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| Jorge Lage |
3- As Sardinheiras nos arredores
(S. Pedro Velho e Aguieiras) da Torre Dona Chama – Num texto anterior, «As
Sardinheiras da Torre Dona Chama», foi omitido, involuntariamente, que naquele
«trabalho etnográfico e memorial sobre a Torre Dona Chama, tomo como referência
os anos cinquenta e sessenta do século XX e tive a ajuda da Celeste Pires
(Vilares da Torre) e do Ti Octávio Andrade (Torre)». Igualmente, esta nota
memorial, da mesma época, sobre as incríveis sardinheiras, que batiam as terras
entre S. Pedro Velho e as Aguieiras, teve a mão amiga do Mário Fontoura da
Cunha, secretário da Junta de Freguesia e que recolheu a maioria da informação
sobre a venda porta-a-porta da sardinha. E diz-nos: - Todo o peixe era comprado
na Torre Dona Chama ou então esperavam pelo transportador (desconhecido) que
passava no (sobre o ribeiro do) Arquinho
(cruzamento de São Pedro Velho), e iam para lá esperá-lo durante toda a noite e
muitas vezes só chegava pela manhã. Curioso é verificar que nesta zona os
sardinheiros eram a maioria, enquanto que na Torres as regateiras ou
sardinheiras dominavam a venda casa-a-casa.
Os vários vendedores de S. Pedro Velho: o Méquinho
(alcunha), o Manel Rito (Fontoura); o José Maria Fontoura (Zé Inxa), o Ti
(Abílio) Barroso e o Zé Combo. Deslocavam-se a pé com a caixa da sardinha às
costas e vendiam em S. Pedro Velho, Vilar de Ouro, Ervideira e Aguieiras. O Ti
Maximino (das Aguieiras) ia com o burreco, vendendo em S. Pedro Velho, Vilar de
Ouro, Ervideira e Aguieiras. Para venderem em S. Pedro Velho e Vilar d’Ouro,
vinham da Torre, a pé, a Tia Rambóia, a Glória Rambóia (filha da Glória
Rambóia) e a Tia Malia (Maria Calhelhas – e não Calhelhos como saiu em texto
anterior) da Tôle (Torre) que não conseguia pronunciar o «r» e o «s» e a
garotada cruel aproveitava para fazer troça quando lançava os pregões: «Ólha a
pecada fêca!» e «Ólha o calapau e a con(g)a fêca!». Os pregões que cortavam os
arredores ou as ruas do povoado: «Ó tia fulana, trago sardinhas fresquinhas,
ainda as vejo a mexer!», «Ólha sardinha que é caspuda e fresca!», «ai que
fresquinha, ai que fresquinha, está a sardinha!», «Ólha os chicharros, são
grandes e lindos!» (anunciados pelo tamanho e vendiam-se dois a dois de dez mil
réis a cinco crôas), «Ólha o Chicharro grande e fresquinho!». A sardinha era
vendida ao quarteirão e contada aos pares (e ó bicho). Os restantes peixes
(mais pescada e côngaro) eram vendidos à peça. A Tia Dárida, bisavó do Mário
Cunha, tinha à época onze filhos, sendo o Janeiro, avô do meu colaborador, e
falecido há um ano com 96 anos. Cada filho tinha direito a meia sardinha e quem
comia ao jantar a parte da cabeça, à ceia comia a metade do rabo. A Tia Dária
era uma boa colheiteira de pão e uma das padeiras da terra e todas as
sardinheiras preferiam que lhe pagasse em pão cozido
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