Jorge Lage |
4- Hortelões
de Mirandela – Quando decidi escrever sobre os hortelões de Mirandela, pedi
ajuda a amigos e até sugeriram os nomes dos donos das grandes casas agrícolas
do concelho nas décadas de cinquenta e sessenta do século passado. Mas não era
por aí que me mandava a voz consciência cívica e etnográfica. Tinha de ir pelos
que assucavam o talhão, estrumavam, plantavam, raspavam, sachavam e voltavam a
fazer os regos. Por isso, aproveitei um rol de hortelões de Mirandela que me
fez chegar o amigo, José Golias, que pode não estar completo mas é
representativo dos que melhor sabiam amanhar os mimos da horta ou da cortinha,
dando fama, em tempo de míngua, à Praça de Mirandela, a mais farta de
Trás-os-Montes e Alto Douro. Assim, entre vários hortelões, permito-me referir
o António Alfredo, junto à Ponte Romana, digo, Medieval; e o Basílio Silva ao
pé da Ponte das Alavancas, ambos possuidores das mimosas cortinhas junto à
Ribeira de Carvalhais. O Marcolino Mós (com o genro), exporta camiões de
couve-penca de Mirandela para a Suiça, saída das ubérrimas hortas regadas pela
Ribeira de Cedães. O António Serafim Jacob da fértil veiga de Carvalhais, onde
se produz da melhor couve-de-Mirandela. O Victor Leal, da Freixeda, que,
também, cultivava os mimos nas hortas de Mirandela. O Manuel António Dias
(Manuel Pardal), da Vila Tarana, era outro hortelão de referência. O João
Baptista Esteves, de Vale de Madeiro, com a Ribeira de Cedães a fertilizar as
varges para o «renobo» mimoso. Mas, o texto anterior que assinei sobre «A Couve
Penca de Mirandela» [Tempo Caminhado: Jorge Lage - A COUVE-PENCA DE ...], não teria sido possível com aquela profundidade e
pormenores técnicos sem a ajuda do meu irmão Arménio. A sua memória (e a minha)
é a que se aproxima mais da prodigiosa do meu pai. O meu pai gravava o que
ouvia como se fosse a objectiva duma máquina fotográfica ou disco rígido de um
computador. Depois, lia textos aprendidos há setenta anos, com entoação,
pausas, pontos e vírgulas.
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