quinta-feira, 31 de julho de 2014

Einstein e a questão israelo-palestiniana



Em Abril de 1914, Einstein mudou-se com a família para Berlim, voltando a aceitar a nacionalidade alemã, que havia recusado quando lhe ofereceram (depois de adversidades gigantescas) o lugar de professor no politécnico de Zurique, onde se havia formado. Max Planck fizera-lhe chegar uma proposta irrecusável: passar a fazer parte dos membros da Real academia Cientifica da Prússia, além de lhe oferecerem um lugar de Professor sem obrigações docentes na Universidade de Berlim e a direcção da Divisão de Investigação Cientifica do Instituto Kaiser Wilhelm.
Em Agosto desse ano deflagrou a Primeira Guerra Mundial com a invasão da Bélgica pelos Alemães. Um grupo de 93 intelectuais alemães, pressionados pela crítica internacional, assinam um Manifesto ao mundo civilizado, onde justificam a intervenção bélica, fazendo uma defesa inflamada do militarismo alemão como expressão da sua cultura. Quando o pacifista alemão Georg Nicolai, fez circular uma réplica (Manifesto aos europeus) a esse vergonhoso Manifesto, Einstein, também pacifista desde a juventude, não hesitou em assiná-lo. Só mais duas pessoas o ousaram fazer. E nele se podia ler: “A guerra que ruge dificilmente pode dar um vencedor; todas as nações que nela participam pagarão, com toda a probabilidade, um preço extremamente alto (…) O nosso único propósito é afirmar a nossa profunda convicção de que chegou o momento de a Europa se unir para defender o seu território, a sua gente e a sua cultura. (…) Estamos a manifestar publicamente a nossa fé na unidade europeia (...)”. E vai por aí adiante.


Além de assinar o Manifesto, o antissemitismo que grassava na Alemanha, levou-o, pela primeira vez na vida,  a reivindicar a sua condição de judeu e a colaborar activamente com o movimento sionista que reclamava a criação de uma pátria judaica na Palestina, embora, por natureza, não sentisse nenhum apego especial a nenhum Estado ou entidade nacional, como escreveria a um amigo em 1918.
Einstein torna-se persona non grata na Alemanha, e segue para os Estados Unidos da América, quando Hitler sobe ao poder, em 1933. As peripécias dessa viagem não interessam para este escrito.
Com Hitler qualquer disparate era possível, e qualquer crime tinha justificação. Informado de que os alemães estavam a desenvolver a “bomba atómica”, Einstein escreve ao presidente Roosevelt duas cartas (1940), informando-o que a bem da Humanidade era aconselhável que os EUA se adiantassem aos alemães. Os Americanos põem em marcha o Projecto Manhattan e com ele o fabrico da bomba nuclear[1]. Os horrores nazis da Guerra tinham contribuído para que o pacifista renunciasse aos seus princípios.
Cinco anos depois, quando os nazis estavam perto da rendição incondicional,  Einstein escreveu a  Roosevelt uma terceira carta, suplicando que a bomba não fosse lançada sobre o Japão.  Roosevelt morreu antes de ler a carta; foi encontrada fechada na sua secretária. Todavia, Truman que o sucedeu, deu ordens para que fosse lançada sobre Hiroxima e Nagasáqui.
Anos antes, em 1929, em carta a amigo pode ler-se sobre a questão israelo-palestiniana: “Se não conseguimos encontrar o caminho da honesta cooperação e acordos com os árabes, é porque não aprendemos nada com a nossa velha odisseia de dois mil anos, e merecemos o destino que nos acossará”.
Será que o velho livre-pensador, homem e cientista de génio teria a mesma opinião se tivesse assistido ao que se passou depois, com a guerra dos seis dias, do Yom Kippur, e por aí adiante?
Talvez não; talvez renunciasse, de novo, aos seus princípios pacifistas. Mas, depois de presenciar os horrores do conflito, talvez mandasse uma quarta missiva, esta endereçada ao governo de Israel para congeminar uma solução em que a paz fosse o principal protagonista. E uma quinta ao Povo palestiniano para se unir a esta solução.

Armando Palavras



[1]Interrogado numa entrevista sobre qual seria a arma da Terceira Guerra Mundial,  Einstein respondeu que não sabia. Contudo, não tinha dúvidas que na Quarta as principais armas seriam pedras e paus, pois nada mais restaria.


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