sábado, 28 de novembro de 2015

A Geringonça Politica


Barroso da Fonte
Possivelmente já Platão conhecia este aforismo quando escreveu a República. Passados dois mil e quatrocentos anos, há muitos políticos de capoeira que não conhecem o livro, nem o seu autor.  Talvez fosse bom criar um curso superior de oratória científica, (não demagógica) para que os políticos (de direita, de centro ou de esquerda), não sejam recrutados nas universidades do verão, entre os coladores de cartazes ou nas praxes académicas, onde o cheiro a vinho e quejandos tresanda. Alguns nunca vestiram um fato, nunca usaram gravata, nada sabem de protocolo e desconhecem as hierarquias ou precedências. No rodopio  dos que saíram e dos que entraram na tarde do 26 de Novembro, na «geringonça» governativa, qualquer telespetador se apercebeu da estreiteza cívica de gente mediatizada nas tabletes, telemóveis da última geração ou ao volante dos porches mais potentes. Quem acompanha, pela televisão, esses tiques, trejeitos ou hábitos grotescos, mesmo que toleráveis na informalidade do dia a dia, fica com essa amalgama na retina para toda a vida. Desta vez deu mais nas vistas porque foi uma espécie de excrescência democrática. Uma passarelle para cada um dos 58 que entraram e alguns dos que saíram. Um desfile de vaidades incontroladas e ansiosas por chegarem ao ar condicionado dos gabinetes do poder alheio, subtraído na noite de 4 de Outubro, à socapa do povo que os derrotou. Só desta forma chegaram, onde nunca estariam, se a esquerda  radical não abdicasse da sua ideologia. Foi algazarra a mais para mérito a menos. A teatrada a que o país assistiu com a mudança de governos, com o passo trocado e em sentidos opostos, vai ficar na história da democracia portuguesa, muito desfasada daquela que Platão previu na sua República e que Aristóteles consignou na Politeia. Vão ter muito que treinar como Demóstenes treinou a sua gaguês, com seixos na boca, para chegar ao melhor orador do seu tempo.
A Politeia e a República desses vultos atenienses foram deturpadas, antes e durante, essa teatrada a que o país assistiu, na tarde imediata ao histórico 25 de Novembro. Foram precisas quatro forças políticas, renegando os seus princípios básicos para trocar o passo, como quem diz, passar uma rasteira, à legitimidade, para chegar ao poder. Nunca se vira. E o Povo não perdoará, num próximo ato eleitoral, que quatro forças partidárias, esfaimadas, disfarçadas de cordeiros mansos, com roupagens de anjo, mas agindo como diabos, troquem o seu ideário, por um prato de lentilhas. Não mais deverão, esses políticos que destronaram o governo legítimo, propalar que o voto é a arma do Povo. Os quatro partidos que hipotecaram os seus ideários para derrubarem o governo legítimo, disseram uns dos outros que eram «farinha do mesmo saco». Só depois de todos saírem derrotados, esqueceram os insultos e, da noite para o dia, gizaram um casamento de conveniência, para que António Costa chegasse, pela porta do cavalo, ao cargo que por mérito popular, nunca teria. Tudo seria diferente se ele, previamente, tivesse anunciado esse truque, esclarecendo o eleitorado  que faria coligação com a esquerda radical, se não ganhasse as eleições. Mas nem uma palavra disse.
 Pode António Costa salvar-se desta acusação se conseguir, apesar da derrota vergonhosa que o povo lhe deu, pela traição que fez ao camarada António José Seguro, exigir dos partidos da esquerda que cumpram as promessas que viabilizaram a ascensão a primeiro ministro. Porque a direita não perdoará a traição de que foi vítima.
A direita deve pensar mais no país do que nos partidos. Fazendo uso da abstenção e não do voto contra, sobretudo em matérias essenciais. Deve ser diferente da esquerda. Porque sempre a direita salvou a honra do convento, debaixo da contestação da esquerda que fala em «patriotismo» mas proclama «o não pagamos». Bastou ouvir os debates dos dois dias seguintes nas televisões. Os quatro juntos abafam os dois da direita. Andam aos abraços, aos beijinhos, às subserviências de uns aos outros. A algazarra, o tom de voz, os elogios hipócritas que substituíram as acusações descabeladas. A orquestração desrespeitosa ao chefe de estado, a linguagem imprópria dos representantes do povo,a inversão dos valores essenciais à democracia, tudo isso entrou no desvario da arruaça, só porque o PR promete exercer os seus direitos constitucionais.
O PR tem o direito e o dever de zelar pelo rigor de um acordo que nunca foi mostrado, a quatro. Sempre dois a dois. E já há provas. O Parlamento, em horas, desfez o que havia sido aprovado em relação aos gays, às lésbicas, à adoção,  às taxas relacionadas com o aborto. Costa já veio protelar regalias que prometeu ao funcionalismo. E o mais que se verá.

A terminar dois reparos a António Costa. O primeiro tem a ver com o maior número de ministros e de secretários de estado. Só nesse diferencial de governantes há muitos milhões em vencimentos, mordomias, assessores, viaturas e exigências administrativas. O segundo tem a ver com o desprezo pelos Transmontanos, em especial, do distrito de Vila Real, ao não chamar para o numeroso executivo qualquer governante. É a primeira vez que tal acontece.  Porque será?

                                                                                                 Barroso da Fonte

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