SEGUNDA-FEIRA, JANEIRO 19
Um passo em frente
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Culpado ou não, fosse José Sócrates meu amigo eu certamente o iria visitar à cadeia. Contudo, certamente também, não me ouviriam proferir juízos e cair no ridículo de clamar a sua inocência quando abundam, se não as provas definitivas, suspeitas fundadas o bastante para mantê-lo preso.
Toda essa agitação, porém, interessa-me menos pelo que é e tem de ridículo, do que por ser sintoma de que certa classe política parece não se dar conta de que já alguma coisa mudou e mais está para vir; que a coutada que tomaram de assalto quarenta anos atrás,e esperavam viesse a ser herdada por filhos e sicários, talvez venha a conhecer melhor destino.
Seja como for, tanto a prisão e a personalidade do ex-Primeiro Ministro, como a curiosa e ainda patente soberba do ex-DDT, além de interessantes capítulos da nossa história, funcionam como o vidro de aumento que ajuda a que melhor olhemos para nós próprios, o país que somos, a realidade que nos cerca.
À luz do que tem acontecido, bem podem os bonzos políticos e os vários "históricos" agitar-se, esbracejar, iludir-se de que ainda estão no poder. Não estão. Já o perderam. Por muito que gritem que sem eles será o caos, o poder cairá na rua, todos sabemos que assim não é. O poder cairá nas mãos doutros, mas esses terão aprendido que os Sócrates, os Soares, os vários donos disto tudo e mais alguma coisa são o passado, que será mais curta a sua margem de manobra.
Sempre é um passo em frente.
J. Rentes de Carvalho, in: Tempo Contado
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