terça-feira, 17 de junho de 2014

COSTA PEREIRA - Um pedaço de Portugal suspenso no alto-mar – XIV



      
COSTA PEREIRA
  Encontramo-nos situados numa das zonas que certamente mais cobiça deportou no espírito aventureiro dos primeiros colonos da Terceira, onde para além dos flamengos, segundo Artur Teodoro de Matos, predominam os continentais e madeirenses, na maioria oriundos de: "Guimarães, Porto, Aveiro, Lisboa e Lagos, por exemplo, chegaram colonos, muitos deles "nobres fidalgos", a quem foram distribuídas dadas de terra. É curioso observar que muitos vieram da Madeira, cuja colonização se havia iniciado há pouco mais de trinta anos".
      A densa floresta de grossas árvores aguçou o apetite dos mercadores e, entretanto, o espaço arroteado foi dando lugar a uma extensa área arável onde a breve trecho surge um dos mais importantes centros cerealíferos do novo mundo insular que, com a cultura do pastel, se torna na principal moeda de troca comercial e  "celeiro do Reino". As Lajes, freguesia que, praticamente, é hoje a continuação da cidade da Praia, com 3.753 habitantes é, também, a maior e a mais conhecida localidade da ilha por ter dado o nome à famosa base militar e ao aeroporto internacional que até mudou a vida e os hábitos de quem ali vive, e não só...Como as demais freguesias do concelho tem a sua maior riqueza na agricultura, a par de pequenas industrias ligadas à construção civil e um notável movimento comercial e industrial. Localidade fértil, que foi em tempos o celeiro da ilha, para além do trigo também como no Minho, Douro Litoral e Beira Litoral ainda actualmente cultiva milho em abundância. Tem igreja (reformada nos séculos XIX e XX) , desde 1564, e dedicada a São Miguel, daí ser curiosamente a freguesia que encerra o ciclo das festas na ilha Terceira. Da riqueza do seu solo rezam os antigos alfarrábios:  " Nesta Freguesia há muitas terras fértiles de pão e muitos biscoitos plantados de vinhas (...) e há nela muitos homens nobres e ricos...".
        São Brás é também uma freguesia dedicada à agro-pecuária, com uma população de 1.012  habitantes, uma boa parte desta trabalha nas Bases (portuguesa e  americana) das Lajes. Foi criada freguesia, em 1951, e tornou-se paróquia, em 1958. Tem igreja inicial, desde o séc. XV, consagrada a São Brás, que tendo sido bastante danificada pelo sismo de 1980, de imediato foi restaurada.
        Segue-se-lhe a Vila Nova, uma das mais antigas localidades da ilha, conhecida desde o séc.XV. Dotada de belas paisagens com vales, ravinas, fontes e bonitos edifícios no seu aglomerado. Para além da agricultura e apesar duma costa muito alta, a freguesia de Vila Nova, com 1.729 habitantes, tem um bom porto de pesca e uma concorrida zona balnear de piscinas naturais. Tem uma bem cuidada igreja paroquial, consagrada ao Divino Espírito Santo, e é a freguesia que no largo principal, junto ao "Império" local, em domingos do Espírito Santo "ainda mantém a tradição de expor os carros do bodo".
      Rica e afamada é a freguesia de Agualva que, mais para o interior, deve o topónimo, segundo a lenda, a uma das suas ribeiras, cuja "água alva" tornava a roupa tão alva como se fosse lavada com sabão. Com 1.573 habitantes, esta freguesia é consagrada à Virgem de Guadalupe ( Nossa Senhora de Guadalupe). Embora a igreja paroquial tenha na fachada a data de 1678 é convicção geral que se trata de um templo do séc. XVI; aquela data, portanto, só pode ter a ver ao que se supõe com a "consagração ou alguma reconstrução" posterior. O seu "Império" do Espírito Santo é de 1873. Muito fresca, com matas extensas e abundantes pomares é hoje ali muito significativa a "actividade resultante da exploração de madeira, designadamente eucalipto e criptoméria". Integrada neste fértil universo rural do Ramo Grande, beneficia toda uma população activa que se dedica e vive da agro-pecuária, serviços, construção civil, serração de madeiras e pequenas industrias.   
         As Quatro Ribeiras, onde Jácome de Bruges fixou o primeiro grupo de povoadores da ilha, deve o seu nome a quatro linhas de água que ali passam, e tem Santa Beatriz por orago. Embora com várias reconstruções que lhe deram o aspecto actual, a sua igreja remonta ao séc. XV e é a primeira, na Terceira, dedicada à princesa D. Beatriz. "É uma freguesia fresca, com vales e outeiros plantados de vinha e pomares e com várias fontes de água". Numa das ribeiras que desagua numa rochosa baia, agora transformada em apreciada zona balnear de piscinas naturais, enumeras azenhas embelezaram outrora o seu percurso. De qualquer modo, não obstante ser das mais antigas e das primeiras a serem povoadas, em termos demográficos, Quatro Ribeiras, é hoje uma freguesia com pouca expressão, apenas 423 habitantes. É o fruto de viver afastado dos grandes centros urbanos.

           Dos Biscoitos que é a ultima freguesia da Praia da Vitória, na costa Norte da ilha, falaremos a seguir.

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