Couto dos Santos |
Barroso da Fonte |
José Lello |
Quarenta anos de democracia, depois de outros tantos de ditadura, como
os mais revolucionários chamam ao período republicano, entre 1926 e 1974, o Povo Português está francamente desiludido.
À liberdade chama ladroagem, ao insulto trata-a por virtude e ao crime
organizado encara-o como fruto da incultura e abuso de poder do Estado Novo.
Com o país mergulhado neste pântano, criado
pelos políticos de todos os níveis, cargos e tendências, conclui-se que cada um
puxa a brasa para o sua sardinha, as ideologias confundem-se com o arranjismo,
a credibilidade partidária mede-se pelo tacho que se alcança e a justiça social
tem a dimensão do sonho que se cumpre na vida real:quem está com o poder
come, quem não está emigra para não morrer de fome.
Couto dos Santos e José Lello são profissionais desta baixa política que
leva 40 anos de exibição. Como se habituaram ao papel de legisladores em causa
própria, não resistiram à tentação de cozinhar entre os seus pares (PS-PSD), os
votos necessários para o Estado pagar à classe política as chamadas subvenções
que os outros não têm. Só nos últimos dez anos essas subvenções, segundo o Diário
de Notícias de 11 de Janeiro de 2011, totalizaram 80 milhões de euros, em
dez anos.
Uma deputada do BE, mal soube
dessa imoralidade política chamou-lhe – e bem - vergonha das vergonhas. Os
eleitores ficaram aterrorizados. As diferentes formações partidárias desde a
extrema esquerda, ao CDS, reagiram contra os dois maiores partidos. Passos
Coelho e António Costa terão reagido em
sintonia: não é moralizador tomar tais medidas a favor do pagamento das
«desnaturadas» subvenções. No dia seguinte: o monstruoso intento daqueles dois
deputados era anulado. O bom senso parlamentar tinha corado de vergonha e tudo
voltou ao ponto zero.
Esta crónica nasce por implosão dos
acontecimentos políticos das duas semanas dos meados de Novembro. Os
funcionários públicos esperavam receber o subsídio de mês de Natal. Nem cheiro.
Os políticos profissionais no activo, desentenderam-se, querendo entender-se. A
justiça perturbou-se nesses dois fins de semana. Os audiovisuais não tiveram as
máquinas paradas, nem funcionários no gozo dos seus direitos. Todos tiveram que
trabalhar nos jornais, nas rádios, nas televisões. Os escândalos sucederam-se.
Alguns tribunais não fecharam. A justiça deu mote para prolongadas diligências.
O governo sentiu abalos por causa dos vistos gold. Onze suspeitos de
fraude fiscal foram inquiridos e sujeitos a medidas de coacção.
O maior partido da oposição
riu-se oito dias antes. Culpou, na semana seguinte, a inoportunidade da prisão
do seu ex-líder. O BE reuniu, em convenção, para unir o que desuniu. O PCP como
de costume, esteve em torno do seu líder
para adensar a militância. O CDS reflectiu em mais um aniversário.
Inesperadamente o super-juiz Carlos Alexandre
continua a trabalhar sem descanso. Em notável exemplo para alguns seus pares,
recentemente jubilados que desvalorizaram escutas, arquivaram processos, não
deram ouvidos à opinião pública e silenciaram a própria justiça. O jornal Sol,
2ª edição de 23/11, página 8, aponta um.
O outro recebeu um favor. Seria bom que o super-juiz os chamasse à ordem, um e outro, porque se o não fizer, jamais será feita justiça.
Como jornalista de longo curso, vítima
incessante de tremendas injustiças, legalizadas pela baixa democracia que nunca
assentou na pureza do voto consciente, mas do voto comprado, vergo-me perante
esta nova forma de exercer a justiça. Foram dois fins de semana históricos.
Torço por muitos outros fins de semana, que surjam na cidade onde vivo, ou onde
as minhas denúncias, localizaram factos que muita gente conheceu, em processos
ruinosos, sempre adiados, até à prescrição. Finalmente a justiça acordou. Não gostaria de morrer sem ver este tipo de
justiça a funcionar em milhares de casos semelhantes, já branqueados com medalhas que os sucessivos PR
glorificaram, despudoradamente. A Jornalista Felícia Cabrita tem a lista
de muitos e eu próprio denunciei alguns. Haja vontade!
Começo a sentir que a Justiça,
quando tem magistrados justos, activos e coerentes mostra o que vale e o que
representa. Alguns políticos de proa que deveriam ter sentido a pureza das
leis, logo vieram reclamar tratamento privilegiado para a mais recente actuação
da justiça. Esses deveriam ser incriminados por solidariedade porque tão
ladrão é o que vai à horta como o que fica à porta.
Barroso
da Fonte
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