Albufeira de pisões |
Barroso da Fonte |
O primeiro nasce entre as serras
do Larouco e a Mourela e o segundo a uns cinco quilómetros de distância: na
Lama dos Porcos (propriedade colectiva), em Codeçoso que pertenceu à Chã e que
mais tarde passou para a jurisdição administrativa de Meixedo.
Há muita gente, incluindo barrosões que não
sabem destas evidências. Quando a quarta classe valia tanto como algumas das
novas oportunidades era obrigatório conhecer os nomes e a altitude das
principais serras e até os nomes das linhas férreas. Hoje, tempo em que se
fazem teses de doutoramento sobre a região de Barroso e nelas se afirma que «aqui
há oito meses de inverno e quatro de inferno», (quando até os surdos e os
mudos aprendem que em Barroso se vivem 9
meses de inverno e três de inferno), não admira que a crosta de ignorância
venha de cima para baixo.
Orlando Alves |
Gostei que Orlando Alves tivesse afirmado esta
indesmentível verdade. Com uma diferença: a do Alqueva foi construída para
regadio (benefício de poucos) e com o dinheiro de muitos: (dez milhões de
cidadãos). A de Pisões e seus pares do sistema Cávado-Rabagão, foram
construídas com o dinheiro de alguns empresários da época. E se, na do Alqueva
nada lucram os portugueses, a norte do Rio Tejo, com a de Pisões, lucram todos
os Portugueses. Por isso teremos de
continuar a vangloriar-nos de se situar em Barroso a albufeira Portuguesa que mais útil foi e
continua a ser aos portugueses em geral e que, praticamente, nada nela investiu
o erário público.
Cávado |
É claro que a grande sacrificada
foi a Região de Barroso porque as quatro barragens que se construíram no seu
perímetro, submergiram os mais produtivos vales privados e públicos. E os seus
donos foram ressarcidos com meia dúzia
de escudos. Foi um primeiro passo para a desertificação e empobrecimento. Graças ao Presidente da Câmara da época, João
Canedo, a Hica, proprietária das barragens foi obrigada a pagar uma côdea anual
que, apesar de insuficiente, deu algum jeito a um município pobre. Durante
muitos anos a mesma Câmara reivindicou a revisão do protocolo que Fernando
Rodrigues viu atendida. As contrapartidas foram substancialmente melhoradas. Se
elas estão a ser distribuídas com justiça social será questão política que um
dia questionaremos.
Trago este tema à reflexão pública para
lamentar que este acontecimento comemorativo não tenha merecido caixa alta na
programação, quer da edp, quer da autarquia. A população residente de Barroso é
constituída por velhos e jovens. São poucos os adultos. Seria uma soberana
ocasião para explicar como se vivia neste pedaço de Trás-os-Montes há 60, 50
anos. Como se deu esse despovoamento,
que prejuízos ou benefícios trouxe às aldeias. Quem lucrou e quem perdeu.
Dizem as estatísticas que entre 1955/1968
trabalharam na ou para a Barragem de Pisões, 15 mil pessoas. Foi
uma espécie de cidade desmontável com todo o tipo de estruturas hoteleiras,
desportivas, sanitárias.
Tive a sorte de encontrar ali (1962) o meu primeiro emprego. Comecei por
ser apontador da Magop. Depois fui fiscal da Hica. Trabalhei no paredão de 98
metros de altura e cerca de 2 km de cumprimento. Depois seis meses no túnel que
vai buscar a água ao Cávado, na zona de Sezelhe. E mais seis meses no túnel da
Boca de saída, já onde começa a da Venda Nova. Aí pude conhecer o que é um
sistema de bombagem. Foi uma experiência riquíssima. São cada vez menos os obreiros que ali
ergueram aquele santuário turístico e piscatório. Foi escola para muitos jovens da região,
desde Braga até Vilar de Perdizes, desde Valpaços até Viana do Castelo. Quantas
conversas em Família poderiam ali realizar-se! E se dessas conversas nascesse,
ali um museu que recolhesse ferramentas, máquinas, vídeos, fotos, livros e
outros pertences comuns a essas albufeiras?
Barroso da Fonte
Sem comentários:
Enviar um comentário