Vasco Pulido Valente |
Folias do nosso tempo -
Basta ligar a televisão para
se perceber o estado de indigência intelectual e política a que chegou o país.
A informação, que já foi sofrivelmente sensata, embora parcial e sumária, tem
hoje o critério editorial do antigo semanário “O Crime” e da imprensa cor-de-rosa
e desportiva.
Para começar, os portugueses
são presenteados com horas do que antigamente se chamava “casos crapulosos”: a
facada, o tiro, o roubo, a violência doméstica, histórias de tribunal,
considerações de réus, de testemunhas, de advogados, de “populares”, da polícia
e de um ou outro comentador de serviço. Depois do “crapuloso” vem o “acidente”
e a catástrofe: desastres de avião e de automóvel, incêndios, tempestades de
vento ou neve, inundações, tudo o que meta feridos, mortos, miséria e sangue.
Isto ocupa muito mais de
metade do noticiário médio. O resto consiste numa pseudo-reportagem desportiva,
ou seja, no dia-a-dia do futebol. A televisão não perde um jogo ou um golo que
possa interessar a meia dúzia de
fanáticos de um clube qualquer. Segue os treinos. Esclarece sobre o “plantel”
da equipa A ou da equipa B, sobre os lesionados, sobre os castigados, sobre os
“duvidosos”. Entrevista treinadores na véspera e no minuto seguinte aos
“clássicos” e não- “clássicos” do campeonato. Jorge Jesus, por exemplo, é
seguido com uma persistência e um zelo com que não se segue nenhum ministro, o
primeiro-ministro ou Presidente da República (agora tão retirado que o boato da
sua prematura morte já corre pela província). E, através de tudo isto, Ronaldo,
sempre Ronaldo, infinitamente Ronaldo.
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