Vasco Pulido ValentePresidentes? - PÚBLICO |
Em 1911, a Assembleia Constituinte
da República resolveu que iria passar a ser a primeira assembleia legislativa
do regime. Nada a autorizava a isso, mas ninguém se importou. Afonso Costa não
tinha ainda tomado conta do partido “histórico”, que fizera o 5 de Outubro, e
meia dúzia de facções andavam em guerra para eleger – no Parlamento e no Senado
– o seu Presidente.
Escolheram Arriaga, um velho meio
senil e pouco esperto, supondo que ele não incomodaria ninguém. Coisa em que,
de resto, se enganaram. Antes de se demitir, à força claro, andou aos
trambolhões de uma ilegalidade para a outra e acabou por estabelecer uma
ditadura militar, depressa varrida pela Carbonária e pelos bombistas de Afonso
Costa. Bernardino Machado substituiu Arriaga, com a duvidosa legitimidade dessa
zaragata.
Depois de Bernardino, veio Sidónio
Paes (em 1917) também trazido por uma insurreição da tropa. Sidónio revogou a
constituição de 1911, inventou outra mais conveniente à sua situação e à sua
política, e convocou eleições directas para a Presidência da República. Ganhou
por à volta de 500 000 votos, num clima que roçava o terror. Não lhe serviu de
muito. Em 1918 foi morto na estação do Rossio por um admirador de Afonso Costa.
Por uns tempos, durante a guerra civil de 1919, Canto e Castro, um monárquico
convicto, designado pelo governo, conseguiu manter a ficção de que a República
existia. Mas quando se restaurou um mínimo de ordem, e prudentemente mudada a
constituição, o Parlamento e o Senado alçaram António José de Almeida, um demagogo
de feira, à Presidência para acalmar a balbúrdia e conciliar a direita. O
“António José”, como lhe chamavam, assistiu à tortura e ao assassinato do seu
primeiro-ministro e cumpriu o seu mandato até ao fim, uma façanha de que se
gabou muito.
Para substituir esta personagem, o
estado-maior do partido Democrático (palavra de honra!) chamou Manuel Teixeira
Gomes, pedófilo, diplomata e escritor, que não aguentou os sobressaltos de
Lisboa e se refugiou nos costumes mais brandos da Argélia francesa. No lugar
dele, reapareceu o indestrutível Bernardino, de que o 28 de Maio em definitivo
livrou a Pátria. Os sucessivos chefes da Ditadura não tinham nem de facto, nem
de direito a menor semelhança com um presidente da República. Como a não
tiveram os protegidos de Salazar (Carmona, Craveiro Lopes, Tomás). Só Eanes,
Soares, Sampaio e Cavaco merecem o nome. E, a propósito, não se percebe o que
sucedeu à nossa tresloucada Assembleia da República para lhe sair do crânio a
ideia eminentemente imbecil de uma exposição de bustos (dizem que horríveis)
dos nossos “Presidentes”. Inconsciência? Ignorância? Ou simples prazer de
gastar o dinheiro do Estado?
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