quinta-feira, 19 de junho de 2014

COSTA PEREIRA - Um pedaço de Portugal suspenso no alto-mar – XV


  
COSTA PEREIRA
Os biscoitos eram uns pães negros, feitos de farinha de trigo, que os marinheiros, no tempo das Descobertas, levavam nas caravelas para se alimentarem. Quando da descoberta, ou do inicio do povoamento, chegaram à Terceira os primeiros colonos, uma das surpresas foi encontrarem o solo coberto de fragmentos de rocha com a cor e feitio do biscoito. Perante o fenómeno até deram o nome de "Mistério Negro" a uma das principais elevações montanhosas da ilha, e a designação de "biscoitos" a todo o tipo de rocha vulcânica. A última freguesia do concelho da Praia da Vitória que, no sentido da costa Norte e no percurso à volta da ilha, vai confrontar com o de Angra do Heroísmo, na freguesia dos Altares, tomou a designação de Biscoitos para si, topónimo cuja origem fica conhecida . É um lugar digno de ser visitado que foi " tornado freguesia em meados do séc. XVI, e desde logo um local de veraneio das populações da ilha". Com igreja antiga, consagrada a São Pedro, tem desde a década de 60 do passado século, mais outro templo, de moderna arquitectura, dedicado ao Imaculado Coração de Maria. Famosa pelo seu "verdelho" cuja história localmente pode e dever ser apreciada no didáctico Museu do Vinho, da família Brum, a freguesia dos Biscoitos, com 1.425 habitantes, para além do vinho, tem actualmente na agro-pecuária e na produção de boa fruta um verdadeiro tesouro rural. Também no domínio da pesca, o porto dos Biscoitos é considerado o mais importante da costa Norte da ilha, e junto dele vai "crescendo uma das mais agradáveis e conhecidas zonas balneares com diversas áreas de banho aproveitadas entre as rochas (de biscoitos), formando belas piscinas naturais". Isto, ao que se diz, em prejuízo da vinha do "verdelho", cuja cepa se crê, em relação à do "americano", ser a mais antiga introduzida pelos povoadores na ilha, que está sendo ameaçada pela desenfreada procura de terrenos para construção, pondo em risco a cultura desse vinho nos locais a urbanizar. Ao mesmo tempo que vem descaracterizar a paisagem mais típica da freguesia e da ilha Terceira. Como o verdelho, também, quanto a nós, a produção do "americano", o vinho de cheiro, por tão afamado no tempero gastronómico da ilha, devia ser autorizado comercializar, ainda que só para aquele específico fim. É um assunto a ponderar por parte de quem de direito.
E finalmente, para encurtar distância, vamos subir daqui pela Canada do Caldeira com destino a Angra, a fim de nos despedirmos da, ainda agora, mais portuguesa terra açoriana, se tivermos em atenção o facto de nos arredores da cidade se situar o palácio e o Gabinete do Ministro da Republica. São uns 18 km. de boa estrada que, de norte para sul e rompendo pela florestada encosta do vulcânico Mistério Negro, vamos percorrer, atravessando por entre os picos Gordo (622m) e do Fogo (519m), o coração montanhoso da ilha. Aqui no interior do "sertão" predomina o gado bravo ou de touradas e que nada tem a ver com o gado de trabalho típico do Ramo Grande - uma raça bovina muito corpulenta e rústica, de cor avermelhada, em alguns casos sarapintada de malhas amareladas ou brancas, a fazer lembrar a raça barrosã e mirandesa -, nem tão pouco com o gado leiteiro que a certas horas do dia invade estradas e caminhos da ilha em direcção aos postos de ordenha mecânica, e ao qual os açorianos pacientemente dão a prioridade de circulação, como aliás o fazem na cidade ou povoações, em relação aos peões e viaturas circulantes, num rigoroso respeito e cumprimento pelas regras do trânsito. Neste aspecto, os continentais têm muito que aprender com os terceirenses, em termos de educação e civismo. Em Angra, o momento de partir aproxima-se. Há que aprontar as malas e pela bem delineada via rápida que separa o "miradouro da Memória" do "miradouro do Facho", após um percurso de cerca de 24km, atempadamente chegar ao Aeroporto das Lages. Depois, em vez de barco, "embarcar" em seguro avião da TAP- Air Portugal de regresso à capital, Lisboa. Mas antes saudar uma população hospitaleira, laboriosa, ordeira , alegre e feliz que ao longo dos séculos se tem sabido adaptar à evolução das técnicas e às circunstâncias daí resultantes. Parcela geográfica que com as demais forma o arquipélago açoriano, desde 1976 designado por Região Autónoma dos Açores, a ilha Terceira que outrora foi cerealífera, depois produtora de pastel, de vinho e de laranja é hoje um potencial económico na área da agro-pecuária e lacticínios, com cerca de 100.000 vacas leiteiras a pastarem. Também na actividade pesqueira foi e  é muito importante, mas já o foi mais antes de ser proibida a faina baleeira, onde no Negrito (Angra) teve grande impacto. Quanto a praias, como poucas são as de areia fina, o problema daquelas com "areia de quilo ou de quilos" está resolvido mediante um inteligente aproveitamento dos espaços côncavos que na superfície rochosa, ao longo da orla, o mar moldou e alimenta, transformando esses locais em convidativas zonas de banho e lazer (as afamadas piscinas naturais) ao serviço do turismo balnear.  É este, prezados leitores, o esboço feito à volta de um pedaço de Portugal suspenso no alto mar, que dou por concluído, convidando quem poder a deslocar-se até lá para ver, apreciar  e confirmar in loco. ([1])

Bibliografia:

Açores Natureza Viva (Guia), da Clássica Publicações - Ponta Delegada.

Terceira, de  José António Graça Vieira, da Clássica Publicações- Ponta Delegada. 

Portugal no Mundo (Séculos XII-XV), das Selecções do Readers Digest

 Desdobráveis, da Direcção Reçãogional de Turismo dos Açores - Delegação de
Turismo da Terceira

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([1]) Este modesto trabalho surgiu em consequência de um passeio que, gerido pelo INATEL e promovido pelo Ministério da Economia, Ministério da Segurança Social e do Trabalho,  fiz com minha mulher, em meados de Abril, à ilha Terceira, integrado no "Programa Turismo Sénior / 2004". Do contacto com gente, paisagem e património construído da ilha, gerou-se em mim a tentação de "cronificar" as impressões de viagem. Dei-lhe trato no plural, pois não fora a ajuda bibliográfica que tive, pouco saberia contar do muito que vi e admirei. Também se não fora a generosidade deste orgão de informação e cultura, o fruto da minha carolice ficaria ignorado à toa nos arquivos do autor; daí  o meu sincero bem haja a quem amavelmente o divulgou e a quem, com mais ou menos apreço, em 15 "pedaços" o leu. - Costa Pereira.






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