BARROSO da FONTE |
José Maria Espírito Santo Silva |
Eça de Queirós (1845-1900) é um esclarecedor exemplo.
Alfredo Pimenta (1882-1950), foi «exposto na roda» e acolhido por um tio padre.
Escreveu quase duzentas obras, sobre matérias muito diversas. E tem o nome na
praça. Em Lisboa, em Guimarães, em Penouços
e, certamente, noutros grandes meios do país. Haveria tantíssimos outros
exemplos a referir. Mas fixo-me no «caso» do fundador do Banco Espírito Santo
que o Suplemento do Dinheiro Vivo, do JN de 24 de Maio, insere em 3
páginas (08-09 e 10). Uma biografia apaixonante sobre José Maria Espírito Santo
Silva. «Recebe o nome de Maria, Mãe de Deus, sua Madrinha de
baptismo, do Espírito Santo, quando se crisma; e Silva, talvez,
como seu pai», lê-se nesta fonte. Curioso é o relato que se descreve no assento
que foi escrito em 1850: «Aos vinte dias do mês de Maio de 1850 baptizei – José
– que nasceu a 13 do corrente, filho de pais incógnitos, apresentado nesta
Igreja pela parteira Hipólita Joanna» dita o padre Joaquim, coadjutor na igreja
da Encarnação.
Carlos Damas, do arquivo histórico do BESCL, segue a
pista do conde de Rendufe, intendente-geral da Polícia. Atribui-lhe a
paternidade da criança nascida nos Fiéis de Deus. Tem até um retrato do fidalgo
pendurado numa das salas da Rua do Comércio. O conde era padrinho de Maria
Angelina que criou o rapaz, a quem nunca fez passar as privações comuns a estas
crianças na Lisboa dickensiana do século XIX. «Mas factos só com provas».
Adiantou o arquivista. A verdade é que, aos 19 anos quando casa pela primeira
vez, José Maria já é dado como cambista estabelecido na Calçada do Combro.
Começa por distribuir cautelas da lotaria espanhola. Aproveita a enchente de
carlistas que, na década de 70, procuram abrigo em Lisboa.
Eça de Queirós |
Nessa fase difícil, trabalhando até às 2 h da
madrugada para retomar o trabalho da escrita às 5 ou 6 da manhã, escreverá:
«Mais vale perder pouco e cedo do que muito e tarde. Descontente com o negócio
dos cupões espanhóis, dedica-se à compra e venda de títulos nacionais e
estrangeiros. Passa todas as tardes pela Bolsa de Lisboa para acompanhar a
evolução das cotações. Passa a negociar lotes no Passeio Público, mesmo sabendo
que será arrasado para a abertura da Avenida da Liberdade. Conhece o Campo de
Ourique, como zona de construção. E ali arrenda a exploração de uma pedreira,
passando a vender lotes construídos. Em apenas dez anos consegue amealhar um
milhão. O Ultimato Inglês cria novas dificuldades. Apesar de tudo passa a
comprar prédios por toda a cidade de Lisboa. Nessa altura casa pela segunda vez
com Rita Ribeiro de quem tem quatro filhos.
Alfredo Pimenta |
Mesmo
assim, em 9 de Abril de 1920, era lançado o Banco Espírito Santo. Mudanças profundas
nos quadros, envolvimento transversal a instituições comerciais e industriais,
junção do Grupo Espírito Santo à poderosa Casa dos Espíritos, proveniente do casamento de Ricardo, com Mary Cohen,
filha do um conhecido financeiro de Gibraltar. O irmão mais velho apaixona-se
pela cunhada, Vera Cohen. Mas a irmã de ambos, de nome Maria, reprova o segundo
casamento e acaba por fazer com que o José case com Maria José Borges Coutinho,
de quem tem 3 filhos. A Vera Cohen também casa mas não tem filhos.
Em 1932 o José combina com a Vera e fogem, de
comboio, para Paris, onde casam. Esse escândalo provoca a passagem da Presidência do banco para a influência do
irmão Ricardo. Foi estratégica para a reviravolta gerada pelo escândalo do José
que devolveu ao irmão todo o poderio
financeiro de um dos mais importantes bancos Portugueses. O Estado Novo
beneficiou da abundância e sucessos financeiros dessa Instituição. Foi assim
nas duas primeiras gerações e tem continuado na terceira.
O
que me inspirou nesta crónica foi o desprezo social com que José Maria Espírito Santo Silva
«filho de pais incógnitos» veio ao mundo. Citei Eça de Queirós e Alfredo
Pimenta, como exemplos semelhantes. Três figuras Portuguesas que provieram do
nada e ascenderam aos píncaros do prestígio pelas mais nobres razões. Uma lição
de vida para quem nasce em condições de pouquidade material e humana, mas que
demonstra na vida real a superação dessas barreiras, desde que faça do
trabalho, da honradez e da dignidade os três valores supremos.
Barroso
da Fonte
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