sábado, 12 de julho de 2014

Notas de Rodapé (10) - III - A «benguela» providencial, investigação de Isabel Lage

Isabel Lage (Investigadora)

Jorge Lage
4 - A «benguela» providencial

Pode o amigo leitor pensar que «benguela» (ou bangala, como dizem alguns) está mal escrito, contudo a nossa ruralidade nada reclama. A palavra urbana «bengala» (rural «benguela») vem do topónimo «Bengala», região dividida entre a Índia e o Bangladesh, com golfo do mesmo nome na longínqua Índia, onde fica a mítica Calecute, que Camões canta nos Lusíadas. Pois, daquela região vieram, além das especiarias, os famosos bastões de cana-da-índia (de Bengala), ficando a cana associada e nomeada por «Bengala».
Também se dizia daquela gente longínqua, segundo o grande dicionarista, José Pedro Machado, citando as «Lendas», que o «habitante ou natural de Bengala»: «porque os bengalas são falsa gente e ladrões…».
Só que para além do topónimo «Bengala», na Índia, existe em Angola, bem mais perto de nós o topónimo «Benguela», nome de uma região e cidade. O povo, como tem mais o sentido prático das cousas, passou a chamar «benguela» à «bengala» ou bastão por associação ao topónimo do reino da mítica rainha Ginga.
Seja como for, a bengala (benguela) ou bastão é todo o pau, menor do que o bordão, para apoio, guarda ou defesa.
O jogo-do-pau era outrora um dos jogos tradicionais populares no Norte de Portugal, ainda hoje cultivado na região de Basto (Minho) e no Nordeste (em Miranda) perdura o jogo ou dança guerreira dos paulitos.
O meu bisavô materno, João Aleixo, pessoa muito daimosa, entre outros atributos atléticos, era um exímio jogador de pau e varria, num ápice, o terreiro duma feira para pôr cobro a uma zaragata. Em meados do século XIX, quando ele se aproximava para acabar com a desordem, era mais temido e respeitado que as forças da ordem.
Mas, do que eu vos queria falar era da segurança das pessoas idosas e que, por vezes, as quedas as marcam para o resto dos dias ou lhes causam uma morte precoce.
A Escola de Enfermagem da Universidade do Minho (UM) esteve envolvida numa investigação para levar a «melhores práticas de prevenção de quedas junto dos mais velhos».
Assim, a presidente daquela Escola de Enfermagem, Isabel Lage, segundo uma notícia difundida pela mesma UM, desenvolveu uma investigação que conclui que «um terço das pessoas com mais de 65 anos e metade das que têm mais de 80 sofrem por ano uma queda, sendo esta uma das principais causas de lesão nos idosos, mas cair não é uma inevitabilidade decorrente da idade».
A mesma investigadora, refere que a frequência com que ocorrem quedas de idosos leva «muitos cidadãos a pensar, erradamente, que estas situações são uma consequência inevitável de envelhecer». Isabel Lage «considera que as quedas podem ser evitadas através de acções como exercícios regulares de força e equilíbrio, apoiados por profissionais».
Segundo a agência “Lusa”, «a investigação demonstra que o risco de quedas aumenta se a pessoa tiver um historial de problemas de mobilidade, utilizar meios de ajuda para caminhar, ou se tiver diminuída a sua condição física devido a enfarte, Parkinson, demência ou artrite».
Este risco pode aumentar ainda mais se a pessoa toma quatro ou mais tipos de medicamentos, tem medo de cair, padece de incontinência, problemas de visão, de força física ou equilíbrio.
O meu pai, a quem eu pedia, depois de ter completado oitenta anos, para não trabalhar porque os filhos já estavam criados, ripostava: - cala-te que não sabes nada! Não vês que os velhos que deixam de trabalhar se põem todos cepudos?
Outras vezes, quando eu lhe pedia para descansar, rematava: - chega bem descansar em morrendo!
A vida foi-me ensinando e os conselhos do meu pai ainda mais que a vida deve ser um caminhar contínuo.
Quando sentiu dificuldade em movimentar-se a mágica bengala foi o melhor remédio e, para o fim da vida, as canadianas foram excelentes auxiliares.
Uma grande parte da nossa população rural tem mais de 65 anos e um bordão, uma «benguela» ou uma canadiana podem ser o «anjo da guarda» ou a «mão providencial». Ficar incapacitado devido a uma queda ou atirado para uma cama é um fardo pesado para quem se vê nessa estado deplorável ou para quem trata do acamado.
Os antigos disfarçavam a bengala, usando na sua vez um sacho com a folha pequena (ou uma fouce), mas que era na mesma eficaz.



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