quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

Meio século da Barragem de Pisões merecia mais...

Albufeira de pisões

Barroso da Fonte
A inegável azáfama que a XXIV edição da Feira do Fumeiro implicou por parte dos políticos, dos produtores e dos barrosões em geral, quase ofuscou o acto comemorativo dos 50 anos da inauguração da albufeira de Pisões. Não entendemos as razões pelas quais não se assinalaram idênticas efemérides das restantes albufeiras que, antes desta, foram construídas em solo barrosão ou mesmo, em solo minhoto. Estão neste caso as da Venda Nova e Paradela; e as de Salamonde e Caniçada que, embora ocupem solos de Vieira do Minho, Terras de Bouro e Amares, nasceram, por obra e graça da natureza que criou nas Terras de Barroso, dois dos rios portugueses mais importantes: Cávado e Rabagão.
O primeiro nasce entre as serras do Larouco e a Mourela e o segundo a uns cinco quilómetros de distância: na Lama dos Porcos (propriedade colectiva), em Codeçoso que pertenceu à Chã e que mais tarde passou para a jurisdição administrativa de Meixedo.
 Há muita gente, incluindo barrosões que não sabem destas evidências. Quando a quarta classe valia tanto como algumas das novas oportunidades era obrigatório conhecer os nomes e a altitude das principais serras e até os nomes das linhas férreas. Hoje, tempo em que se fazem teses de doutoramento sobre a região de Barroso e nelas se afirma que «aqui há oito meses de inverno e quatro de inferno», (quando até os surdos e os mudos aprendem que  em Barroso se vivem 9 meses de inverno e três de inferno), não admira que a crosta de ignorância venha de cima para baixo.
Orlando Alves
É-me grato recordar estas efemérides hidrográficas por três razões essenciais: por ser Barrosão, por ter nascido em Codeçoso, a 200 metros da Lama dos Porcos, onde o rio nasce; e por ter trabalhado nessa maior Barragem Portuguesa. De resto, durante a breve cerimónia evocativa, o Presidente da Câmara frisou isso: «estamos perante um investimento que foi planeado e pensado por técnicos nacionais; foi, durante muitos anos a maior barragem do País. Só recentemente fomos superados pela barragem do Alqueva e não temos complexo nenhum em ser a segunda porque durante muitos anos fomos a primeira».
Gostei que  Orlando Alves tivesse afirmado esta indesmentível verdade. Com uma diferença: a do Alqueva foi construída para regadio (benefício de poucos) e com o dinheiro de muitos: (dez milhões de cidadãos). A de Pisões e seus pares do sistema Cávado-Rabagão, foram construídas com o dinheiro de alguns empresários da época. E se, na do Alqueva nada lucram os portugueses, a norte do Rio Tejo, com a de Pisões, lucram todos os Portugueses. Por isso teremos de  continuar a vangloriar-nos de se situar em Barroso  a albufeira Portuguesa que mais útil foi e continua a ser aos portugueses em geral e que, praticamente, nada nela investiu o erário público.
Cávado
É claro que a grande sacrificada foi a Região de Barroso porque as quatro barragens que se construíram no seu perímetro, submergiram os mais produtivos vales privados e públicos. E os seus donos foram  ressarcidos com meia dúzia de escudos. Foi um primeiro passo para a desertificação e empobrecimento.  Graças ao Presidente da Câmara da época, João Canedo, a Hica, proprietária das barragens foi obrigada a pagar uma côdea anual que, apesar de insuficiente, deu algum jeito a um município pobre. Durante muitos anos a mesma Câmara reivindicou a revisão do protocolo que Fernando Rodrigues viu atendida. As contrapartidas foram substancialmente melhoradas. Se elas estão a ser distribuídas com justiça social será questão política que um dia questionaremos.
 Trago este tema à reflexão pública para lamentar que este acontecimento comemorativo não tenha merecido caixa alta na programação, quer da edp, quer da autarquia. A população residente de Barroso é constituída por velhos e jovens. São poucos os adultos. Seria uma soberana ocasião para explicar como se vivia neste pedaço de Trás-os-Montes há 60, 50 anos.  Como se deu esse despovoamento, que prejuízos ou benefícios trouxe às aldeias. Quem lucrou e quem perdeu.
 Dizem as estatísticas que entre 1955/1968 trabalharam na ou para a Barragem de Pisões, 15 mil pessoas. Foi uma espécie de cidade desmontável com todo o tipo de estruturas hoteleiras, desportivas, sanitárias.
  Tive a sorte de encontrar ali (1962) o meu primeiro emprego. Comecei por ser apontador da Magop. Depois fui fiscal da Hica. Trabalhei no paredão de 98 metros de altura e cerca de 2 km de cumprimento. Depois seis meses no túnel que vai buscar a água ao Cávado, na zona de Sezelhe. E mais seis meses no túnel da Boca de saída, já onde começa a da Venda Nova. Aí pude conhecer o que é um sistema de bombagem. Foi uma experiência riquíssima.  São cada vez menos os obreiros que ali ergueram aquele santuário turístico e piscatório.  Foi escola para muitos jovens da região, desde Braga até Vilar de Perdizes, desde Valpaços até Viana do Castelo. Quantas conversas em Família poderiam ali realizar-se! E se dessas conversas nascesse, ali um museu que recolhesse ferramentas, máquinas, vídeos, fotos, livros e outros pertences comuns a essas albufeiras?
                                                                                                        Barroso da Fonte


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