Isabel Lage (Investigadora) |
Jorge Lage |
Pode o amigo leitor pensar que «benguela» (ou
bangala, como dizem alguns) está mal escrito, contudo a nossa ruralidade nada
reclama. A palavra urbana «bengala» (rural «benguela») vem do topónimo
«Bengala», região dividida entre a Índia e o Bangladesh, com golfo do mesmo
nome na longínqua Índia, onde fica a mítica Calecute, que Camões canta nos
Lusíadas. Pois, daquela região vieram, além das especiarias, os famosos bastões
de cana-da-índia (de Bengala), ficando a cana associada e nomeada por
«Bengala».
Também se dizia daquela gente longínqua, segundo
o grande dicionarista, José Pedro Machado, citando as «Lendas», que o
«habitante ou natural de Bengala»: «porque os bengalas são falsa gente e
ladrões…».
Só que para além do topónimo «Bengala», na Índia,
existe em Angola, bem mais perto de nós o topónimo «Benguela», nome de uma
região e cidade. O povo, como tem mais o sentido prático das cousas, passou a
chamar «benguela» à «bengala» ou bastão por associação ao topónimo do reino da
mítica rainha Ginga.
Seja como for, a bengala (benguela) ou bastão é
todo o pau, menor do que o bordão, para apoio, guarda ou defesa.
O jogo-do-pau era outrora um dos jogos
tradicionais populares no Norte de Portugal, ainda hoje cultivado na região de
Basto (Minho) e no Nordeste (em Miranda) perdura o jogo ou dança guerreira dos
paulitos.
O meu bisavô materno, João Aleixo, pessoa muito
daimosa, entre outros atributos atléticos, era um exímio jogador de pau e
varria, num ápice, o terreiro duma feira para pôr cobro a uma zaragata. Em
meados do século XIX, quando ele se aproximava para acabar com a desordem, era
mais temido e respeitado que as forças da ordem.
Mas, do que eu vos queria falar era da segurança
das pessoas idosas e que, por vezes, as quedas as marcam para o resto dos dias
ou lhes causam uma morte precoce.
A Escola de Enfermagem da Universidade do Minho
(UM) esteve envolvida numa investigação para levar a «melhores práticas de
prevenção de quedas junto dos mais velhos».
Assim, a presidente daquela Escola de Enfermagem,
Isabel Lage, segundo uma notícia difundida pela mesma UM, desenvolveu uma
investigação que conclui que «um terço das pessoas com mais de 65 anos e metade
das que têm mais de 80 sofrem por ano uma queda, sendo esta uma das principais
causas de lesão nos idosos, mas cair não é uma inevitabilidade decorrente da
idade».
A mesma investigadora, refere que a frequência
com que ocorrem quedas de idosos leva «muitos cidadãos a pensar, erradamente,
que estas situações são uma consequência inevitável de envelhecer». Isabel Lage
«considera que as quedas podem ser evitadas através de acções como exercícios
regulares de força e equilíbrio, apoiados por profissionais».
Segundo a agência “Lusa”, «a investigação
demonstra que o risco de quedas aumenta se a pessoa tiver um historial de
problemas de mobilidade, utilizar meios de ajuda para caminhar, ou se tiver
diminuída a sua condição física devido a enfarte, Parkinson, demência ou
artrite».
Este risco pode aumentar ainda mais se a pessoa
toma quatro ou mais tipos de medicamentos, tem medo de cair, padece de
incontinência, problemas de visão, de força física ou equilíbrio.
O meu pai, a quem eu pedia, depois de ter
completado oitenta anos, para não trabalhar porque os filhos já estavam
criados, ripostava: - cala-te que não sabes nada! Não vês que os velhos que
deixam de trabalhar se põem todos cepudos?
Outras vezes, quando eu lhe pedia para descansar,
rematava: - chega bem descansar em morrendo!
A vida foi-me ensinando e os conselhos do meu pai
ainda mais que a vida deve ser um caminhar contínuo.
Quando sentiu dificuldade em movimentar-se a
mágica bengala foi o melhor remédio e, para o fim da vida, as canadianas foram
excelentes auxiliares.
Uma grande parte da nossa população rural tem
mais de 65 anos e um bordão, uma «benguela» ou uma canadiana podem ser o «anjo
da guarda» ou a «mão providencial». Ficar incapacitado devido a uma queda ou
atirado para uma cama é um fardo pesado para quem se vê nessa estado deplorável
ou para quem trata do acamado.
Os antigos disfarçavam a bengala, usando na sua
vez um sacho com a folha pequena (ou uma fouce), mas que era na mesma eficaz.
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