Barroso da Fonte |
O Presidente da República
homenageou dia 13, o poder local, através da condecoração de 15 antigos
autarcas, sublinhando o contributo decisivo que as câmaras municipais deram
para o desenvolvimento do país em 40 anos de democracia. Durante o aparato
autárquico o PR disse: «Nestes 40 anos da nossa democracia, as autarquias
locais deram um contributo decisivo para o desenvolvimento do país, para a
melhoria das condições de vida da população, para a coesão social e territorial,
construíram infraestruturas básicas, equipamentos escolares, de saúde, de
desporto, de lazer, de cultural, recuperaram o património histórico no nosso
país". Foi pública e transmitida pela televisão, mais essa paródia
democrática que teve por palco o Palácio de Belém. Quinze ex-autarcas ornaram o peito com o grau de Comendador da
Ordem do Mérito. Nada a que não estejamos habituados a ver e a ouvir nestes 40
anos de forrobodó, puxando para si e para os seus, quando deveriam puxar para
todos. As palavras do PR são frases
feitas que se aplicariam, com muito maior rigor e oportunidade, a muitas
instituições de benemerência, mas nunca a profissionais da política que andaram
doze, dezasseis, vinte, vinte e tal anos, a gerir (quase sempre mal), milhões que
não suaram para os auferir. Mas ganharam vencimentos, mordomias, reverências e
influências para si e para os seus, muito acima daquilo que o cargo exigiria.
Quando o PR disse que os autarcas prestaram «ajuda inestimável nos momentos
mais difíceis do país às famílias atingidas», por certo estava a pensar nos
subsídios de reintegração que esses e outros autarcas receberam quando foi
aplicada a lei sobre a limitação dos mandatos. Eles próprios se
auto-financiaram. Primeiro com o tempo a dobrar para efeitos de reforma. Depois
com os subsídios de reintegração. Foi um escândalo no auge dos cortes a
funcionários públicos e a reformados. Se houve classes que viram suavizada a
crise foi a dos autarcas. Já no último dia 10 de
Junho, na cidade da Guarda, o PR
condecorou alguns que deveriam estar ao lado da cela 44, na cadeia de Évora, se
houvesse justiça e rigor democrático. Talvez a Presidência proceda a
condecorações por simpatia, por osmose ou por calculismo. Mas antes de as
colocar ao pescoço, deveria informar-se com gente que os conheça, por ossos
do ofício, por vizinhança, por actos,
práticas e exercícios do quotidiano. Quem escreve esta nota conhece alguns, aos
pares, às meias dúzias, às quinzenas. E, sem ser bufo ou traiçoeiro,
dir-lhe-ia, em público, algumas ocorrências que, uma vez conhecidas e
averiguadas, talvez evitassem denúncias como esta. Há em cada autarca, salvo
raras excepções, a face invisível, que faz o contrário do que parece fazer.
Como jornalista com 62 anos de militância ininterrupta e como autor com meia centena de livros, em prosa e poesia, para além de outras tarefas, nunca fui subserviente, candidato a prémios ou medalhas, ou bajulador com fins promocionais. As únicas medalhas que guardo no baú foram-me entregues no Norte de Angola, (em 1965/67), no ano em o PR, meu coetâneo, estava em Moçambique, em idênticas funções. Talvez por isso tenha sido um seu apoiante sistemático. Mas perante a tendência em condecorar políticos profissionais que, em geral, se governaram, mais do que governaram, sobretudo em ano de eleições, quase parece que está a pagar favores. Eu sei que há – felizmente – honrosas excepções. Também conheço dúzias, quinzenas, talvez meia centena, que saíram com as mãos limpas, como entraram. Como este último lote de medalhados teve lugar numa «Sexta Feira 13», véspera de mais um corso carnavalesco, esta imagem que nos chegou pela televisão, vai dissipar-se com a ventania da madrugada. Para ilustrar as excrescências autárquicas, ocorre-me ilustrar as arbitrariedades de alguns titulares. António Costa, a quem o camarada Seguro, acusou de se «por à janela» a ver passar os comboios, fez aprovar a mudança do nome de Humberto Delgado para o aeroporto de Lisboa e se esqueceu de devolver a «Ponte 25 de Abril» ao político que a mandou construir e se chamou António Salazar. À mesma proposta bastaria adicionar um parágrafo inofensivo, mas certeiro, pela certeza de que apenas cumpria um acto de justiça que foi violada há 40 anos. Ao não fazê-lo, demonstrou ter complexos ideológicos e de superioridade intelectual e política que os resultados confirmaram na crise que se seguiu e na ingratidão para com o ex-secretário geral do PS. Outro exemplo recente é noticiado no JN de 13 Sexta-Feira. O anterior executivo da Câmara de Vila do Conde, presidido por Mário de Almeida, aprovou o projecto de uma obra que tapa a Igreja do Senhor dos Navegantes. Apenas 4 metros de distância separam o templo da obra já em construção. A actual presidente, camarada de M. Almeida, que votou favoravelmente a proposta, afirma que «está disponível para negociar». Ora todos nós conhecemos autarcas que foram presos por casos menos graves. Em Macedo de Cavaleiros o autarca apanhou cadeia por menor gravidade. Encontra-se em fase de recurso. Verdade é que negociar com o dinheiro dos outros só favorece quem é culpado. E, nisso, os autarcas são mestres.
Como jornalista com 62 anos de militância ininterrupta e como autor com meia centena de livros, em prosa e poesia, para além de outras tarefas, nunca fui subserviente, candidato a prémios ou medalhas, ou bajulador com fins promocionais. As únicas medalhas que guardo no baú foram-me entregues no Norte de Angola, (em 1965/67), no ano em o PR, meu coetâneo, estava em Moçambique, em idênticas funções. Talvez por isso tenha sido um seu apoiante sistemático. Mas perante a tendência em condecorar políticos profissionais que, em geral, se governaram, mais do que governaram, sobretudo em ano de eleições, quase parece que está a pagar favores. Eu sei que há – felizmente – honrosas excepções. Também conheço dúzias, quinzenas, talvez meia centena, que saíram com as mãos limpas, como entraram. Como este último lote de medalhados teve lugar numa «Sexta Feira 13», véspera de mais um corso carnavalesco, esta imagem que nos chegou pela televisão, vai dissipar-se com a ventania da madrugada. Para ilustrar as excrescências autárquicas, ocorre-me ilustrar as arbitrariedades de alguns titulares. António Costa, a quem o camarada Seguro, acusou de se «por à janela» a ver passar os comboios, fez aprovar a mudança do nome de Humberto Delgado para o aeroporto de Lisboa e se esqueceu de devolver a «Ponte 25 de Abril» ao político que a mandou construir e se chamou António Salazar. À mesma proposta bastaria adicionar um parágrafo inofensivo, mas certeiro, pela certeza de que apenas cumpria um acto de justiça que foi violada há 40 anos. Ao não fazê-lo, demonstrou ter complexos ideológicos e de superioridade intelectual e política que os resultados confirmaram na crise que se seguiu e na ingratidão para com o ex-secretário geral do PS. Outro exemplo recente é noticiado no JN de 13 Sexta-Feira. O anterior executivo da Câmara de Vila do Conde, presidido por Mário de Almeida, aprovou o projecto de uma obra que tapa a Igreja do Senhor dos Navegantes. Apenas 4 metros de distância separam o templo da obra já em construção. A actual presidente, camarada de M. Almeida, que votou favoravelmente a proposta, afirma que «está disponível para negociar». Ora todos nós conhecemos autarcas que foram presos por casos menos graves. Em Macedo de Cavaleiros o autarca apanhou cadeia por menor gravidade. Encontra-se em fase de recurso. Verdade é que negociar com o dinheiro dos outros só favorece quem é culpado. E, nisso, os autarcas são mestres.
Barroso da Fonte
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