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Barroso da Fonte |
Nasceu em Murça, em 1928. Foi
seminarista e saiu do seminário «convencido de que ia para o inferno». A revista Tabu, encarte do Jornal Sol, de 15
de Junho, distingue dois Transmontanos: António Borges Coelho, historiador e
Durão Barroso. Veiga de Lila e Murça. Distam a uma dúzia de quilómetros. Durão
Barroso desorientou-se com a revolução de Abril. Militou ativamente no MRPP,
como muitos outros que cedo se
arrependeram. Oriundo de Família de Valpaços,
fez carreira no PSD. E, por mais que a esquerda o conteste, foi o único
Presidente da Comissão Europeia que fez dois mandatos, com o agrado da maioria
que o distinguiu em várias ocasiões. António Borges Coelho foi entrevistado por
César Avó e deslumbra quem gosta de conhecer as ideias dos seus heróis. Esta entrevista
é um céu aberto, mesmo para quem não é crente, como ele se declara. «Cheguei a
ser expulso do seminário, quase com dificuldade em falar com as pessoas. Foi
através de um pedreiro que li o Manifesto Comunista, numa tradução espanhola».
Diz que foi um amigo, colega de ano e de curso que o introduziu no MUD Juvenil
e o matriculou no curso de Histórico-Filosóficas. Foi 6 meses funcionário do
Partido Comunista. A mãe fora lojista e o pai guarda-fios. Quando os pais foram
viver para Lisboa, entre o Cemitério do Alto de S. João e a Graça, ele já lá
vivera 2 dois anos. A mudança não vingou e regressaram a Murça. O meu pai já
tinha trabalhado na construção das linhas de Aveiro «e o meu irmão mais velho
foi gerado nessa linha». Minha mãe era muito católica apostólica romana. Só no
fim da vida é que ficou cheia de dúvidas. A mitologia das religiões
intelectualmente não me diz nada. Em relação ao destino do homem, tenho a noção
clara de que somos bocadinhos de nada no universo». No meu tempo houve uma
segunda Nossa Senhora de Fátima em Trás-os-Montes. Não eram três pastorinhos,
mas uma pessoa que tinha as chagas de Cristo. Um dia juntaram-se 50 mil pessoas
e viram o sol a mudar de cor. Só que era gente a mais, uma concorrência muito
grande para Fátima, explica Borges Coelho que remata: «E a senhora veio para a
penitenciária de Coimbra. Esteve lá uma semana e continuou com as chagas.
Proibiram as freiras de visitá-la; não
chegou o nitrato de prata e as chagas acabaram. O padre e o médico seu irmão
estavam na base de tudo isso». Borges Coelho afirma que esteve dois anos com
Cunhal em Peniche. «Fui preso em Janeiro de 1956 e estive meio ano no Aljube.
Depois fui para Caxias e dali para o Porto. O processo demorou cerca de 7
meses, com sessões de manhã, à tarde e à noite, com 52 réus jovens e dois
adultos: Óscar Lopes e um advogado. Fui condenado a dois anos e nove meses. Com
Cunhal tinha uma linguagem própria: determinadas palavras não eram as
autênticas». Questionado sobre como foi quando saiu da prisão diz nessa entrevista
que teve à volta de 30 empregos. O essencial foi tradutor e explicador de
História e de Filosofia. Foi também fundador de «A Capital». Mas ao cabo de 2
anos saiu desse Jornal: «eu estava em liberdade condicional e queriam que eu
fosse para a Rodésia cobrir a guerra colonial; recusei. Depois mandaram-me a
Peniche cobrir uma visita do Américo Tomás. Quando cheguei à redação anunciei
que me ia embora». Eu fui sempre muito individualista. Se for ver as minhas
referências vai ver que me põem sempre como marxista e nem sequer sabem o que
li. A História não se faz através da ideologia, mas a partir dos factos. A
Caminho acaba de publicar Os Filipes V volume da sua História de Portugal deste
Historiador de Murça que jubilou do ensino.
Nunca falei pessoalmente com este
notável Historiador Profissional. Mas li e reli os 4 anteriores seus volumes da
História de Portugal. Como gosto muito
de Murça e dos seus «Amigos» e como
colega de ano do seu Irmão mais
novo, o Maestro José Luís Borges Coelho, habituei-me a ler e a valorizar a sua obra. Ainda agora pude reler no II Vol.
Portugal Medievo que «no mês de Junho, na festa de S. João Baptista se travou a
batalha de S. Mamede, próximo do castelo de Guimarães: obteve assim o principado
e a monarquia do Reino de Portugal». Oportuno e lapidar axioma que deveria impor o 24 de Junho como dia de
Portugal. Só Guimarães o celebra como feriado municipal. E tudo por falta de
respeito histórico e prevalência da baixa política sobre a evidência
historiográfica. António Borges Coelho é um Transmontano a perpetuar, dentro e
fora de Murça.
Barroso da Fonte
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