COSTA PEREIRA |
E finalmente, para encurtar distância, vamos subir
daqui pela Canada do Caldeira com destino a Angra, a fim de nos despedirmos da,
ainda agora, mais portuguesa terra açoriana, se tivermos em atenção o facto de
nos arredores da cidade se situar o palácio e o Gabinete do Ministro da
Republica. São uns 18 km. de boa estrada que, de norte para sul e rompendo pela
florestada encosta do vulcânico Mistério
Negro, vamos percorrer, atravessando por entre os picos Gordo (622m) e do
Fogo (519m), o coração montanhoso da ilha. Aqui no interior do
"sertão" predomina o gado bravo
ou de touradas e que nada tem a ver com o gado
de trabalho típico do Ramo Grande
- uma raça bovina muito corpulenta e rústica, de cor avermelhada, em alguns
casos sarapintada de malhas amareladas ou brancas, a fazer lembrar a raça
barrosã e mirandesa -, nem tão pouco com o gado
leiteiro que a certas horas do dia invade estradas e caminhos da ilha em
direcção aos postos de ordenha mecânica, e ao qual os açorianos pacientemente
dão a prioridade de circulação, como aliás o fazem na cidade ou povoações, em
relação aos peões e viaturas circulantes, num rigoroso respeito e cumprimento
pelas regras do trânsito. Neste aspecto, os continentais têm muito que aprender
com os terceirenses, em termos de educação e civismo. Em Angra, o momento de
partir aproxima-se. Há que aprontar as malas e pela bem delineada via rápida
que separa o "miradouro da Memória" do "miradouro do
Facho", após um percurso de cerca de 24km, atempadamente chegar ao
Aeroporto das Lages. Depois, em vez de barco, "embarcar" em seguro
avião da TAP- Air Portugal de regresso à capital, Lisboa. Mas antes saudar uma
população hospitaleira, laboriosa, ordeira , alegre e feliz que ao longo dos
séculos se tem sabido adaptar à evolução das técnicas e às circunstâncias daí
resultantes. Parcela geográfica que com as demais forma o arquipélago açoriano,
desde 1976 designado por Região Autónoma dos Açores, a ilha Terceira que outrora
foi cerealífera, depois produtora de pastel, de vinho e de laranja é hoje um
potencial económico na área da agro-pecuária e lacticínios, com cerca de
100.000 vacas leiteiras a pastarem. Também na actividade pesqueira foi e é muito importante, mas já o foi mais antes
de ser proibida a faina baleeira, onde no Negrito (Angra) teve grande impacto.
Quanto a praias, como poucas são as de areia fina, o problema daquelas com
"areia de quilo ou de quilos" está resolvido mediante um inteligente
aproveitamento dos espaços côncavos que na superfície rochosa, ao longo da
orla, o mar moldou e alimenta, transformando esses locais em convidativas zonas
de banho e lazer (as afamadas piscinas naturais) ao serviço do turismo
balnear. É este, prezados leitores, o
esboço feito à volta de um pedaço de Portugal suspenso no alto mar, que dou por
concluído, convidando quem poder a deslocar-se até lá para ver, apreciar e confirmar in loco. ([1])
Bibliografia:
Açores
Natureza Viva (Guia), da Clássica
Publicações - Ponta Delegada.
Terceira, de José
António Graça Vieira, da Clássica Publicações- Ponta Delegada.
Portugal no
Mundo (Séculos XII-XV), das Selecções
do Readers Digest
Desdobráveis, da Direcção Reçãogional
de Turismo dos Açores - Delegação de
Turismo da Terceira
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([1]) Este modesto trabalho surgiu
em consequência de um passeio que, gerido pelo INATEL e promovido pelo
Ministério da Economia, Ministério da Segurança Social e do Trabalho, fiz com minha mulher, em meados de Abril, à
ilha Terceira, integrado no "Programa Turismo Sénior / 2004". Do
contacto com gente, paisagem e património construído da ilha, gerou-se em mim a
tentação de "cronificar" as impressões de viagem. Dei-lhe trato no
plural, pois não fora a ajuda bibliográfica que tive, pouco saberia contar do
muito que vi e admirei. Também se não fora a generosidade deste orgão de
informação e cultura, o fruto da minha carolice ficaria ignorado à toa nos
arquivos do autor; daí o meu sincero bem
haja a quem amavelmente o divulgou e a quem, com mais ou menos apreço, em 15
"pedaços" o leu. - Costa Pereira.
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