quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

Também em política o destino escreve direito por linhas tortas




Por Barroso da Fonte

O JN de 19 do corrente noticiou que Jorge Nunes, Ex-Presidente da Câmara de Bragança, venceu a eleição para vogal da Comissão Directiva do Programa Operacional Regional do Norte. O seu opositor era António Magalhães, ex-Presidente da Câmara de Guimarães. Ambos se tinham encontrado na Cidade da Guarda, dia 10 de Junho de 2014, para serem condecorados com a Comenda da Ordem de Mérito. Passados 8 meses, aos seis comendadores autarcas, Cavaco Silva, reforçou a dose com mais 15. Ou ficou com remorsos, ou entendeu que não saldou a gratidão para com quem o recebeu condignamente, em eventuais visitas do chefe de Estado. Sucedeu que dia 18  deste mês, dois desses comendadores foram votados, em oposição, a um cargo importante para o qual se exige um grau de honestidade à prova de bala. A votação decorreu em Stº Tirso. «Participaram 78 representantes de Câmaras das 86 que compõem o Norte. Das 78 que votaram,  39 eram do PSD e 35 do PS. Duas independentes e duas do CDS. A votação foi secreta e Jorge Nunes venceu com 42 votos contra 36 de António Magalhães». Esta explicação foi dada pelo JN que acrescenta: «à saída da reunião, o presidente da Associação Nacional de Municípios, Manuel Machado, disse esperar que não se repita esta situação desagradável, ocorrida com a nomeação anterior em que foi rejeitado o nome de Carlos Duarte». Ao contrário, o eleito Engº Jorge Nunes disse ao JN que foi «apanhado desprevenido com a nomeação». Ao invés António Magalhães não sabendo perder, «lamentou que houvesse quem não era convergente com um conceito partidário». E  para disfarçar o peso da derrota, foi alegando não estar preocupado, pois foi candidato por um convite feito em cima da hora pela federação do PS/Porto».
 Na penúltima semana pude censurar, como jornalista, o PR pela precipitação, oportunismo e  incoerência, ao ter condecorado na sua residência oficial, 15 ex-autarcas, que se limitaram a cumprir (nalguns casos mal) as suas obrigações. No dia seguinte foi confrontado, pela própria imprensa, com o caso de um autarca distinguido, que vira chumbadas as contas em três anos consecutivos, pelo competente Tribunal. Nessa crónica deixei aberta a porta, à disponibilidade de o PR ou o MP me chamarem a   justificar, as denúncias que enunciava. Tive a frontalidade de afirmar que alguns (autarcas) de entre estes ou  aqueloutros que haviam sido condecorados no dia 10 de Junho de 2014, na cidade da Guarda, talvez devessem estar na cela da cadeia de Évora, ao lado da famosa caserna 44.
 Ainda não consegui perceber porque é que os sucessivos chefes de estado têm um fraquinho democrático por aqueles que, se batem, com unhas e dentes, pelo poder local. São mais os que mentem do  que aqueles que cumprem o que prometem. Muitos deles  usam e abusam dos cargos, servindo-se mais do que servem. Analisem-se os sinais exteriores de riqueza. Confrontem-se as declarações que no início dos mandatos eram (?) obrigados a preencher e a enviar para o Tribunal Constitucional para que ao fim dos mandatos, em caso de dúvida, fossem confrontadas com a realidade. Façam-se averiguações para saber quais e quantos os autarcas com pelouros atribuídos que têm filhos, cônjuges, familiares e correlegionários, no desemprego. Que e quantas viaturas tinham antes e têm depois.
Jorge Nunes
 O que também é muito difícil de entender é o critério democrático de condecorar quem se limita a cumprir as obrigações para as quais é eleito e pelas quais é, sobremodo, remunerado, fazendo vista grossa a tantos criadores, artesãos, artistas, operários, empresários, cidadãos em geral que gastam uma vida inteira a cumprir e ninguém os vê, os aprecia e muito menos cumpre a obrigação de os valorizar. Sei do que falo porque também tive essa experiência. Orgulho-me de nunca ter sido derrotado. E de me demarcar, no fim do mandato a que concorri, para não ser convencido a repetir a experiência. Aprendi muito, prezo-me do que fiz, tenho consciência de que não terei feito tudo aquilo que desejava, não por falta de vontade, mas por oposição sistemática contra quem, a seguir, foi poder absoluto, ditatorial e irredutível. Tive o cuidado de guardar provas, consistentes que, desde aí até ao presente, me garantem força moral e inteligência bastante, para denunciar a demagogia, a prepotência, a injustiça, a tirania, a ganância e o medo agressivo mando e comando semearam. Ao ter conhecimento do triunfo democrático da eleição do Engº António Jorge Nunes, autarca impoluto, justo, coerente, sério, humano, tolerante, competente, previdente e incorruptível  para um cargo tão representativo como é o da gestão de verbas públicas, tenho obrigação de, conhecendo as funções e as personalidades, bendizer os eleitores que ditaram o resultado. Quando, por força da lei, este ex-Presidente da Câmara de Bragança teve de abandonar o cargo cujos sortilégios se estampam na cidade e concelho Brigantino, escrevi que ele teria sido o melhor ministro das obras públicas, se um qualquer governo o tivesse convidado. Parabéns aos 78 representantes das Câmaras do Norte do País pela boa escolha que fizeram.  
                                                                                                                              Barroso da Fonte


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