Jorge Lage |
Também, o meu irmão mais velho me tinha contado uma cena em
que um seu conhecido dos tempos de magala, lhe contara como pediu numa romaria,
ocultando um braço por baixo da camisa, a quem o braço visível ia entregando as
moedas, rematando com um palavrão.
Em Braga, com a enxurrada de nómadas das terras do Drácula, é
vulgar ver estrangeiros de tez morena, novos e corpulentos e novas a pedir
disputando o território a um ou outro indigente local. Chegam em carrinhas e
são largados em locais estratégicos da cidade.
Como, habitualmente, vou à missa das nove horas, em S.
Victor, lá está o mesmo à porta, penso que amputado de um pé. Bem ataviado e
escanhoado, só que por cima mete um kispo velho e sujo. Faz as duas primeiras
missas e depois é recolhido e desaparece durante a semana. Quando as pessoas
saem, estende a mão, dão-lhe a esmola e nem lhe olham para a cara.
Um dia adverti o meu amigo Zé Costa, de Alfândega da Fé, que
devia ter na família quem precisasse mais da esmola do que o «mendigo». Ele
anuiu, mas, de quando em vez, lá vai dando a esmola.
Houve um fim-de-semana ou outro em que o «mendigo» deve ter
metido férias e lá veio outro de tez morena, muito bem vestido (era domingo),
só o kispo a cobrir estava sujo e desleixado. Era vinte a trinta anos mais novo
que o «profissional» efectivo. Safou-se às mil maravilhas porque as pessoas
davam mas nem lhe reparavam na cara.
Pelo que me tem sido dado observar, a maioria dos que dão
devem precisar mais do que quem pede e recebe.
Muitos preferem dar ao mendigo e esquecem-se da contribuição
na missa. Ignoram os peditórios para as causas sociais, entregando a quem
desconhecem.
O «mercado» está bem estudado pela «empresa» que os movimenta
e nós temos tanta causa a apoiar, mesmo no nosso bairro a sempre a quem ajudar.
Mas parece que dar esmola em público promove quem dá.
Pessoalmente, faço as entregas na minha paróquia e dou para
as causas públicas bem identificadas. Nunca abram a porta a pedintes
desconhecidos que lhes batam à porta, porque podem ser assaltados, como tantos
incautos e ingénuos.
Jorge Lage – jorgelage@portugalmail.com
– 03MAI2014
Provérbios ou ditos:
A quem em
Maio come sardinha, em Agosto lhe pica a espinha...
Até aos
quarenta de Maio, não tires o saio e se voltar a chover, volta-o a por.
Em Maio de
mim me caio, seja com a amaiola, seja com o trabalho.
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