segunda-feira, 27 de julho de 2015

BORGES COELHO e a sua visão sobre a História



Barroso da Fonte
Nasceu em Murça, em 1928. Foi seminarista e saiu do seminário «convencido de que ia para o inferno».  A revista Tabu, encarte do Jornal Sol, de 15 de Junho, distingue dois Transmontanos: António Borges Coelho, historiador e Durão Barroso. Veiga de Lila e Murça. Distam a uma dúzia de quilómetros. Durão Barroso desorientou-se com a revolução de Abril. Militou ativamente no MRPP, como muitos outros que  cedo se arrependeram. Oriundo de Família de Valpaços,  fez carreira no PSD. E, por mais que a esquerda o conteste, foi o único Presidente da Comissão Europeia que fez dois mandatos, com o agrado da maioria que o distinguiu em várias ocasiões. António Borges Coelho foi entrevistado por César Avó e deslumbra quem gosta de conhecer as ideias dos seus heróis. Esta entrevista é um céu aberto, mesmo para quem não é crente, como ele se declara. «Cheguei a ser expulso do seminário, quase com dificuldade em falar com as pessoas. Foi através de um pedreiro que li o Manifesto Comunista, numa tradução espanhola». Diz que foi um amigo, colega de ano e de curso que o introduziu no MUD Juvenil e o matriculou no curso de Histórico-Filosóficas. Foi 6 meses funcionário do Partido Comunista. A mãe fora lojista e o pai guarda-fios. Quando os pais foram viver para Lisboa, entre o Cemitério do Alto de S. João e a Graça, ele já lá vivera 2 dois anos. A mudança não vingou e regressaram a Murça. O meu pai já tinha trabalhado na construção das linhas de Aveiro «e o meu irmão mais velho foi gerado nessa linha». Minha mãe era muito católica apostólica romana. Só no fim da vida é que ficou cheia de dúvidas. A mitologia das religiões intelectualmente não me diz nada. Em relação ao destino do homem, tenho a noção clara de que somos bocadinhos de nada no universo». No meu tempo houve uma segunda Nossa Senhora de Fátima em Trás-os-Montes. Não eram três pastorinhos, mas uma pessoa que tinha as chagas de Cristo. Um dia juntaram-se 50 mil pessoas e viram o sol a mudar de cor. Só que era gente a mais, uma concorrência muito grande para Fátima, explica Borges Coelho que remata: «E a senhora veio para a penitenciária de Coimbra. Esteve lá uma semana e continuou com as chagas. Proibiram as freiras de visitá-la;  não chegou o nitrato de prata e as chagas acabaram. O padre e o médico seu irmão estavam na base de tudo isso». Borges Coelho afirma que esteve dois anos com Cunhal em Peniche. «Fui preso em Janeiro de 1956 e estive meio ano no Aljube. Depois fui para Caxias e dali para o Porto. O processo demorou cerca de 7 meses, com sessões de manhã, à tarde e à noite, com 52 réus jovens e dois adultos: Óscar Lopes e um advogado. Fui condenado a dois anos e nove meses. Com Cunhal tinha uma linguagem própria: determinadas palavras não eram as autênticas». Questionado sobre como foi quando saiu da prisão diz nessa entrevista que teve à volta de 30 empregos. O essencial foi tradutor e explicador de História e de Filosofia. Foi também fundador de «A Capital». Mas ao cabo de 2 anos saiu desse Jornal: «eu estava em liberdade condicional e queriam que eu fosse para a Rodésia cobrir a guerra colonial; recusei. Depois mandaram-me a Peniche cobrir uma visita do Américo Tomás. Quando cheguei à redação anunciei que me ia embora». Eu fui sempre muito individualista. Se for ver as minhas referências vai ver que me põem sempre como marxista e nem sequer sabem o que li. A História não se faz através da ideologia, mas a partir dos factos. A Caminho acaba de publicar Os Filipes V volume da sua História de Portugal deste Historiador de Murça que jubilou do ensino.
Nunca falei pessoalmente com este notável Historiador Profissional. Mas li e reli os 4 anteriores seus volumes da História de Portugal.  Como gosto muito de Murça e dos seus «Amigos» e como  colega de ano  do seu Irmão mais novo, o Maestro José Luís Borges Coelho, habituei-me a ler e a valorizar  a sua obra. Ainda agora pude reler no II Vol. Portugal Medievo que «no mês de Junho, na festa de S. João Baptista se travou a batalha de S. Mamede, próximo do castelo de Guimarães: obteve assim o principado e a monarquia do Reino de Portugal». Oportuno e lapidar axioma que  deveria impor o 24 de Junho como dia de Portugal. Só Guimarães o celebra como feriado municipal. E tudo por falta de respeito histórico e prevalência da baixa política sobre a evidência historiográfica. António Borges Coelho é um Transmontano a perpetuar, dentro e fora de Murça.

Barroso da Fonte
  

Sem comentários:

Enviar um comentário

Sacramomentos

 Acaba de sair novo livro do escritor transmontano, Flávio Vara. Poesia a sério!