quinta-feira, 10 de julho de 2014

Barroso da Fonte - Terra Quente Transmontana para a quentíssima Guiné



BARROSO da FONTE
Por laços de fraternidade humana, geográfica e política, a Câmara de Mirandela aprovou, em reunião de 15 de Fevereiro de 2008, a geminação entre «a Coimbra Transmontana» e a cidade  Guineense de Bafatá, a segunda maior da Guiné.
Quando em fins de Janeiro do ano em curso assinei, nos diversos órgãos onde colaboro, um crónica intitulada: «Era Transmontana a mulher de Amílcar Cabral». Nessa crónica pude esclarecer que na Zona Agrária de Trás-os-Montes e Alto Douro, ainda na vigência do Estado Novo, trabalhou, embora por pouco tempo, nesta instituição pública voltada para a agricultura, o Guineense  Amílcar Lopes Cabral. Formara-se em Agronomia, no Instituto Superior de Agronomia, na área da grande Lisboa, onde conheceu, como colega de curso, Maria Helena de Ataíde Vilhena Rodrigues que nasceu em Casas Novas, do concelho de Chaves. Ela era filha de um conhecido militar de carreira e prima direita do pintor Flaviense, Nadir Afonso. Cabral nascera, exactamente, em Bafatá, em 1924. Casaram em 20 de Dezembro de 1951 e fixaram residência na Av. Barbosa du Bocage, 90, em Lisboa. Cabral negou o convite para Assistente naquele Instituto, mas aceitou trabalhar, como adjunto, dos serviços agrícolas e florestais do Ministério do Ultramar. Foi nessa condição e por essa altura que procurou conhecer a realidade do país, possivelmente já a pensar no projecto autonómico que viria a desencadear e que seria o primeiro movimento de libertação, de entre outros que, de imediato, se formaram em Angola, Moçambique, Timor etc.
 Em 20 de Setembro de 1952 o casal luso-guineense, chega a Bissau e passa a residir na casa do director da Granja Experimental, onde se lhe junta sua Mulher. É colocado no Posto Agrícola de Pessubé (Bissau), como director. Em 1953 nasce a 1ª filha, de nome Iva Maria. Em 1955 funda o Movimento para a independência Nacional da Guiné. Em 1956 funda o PAI (Partido Africano da Independência) que se alarga a Cabo Verde, como PAIGC. Entre 1956/57 funda, com outros líderes angolanos, o MPLA. Passou a caixeiro viajante entre Portugal, Angola, Cabo Verde e Guiné. Dessa sementeira brotam os primeiros conflitos p'rá libertação. Em 1960 corta definitivamente com Portugal e envolve-se a tempo inteiro nessas causas libertadoras dos povos africanos. Em 16/7/1967 iniciou, na Rádio Libertação, uma série de emissões, a partir do Conakry. Em  1968 ataca o aeroporto de Bissalanca (a 10 km de Bissau). Em 3 de Fevereiro de 1969 é assassinado Eduardo Mondlane, presidente da Frelimo. A. Cabral move-se perfeitamente na cena internacional, incuindo na ONU que toma a Resolução 275 contra a ocupação indevida dos territórios ocupados por Portugal. Em Janeiro de 1961 inicia-se a luta armada em Angola e, já no ano anterior o PAIGC, dominava dois terços da Guiné e de Cabo Verde. Os movimentos de libertação estenderam-se a Timor. Amílcar Cabral fora dos principais activistas nessa odisseia libertária, contra o domínio português. Mas tamanho empenhamento desse carismático líder, custar-lhe-ia o assassinato, em 20 de Janeiro de 1973, por homens do próprio PAIGC e em Conakry.  A mulher e as duas filhas desertaram e correram dezenas de países em busca de abrigo.
Durante treze anos o país anfitrião canalizou todos os meios financeiros, humanos e logísticos para assegurar a supremacia nas antigas províncias ultramarinas. Amílcar Cabral ainda teve uma segunda filha da Mulher com quem casou. Essa filha mais nova nasceu em 14 de Agosto de 1962 e recebeu o nome de Ana Luísa. A primeira pertenceu, desde sempre, aos quadros do MPLA. A mais nova licenciou-se em medicina e trabalha no distrito de Braga.  Ana Luísa visita regularmente a aldeia da Mãe, quase à entrada de Chaves. Sabemos que, ao contrário da irmã, não se envolve em política partidária.

 Em 14 de Junho último o vice-presidente da Câmara de Mirandela, Dr. Rui Magalhães, apresentou o seu mais recente livro sobre  a caracterização das freguesias de Portugal, na sede da Casa de Trás-os-Montes e Alto-Douro do Porto. Acompanhou-o o Presidente da Junta de Mirandela, Prof. José Eduardo Almeida que pessoalmente não conhecíamos. Soubemos que nasceu na Guiné, mas com origem em Trás-os-Montes. Para completar a trindade perfeita, o Dr. José Manuel Pavão, Mirandelense dos mais ilustres e Presidente da Assembleia Municipal de Mirandela. No diálogo que travámos veio à baila o binómio  Guiné-Mirandela. Já tínhamos lido que as duas cidades se haviam geminado, por afinidades emigratórias, telúricas e humanas. Confirmámos que foi na presidência  do médico José Manuel Pavão que, em 15 de Fevereiro de 2008, se celebrou essa fraternidade política, social e cultural.
Talvez os Mirandelenses, mesmo os mais idosos, não se lembrem da passagem de Amílcar Cabral por Mirandela. Mas meu pai trabalhava no Posto Experimental de Montalegre, quando eu nasci. Essa extensão da Zona Agrária de Mirandela, algumas vezes recebeu lá, esse técnico mestiço. Meu Pai conheceu-o. E, quando fui mobilizado para o Ultramar, disse-me em tom carinhoso – vê se encontras, por lá, o meu patrão, Engº Amílcar Cabral. Pode ser que ele te valha....                                                                                                                  
 Barroso da Fonte


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