Barroso da Fonte |
António Costa anda desesperado,
desde que perdeu as eleições. São os remorsos da patifaria que fez a António
José Seguro. Se este ganhou por «poucochinho», aquele perdeu, como o PS nunca
tinha perdido. Seguro, teria, obviamente muito melhores resultados e teria
poupado uma das mais humilhantes crises que o PS enfrentou, colocando o país na rota de um novo PREC. Perdeu
por três deputados em relação ao PSD, o que pouca gente pensaria, um mês antes
de 4 de Outubro. Depois de quatro anos de governo da Coligação, a pôr ordem no
caos em que Costa e alguns dos seus camaradas o colocaram, depois dos quatro
anos de descontentamento generalizado contra quem, com medidas extremas, o
normalizou, qualquer líder partidário tinha obrigação de ganhar as eleições.
Mesmo que fosse pelo «poucochinho» que ele invocou para correr com Seguro. Só
na noite da derrota se lembrou de que, talvez pudesse chegar pela via
revolucionária, ao cargo que sempre ambicionou, mas que por via clara,
transparente e democrática, não foi capaz. Sinal de que não é o primeiro
ministro de que o País precisa. Em política não vale tudo. Os cargos
conquistam-se com trabalho, com seriedade, com humanidade, com justiça e com
simpatia. Ao vir acusar o PR com três adjetivos graves contra o mais alto
magistrado da Nação que, neste caso concreto, se limitou a cumprir aquilo que a
Constituição impõe, que a tradição recomenda e que os resultados exigem, Cavaco
fez aquilo que se esperava. Não teve António Costa moral para aceitar a regra
que se utilizou ao longo de 40 anos e que vigora em todos os atos democráticos
do mundo onde a democracia se pratica. A força que tem mais votos e mais
deputados é aquela que ganha a competição para a qual se concorre. Ora não foi
Costa mas Passos que, surpreendentemente, teve mais votos, mais deputados e
total direito para formar governo. Não seria isso o que Costa exigiria se o PS
tivesse ganho, mesmo que fosse por «poucochinho»? Costa teve à sua mercê,
durante muitos meses, todos os canais televisivos, os jornais, as rádios e os
comícios para explicar isso aos eleitores. Se tivesse afirmado, alto e bom som,
que não viabilizaria qualquer governo à direita, mas que formaria governo com a
esquerda, talvez o PR não hesitasse em designá-lo chefe do governo saído dessa
eleição de 4 de Outubro.
Rejeitar liminarmente qualquer
acordo com a direita e exigir que o PR o nomeasse primeiro ministro, sem que
essa esquerda, à data do anúncio presidencial, ainda não tivesse passado ao
papel qualquer acordo, seria leviandade excessiva para assunto tão sério.
Noutros tempos a palavra valia mais do que as escrituras. Hoje, a
palavra nada vale e as escrituras são, muitas vezes, viciadas, forjadas, falsificadas. António Costa que já
foi ministro da Justiça deve saber mais disso. Mas faz de conta que não sabe. E
fala, arrogantemente, como se tivesse o rei na barriga. Para explicar esta
subversão de valores, basta aquele «aforismo» do ex-presidente do Vitória de
Guimarães quando afirmou que «o que hoje é verdade, amanhã pode ser mentira». Costa
leva tudo à sua frente como máquina escavadora. Bruscamente «inventou» a
«pólvora»: Lembrou-se do PREC de 1975 e deixou-se seduzir pelas «sereias
gregas». Aceitou devolver tudo o que o governo anterior poupou; anular
contrato, fixar em 600 euros o salário mínimo. Contra a austeridade, toca a esbanjar
o que o governo da direita economizou. «Não pagamos» vai ser refrão social.
Viva a democracia revolucionária! Isto é: aquilo que ao longo de 40 anos dividiu
os partidos, em «arranjinhos» de quem nunca chegaria ao poder pela via da
legalidade democrática, cozinha-se num governo que sirva todos aqueles que
«dividem para reinar». Pobre democracia...
Barroso
da Fonte
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