sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

As Sardinheiras nos arredores (S. Pedro Velho e Aguieiras) da Torre Dona Chama

                          (Tempo Caminhado: AS SARDINHEIRAS DA TORRE DONA ...)


Jorge Lage
3- As Sardinheiras nos arredores (S. Pedro Velho e Aguieiras) da Torre Dona Chama – Num texto anterior, «As Sardinheiras da Torre Dona Chama», foi omitido, involuntariamente, que naquele «trabalho etnográfico e memorial sobre a Torre Dona Chama, tomo como referência os anos cinquenta e sessenta do século XX e tive a ajuda da Celeste Pires (Vilares da Torre) e do Ti Octávio Andrade (Torre)». Igualmente, esta nota memorial, da mesma época, sobre as incríveis sardinheiras, que batiam as terras entre S. Pedro Velho e as Aguieiras, teve a mão amiga do Mário Fontoura da Cunha, secretário da Junta de Freguesia e que recolheu a maioria da informação sobre a venda porta-a-porta da sardinha. E diz-nos: - Todo o peixe era comprado na Torre Dona Chama ou então esperavam pelo transportador (desconhecido) que passava no (sobre o ribeiro do)  Arquinho (cruzamento de São Pedro Velho), e iam para lá esperá-lo durante toda a noite e muitas vezes só chegava pela manhã. Curioso é verificar que nesta zona os sardinheiros eram a maioria, enquanto que na Torres as regateiras ou sardinheiras dominavam a venda casa-a-casa.

Os vários vendedores de S. Pedro Velho: o Méquinho (alcunha), o Manel Rito (Fontoura); o José Maria Fontoura (Zé Inxa), o Ti (Abílio) Barroso e o Zé Combo. Deslocavam-se a pé com a caixa da sardinha às costas e vendiam em S. Pedro Velho, Vilar de Ouro, Ervideira e Aguieiras. O Ti Maximino (das Aguieiras) ia com o burreco, vendendo em S. Pedro Velho, Vilar de Ouro, Ervideira e Aguieiras. Para venderem em S. Pedro Velho e Vilar d’Ouro, vinham da Torre, a pé, a Tia Rambóia, a Glória Rambóia (filha da Glória Rambóia) e a Tia Malia (Maria Calhelhas – e não Calhelhos como saiu em texto anterior) da Tôle (Torre) que não conseguia pronunciar o «r» e o «s» e a garotada cruel aproveitava para fazer troça quando lançava os pregões: «Ólha a pecada fêca!» e «Ólha o calapau e a con(g)a fêca!». Os pregões que cortavam os arredores ou as ruas do povoado: «Ó tia fulana, trago sardinhas fresquinhas, ainda as vejo a mexer!», «Ólha sardinha que é caspuda e fresca!», «ai que fresquinha, ai que fresquinha, está a sardinha!», «Ólha os chicharros, são grandes e lindos!» (anunciados pelo tamanho e vendiam-se dois a dois de dez mil réis a cinco crôas), «Ólha o Chicharro grande e fresquinho!». A sardinha era vendida ao quarteirão e contada aos pares (e ó bicho). Os restantes peixes (mais pescada e côngaro) eram vendidos à peça. A Tia Dárida, bisavó do Mário Cunha, tinha à época onze filhos, sendo o Janeiro, avô do meu colaborador, e falecido há um ano com 96 anos. Cada filho tinha direito a meia sardinha e quem comia ao jantar a parte da cabeça, à ceia comia a metade do rabo. A Tia Dária era uma boa colheiteira de pão e uma das padeiras da terra e todas as sardinheiras preferiam que lhe pagasse em pão cozido

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