sábado, 30 de maio de 2015

O lugar sagrado dos yazidis


                   O lugar sagrado dos yazidis sobrevive à guerra do “Estado ...


Por um instante, é quase o Oeste Selvagem, tão ampla a paisagem, longa recta, montanha ao fundo. Mas a terra é mais verde, a montanha menos árida, com picos de neve até, e já passámos oliveiras, ninhos de cegonhas, vamos passar uma chama: petróleo. Estamos no Norte do Iraque, numa cristalina tarde de Maio, a caminho do começo do mundo, segundo os yazidis.

O mundo não estava muito informado sobre esse começo, sobre os yazidis em geral, até Agosto passado, quando o “Estado Islâmico” capturou um vale onde os ancestrais dos yazidis já viviam desde muito antes do islão. De súbito, a tragédia saltou para as manchetes: 50 mil yazidis estavam em fuga pelas montanhas, sem água nem comida, encurralados pelo “Estado Islâmico”, que já matara, violara ou sequestrara os que tinham ficado para trás. Um povo que os espectadores internacionais nem sabiam que existia tornou-se assim o símbolo colectivo da crueldade jihadista, na sua expansão imperial. Obama e aliados ordenaram ataques aéreos contra o Califado e largada de alimentos sobre as montanhas. Combatentes curdos da Síria organizaram-se para levar os yazidis através da fronteira, e de novo para o Iraque, em terra mais segura. Mas tudo isto não evitou que, segundo estimativas da ONU, entre 5000 a 7000 yazidis tenham morrido e outros 5000 sido sequestrados, sobretudo mulheres, como escravas domésticas e sexuais, e crianças, como futuros combatentes e bombistas suicidas. Há relatos de adolescentes violadas no início da invasão que conseguiram voltar às famílias e acabaram por se suicidar. Uma mãe contou que duas filhas suas, incapazes de viver com o que lhes acontecera, pediram à família que as matasse; como ninguém o fez, atiraram-se de um penhasco.

 
A região onde o massacre se deu chama-se Sinjar e fica a 175 quilómetros de Lalish, o santuário para onde estamos a ir. Estas duas regiões são os grandes centros yazidis no Iraque. Também há uma presença histórica de yazidis na Arménia, na Geórgia, na Síria, e na Turquia, de onde ao longo das últimas décadas dezenas de milhares emigraram para a Europa, sobretudo para a Alemanha.

Na tradição local, o Sinjar é onde a Arca de Noé pousou, depois do Dilúvio. Na tradição yazidi, Lalish é onde o mundo nasceu. Belo destino para uma tarde de Maio.





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