Barroso da Fonte |
Nos
séculos XIX e XX a imprensa universalizou-se e foi arma de combate para todas
as causas: culturais, sociais, comerciais e políticas. Pelo impacto que a
imprensa exerceu no grande público, foi sempre veículo cobiçado. A publicidade
tornou-se alimento insubstituível para a
sua sobrevivência. Os jornais chegaram aos grandes meios urbanos, penetraram
nos bairros, nas instituições, nas comunidades. Ter dinheiro, mediatismo e fama
social, foi sempre sedução dos poderosos.
A imprensa foi aliada, por excelência, dos políticos, dos intelectuais,
dos insatisfeitos de todas as causas. Enquanto alguns geravam postos de
trabalho, para meio de subsistência pessoal e de família, outros colhiam os
sortilégios dessa forma difusora para se promoverem, silenciando os adversários
e todos quantos lhes tapavam o sol radioso.
Os
golpes de estado, as agitações públicas, as sobrancerias infamantes e os
triunfalismos obscenos, valeram-se, por via de regra, da força do dinheiro e da
proteção obtida por efeito do vergonhoso
venalismo a que chegou. A crescente desvirtuação do uso ilegítimo dos
sortilégio da imprensa, só poderia redundar no seu desmoronamento irreversível.
Quem se
imiscuiu nos meandros do sector,
durante o Estado Novo e os confrontou com o uso e o abuso das artimanhas a que
ele se prestou, não poderia esperar outro desfecho: a morte pelo mau uso que
dela se fez. Devendo ter sido uma tábua
de salvação para a cidadania plena, duradoura e universal, foi arma de
arremesso contra essa legitimação social. A morte súbita da imprensa,
especialmente da chamada regional, é um crime público que pesará na consciência
dos políticos que temos tido, quer no governo central, quer nos regionais e
locais. Ao disputá-la, mediante processos obscenos, autocráticos, ditatoriais e
nauseabundos, degolaram a liberdade de imprensa que é um direito sacramental da
cidadania plena. Portugal não tem hoje voz pública, livre, plural e de porta
aberta aos cidadãos, como decorre da sua comunicabilidade intrínseca.
Invoco a década de 1980, quando os diretores de uma boa parte da imprensa regional, perante os responsáveis máximos do sector, eram porta-voz da imprensa regional de todo o país, a pretexto da distribuição dos incentivos à modernização e ao porte pago. Há hoje quem afirme que a crise da imprensa escrita se deve ao acesso cada vez mais fácil e barato à informação online não diz a verdade. Esse argumento tem alguma força. Mas se os incentivos na altura preconizados, não tivessem sido extintos e se o poder judicial, ou, pelo menos, a ERC, tivesse competências para reprimir os usos e os abusos que da imprensa se fez e se ainda se faz, por parte de quem governa os ministérios, as câmaras e os departamentos públicos, não teriam desaparecido centenas de jornais que resistiram no tempo da censura, mas não conseguiram sobreviver nestes 40 anos de falsa democracia. Esses heroicos jornais caem todos os dias como tordos na época da caça...
Conheci
por experiência própria, os sortilégios e os malefícios do sector. Antes e
depois da revolução dos cravos. Exerci funções técnicas e dei o meu esforço e
saber para acabar com esses abusos, vícios, mercantilismos e injustiças flagrantes.
Ainda estou vivo e pronto a dar o meu testemunho, seja diante de quem for, para
apontar factos, organismos, titulares de cargos, desde que haja quem me queira
ouvir para que a imprensa recupere a credibilidade que teve e que lhe é devida
como elemento privilegiado da democracia. Sem liberdade não há democracia que
resista à ganância e ao assalto ao poder totalitário. É urgente dar o seu a seu
dono. Uma Câmara não deve, nem pode, num concelho que tenha 3 jornais – e este
é um exemplo real – dar toda a publicidade ao pior, só porque esse é o órgão
oficioso do partido que gere a Câmara. Há muitos casos destes pelo país fora.
Ninguém vê isso! Mas eu conheço esse e vários. E nenhuma entidade pública atua.
Outro
exemplo: A Câmara de Santo Tirso «decidiu gastar quase 33 mil euros na conceção
gráfica e fornecimento de dois mil livros dedicados ao tema «grandes
projetos municipais». Cada livro que tem como objetivo mostrar a «obra» do
executivo municipal tem custa o preço de 16,30 euros». Isto leu-se na «Má
Despesa Pública» madespesapublica@gmail.com, com data de
9/10/2013. A mesma Câmara «resolveu adjudicar uma revista, por ajuste direto, a
uma empresa de móveis, em Loures». O JN
de 29/10/2014, mostrou a capa dessa revista, a cara do autarca e também de um
vereador da oposição, onde se anuncia um novo contrato, do valor de 50 mil
euros, com uma firma de publicidade, pela execução de mais números da mesma revista. Ora nem uma empresa de móveis
tem estatuto jurídico para execução gráfica de uma revista, nem uma firma de
publicidade tem estatuto para o mesmo efeito. Tanto assim que um jornalista,
não pode misturar jornalismo com
publicidade. Trago este assunto sério e pernicioso à sociedade
portuguesa, à reflexão dos leitores porque há muitos jornais lesados, a par de
centenas deles que interromperam a sua missão por erros políticos da geração
que mais prejudicial foi à imprensa portuguesa. Faço esta denúncia na precisa
semana (dia 23) em que comemoro 62 anos de atividade jornalística ininterrupta.
Barroso da Fonte
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