Barroso da Fonte |
Confesso que não conheço pessoalmente o
Presidente da Câmara do Porto, mas tenho vindo a apreciar a sua postura política
e social. Contudo, quando alguém menoriza a minha Terra, neste caso
Trás-os-Montes, tem-me à perna, porque, seja lá quem for, Trás-os-Montes e os
Transmontanos, não recebem lições de ninguém, a não ser dos professores quando
ensinam e dos técnicos enquanto formadores. Sempre Trás-os-Montes e os
Transmontanos foram vítimas do centralismo. E, já é tempo de esquecer a
linguagem que prevaleceu durante séculos, usada pelos tempos fora, contra os os
«tais parolos», que, à falta de argumentos, nos chamam, ainda que
disfarçadamente.
Aquilo que Rui Moreira disse dos
Nortenhos na reunião de Câmara, provocou um mal-estar que Barcelos e Vinhais já
reprovaram e que eu próprio, enquanto Transmontano, enquanto ex-autarca
promotor da Zona Turística de Guimarães
e enquanto sócio fundador nº 1, da Casa
Regional dos Transmontanos e Alto Douro do Porto, não posso silenciar. O povo
diz que «quem cala consente». E que «quem não se sente não é filho de boa
gente».
O autarca de Barcelos disse (e eu
próprio corroboro) que «pior do que o centralismo de Lisboa, é o centralismo do
Porto». Quando se batizou a Invicta como «capital do norte», com
Barcelos, Braga, Guimarães e toda a Província de Trás-os-Montes e Alto Douro»
justificavam esse pomposo nome. Senão fosse este norte real, o Porto, só por
si, não poderia ser capital de si própria, como cidade.
Desde que Portugal nasceu no Portuscale,
teve necessidade de agasalhar-se contra o inimigo que chegava pelo mar e pela
foz do Rio Douro, transferindo o burgo para Guimarães. Foi Mumadona Dias. Daqui
apenas saiu para Coimbra, em 1131. O Vinho do Porto dá nome ao produto das vinhas das margens do Douro que é mais
Transmontano do que portuense. São meros exemplos de como o Porto, para ser a
grande cidade que é, sempre prosperou à custa do Minho e de Trás-os-Montes.
Chamar «bucólicos» ao Galo de Barcelos e ao Fumeiro de Barroso, de Vinhais, de
Mirandela, de Boticas ou de Chaves, no sentido depreciativo, é uma infâmia para
quem aqui nasce, daqui não sai ou, se sai, aqui volta, sempre, com a mesma fé,
o mesmo respeito e o mesmo amor cívico pelo chão que embalou tantos e tão
honrados filhos.
Permitir que um qualquer
político, técnico ou burocrata, nascido ou bem reconfortado urbanista, parasite
do espaço geográfico e do labor de milhares de cidadãos que honestamente
trabalham o pão, o «fumeiro» e tudo
aquilo que daqui sai para abastecer quem vive na cidade que tão mal agradece, é
uma ofensa à dignidade de gerações que sempre foram tratadas como escravas.
O Dr. Rui Moreira - que repito,considero como homem de estatura
cívica, cultural e política - foi infeliz. Os Transmontanos e os Minhotos não
merecem que os trate, depreciativamente, como bucólicos, nem mercadejares de
fumeiro. Além deste produto que é genuíno, é excelso e é sedutor, os transmontanos
trabalham, nas suas terras e com o suor do seu rosto: o presunto, a batata, todo o tipo de legumes, a castanha,
a maçã, a cereja, a pera, o centeio, o azeite e o vinho mais famoso da
Lusofonia: o moscatel de Favaios, o vinho dos mortos de Boticas e o néctar do
Douro, reforçam mundialmente, alma do Porto. Bastaria esta dádiva Duriense que
é o Vinho do Porto para que nunca mais, seja quem for e onde for, erga voz, o
gesto e a ideia de minimizar Trás-os-Montes e os Transmontanos. Do mesmo modo, os
Minhotos. Nunca se esqueçam de que, em
868 nasceu o primeiro Condado Portucalense que durou até 1071; que foi
restaurado em 1096 e que, apenas se desconfigurou para melhor, na batalha de S.
Mamede, em 24 de Junho de 1128, em Guimarães. Esse condado estendia-se, apenas,
entre os Rios Minho e Douro. Trás-os-Montes já tinha soldados, já tinha chão e
sortilégios (talvez o fumeiro) de que o Porto, para manter sempre viva a sua
História, sempre precisou. Não foi D. Pedro de Pitões, nascido nesta aldeia
Barrosã, aí formado, no Mosteiro de Santa Maria de Pitões, ainda visível, mais
tarde nomeado Bispo do Porto que convenceu os cruzados a participarem na
conquista de Lisboa e os acompanhou na luta contra os sarracenos? Como se pode constatar desde os primórdios da
nacionalidade os Transmontanos não eram parolos, nem bucólicos. Talvez fosse o
Porto a crescer à sombra dessa nobre e sofredora gente que hoje não aceita
lições de quem vive no «véu de ignorância» de que fez teoria de Justiça John Rawls.
Barroso
da Fonte
Um Galo desafinado?
ResponderEliminarÉ uma tristeza infinda ouvir a primeira pessoa responsável do Município do Porto, Rui Moreira, dizer mal ou menorizar símbolos e produtos do Minho e Trás-os-Montes e Alto Douro. Só lhe falta falar mal do generoso néctar das videiras de socalcos, que, ao cabo e ao resto, é sol e suor engarrafado das gentes durienses.
Apesar de viver em Braga, visito mais a capital do que a tripeira cidade.
Esse senhor esquece-se quem tem dado força ao Porto são as gentes minhotas, trasmontanas, durienses e beirãs.
Por isso devia formar-se uma CCRNorte e uma CCRPorto.
De certeza que o edil nem sabe que a primeira grande estrutura rodoviária do Porto, a Circunvalação, e o primeiro combate às enquistadas «ilhas tripeiras» foi um trasmontano, da minha aldeia. E veja lá!... Ministro da Ditadura era mais democrata que os democratas de caviar tripeiros. Via Portugal como um todo, sem portugueses de primeira e de segunda.
Faça um muro em volta do seu burgo que nós viveremos bem sem lá entrar, pelo menos sem gente que parece minguar-lhe o bom-senso.
Jorge (J) Lage