que o
apoiam. E sabem todos que aquelas promessas (para agradar a Jerónimo, à dona
Catarina e à dona Apolónia) não são para cumprir, dado o estado frágil do país
(embora quem ganhou eleições, não governe mas nos tenha tirado da bancarrota).
Mas vão apostar na manha (de Costa). Tirar umas coisas daqui e pôr ali é fácil,
como é fácil mascarar os números aproveitando-se da almofada financeira deixada
pela coligação de direita (como eles gostam de dizer).
O que vai
fazer Costa e os que o empurram (a tal “elite”)? Nestes próximos meses (talvez
quatro) vão gastar a rodos nas pensões e nos vencimentos dos funcionários. E se
a Europa deixar é um “ver se te avias”! Claro que o aumento das pensões é
ridícula, mas a reposição dos vencimentos dos funcionários (do Estado) é
considerável. Se entretanto o próximo Presidente da República não convocar
eleições antecipadas até Junho próximo, eles próprios (Costa e companhia) as provocarão sete ou oito meses depois. Porque contam com os votos dos funcionários
para uma maioria.
O pior é que se a oposição não fizer oposição a sério,
devidamente estruturada e informada (coisa que não fez enquanto governo), esta
gente vai conseguir o que pensa, mas a seguir o povo (e o país) vai passar três
vezes pior do que o que passou no tempo de José Sócrates, onde tudo isto
começou.
Armando Palavras
Post-scriptum
O jornal Económico de
hoje aponta para um prejuízo do país em Outubro na ordem dos 1700 milhões. O
défice de 2,7% apontado pelo governo anterior não será cumprido, como os 3%
apontados por Bruxelas. Começou o prejuízo do país. Dirão os manhosos que a culpa
é da Coligação de direita (como gostam de dizer). Não é. É deles, manhosos,
porque por sobrevivência politica se não importaram com o destino do país. A
História o dirá, mas não nos livraremos de uma nova vaga de sacrifícios.
Preparem-se, porque começou o Inferno!
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