quinta-feira, 20 de março de 2014

Kasparov pronuncia-se sobre a acção da Rússia na Crimeia


News for Kasparov fala sobre a Crimeia

Beata Cieszynska / José Eduardo franco

Mestre do xadrez fala de «póquer agressivo» e compara Crimeia às anexações de Hitler

O Presidente russo está a jogar um «póquer agressivo» na Ucrânia e a anexação da Crimeia é semelhante à de Hitler na Áustria, considerou hoje em Lisboa o antigo campeão mundial de xadrez, Garry Kasparov.

«Na atual situação na Ucrânia não se pode utilizar a analogia do xadrez, porque o xadrez significa que se jogam com as regras. Se um lado destrói todas as peças apenas porque não gosta da posição, e sabem a que lado me refiro...», considerou Kasparov, 50 anos, ex-ativista político e ainda considerado por diversos responsáveis ocidentais como um símbolo da oposição ao Presidente russo Vladimir Putin.
«Se observarmos o atual quadro global, deve utilizar-se antes a analogia do póquer. Putin é mais agressivo a jogar póquer porque pode fazer bluff. Tem uma mão fraca, mas pode fazer bluff», sublinhou.
Natural do Azerbaijão e atualmente com nacionalidade croata, Kasparov deslocou-se a Portugal a convite da Federação Portuguesa de Xadrez e reuniu-se hoje com o ministro da Educação Nuno Crato, numa iniciativa destinada a promover a modalidade nas escolas.
«É semelhante ao que Hitler fez com os sudetas. Se não houver reação a situação só vai piorar, porque qualquer ditador se torna mais forte com a nossa fraqueza», referiu à saída do encontro com Nuno Crato, numa analogia com a anexação pelo III Reich dos territórios com maioria de população alemã na Checoslováquia, em 1938.
Aleksandr SljenitsinNa perspetiva do antigo membro da coligação de oposição «A Outra Rússia», que em 2008 tentou sem sucesso disputar as eleições presidenciais contra Putin, a anexação da Crimeia, após o referendo de domingo e as decisões das autoridades de Moscovo, significam «o fim do mundo» herdado após o final da Segunda Guerra Mundial.
«Desde 1945 que ninguém, à exceção de Saddam Hussein, tinha anexado territórios de Estados vizinhos. Houve muitas guerras, exércitos que atravessaram fronteiras e regressaram, mas anexação foi apenas o caso do Kuwait», recorda.
O mestre de xadrez recorreu ainda ao exemplo do «Anschluss», a anexação da Áustria pela Alemanha de Hitler em março de 1938, para reforçar a sua tese.
«Anexação é Anschluss, da Áustria, dos territórios dos Sudetas [na Checoslováquia] e de seguida as guerras de Hitler, e depois Saddam Hussein e agora Vladimir Putin. A forma como foi feita [a anexação da Crimeia] exige uma resposta. Se nada for feito... A própria ideia de União Europeia, baseada no consenso, na negociação, ficará comprometida».
Após recordar que a «integridade territorial da Ucrânia» foi garantida em 1994, três anos após a declaração da independência, em troca do desarmamento nuclear ucraniano, o opositor de Putin considera que foi ultrapassada a «última linha vermelha» e receia que o desfecho implique uma nova corrida às armas nucleares.
«Se os Estados Unidos e o Reino Unido não reagirem, qual o valor da assinatura de um Presidente dos EUA?», interrogou-se. «A Ucrânia poderá reconstruir o seu arsenal nuclear, e como poderemos dizer aos iranianos para prescindirem de armas nucleares quando se verifica que é a única proteção no mundo...».
Kasparov considerou «absolutamente vital» uma demonstração de «vontade política» para rejeitar que no século XXI se possa estar a conduzir o mundo para uma nova guerra generalizada.
«Hoje, no seu discurso, já deixou bem claro que a Rússia poderá considerar o leste e o sul da Ucrânia uma parte da restauração da União Soviética, na República da Moldávia o movimento separatista já está a tentar juntar-se à Rússia... Trata-se de instabilidade global, e não estamos em 1938».
Para Kasparov, o «mundo livre» possui diversas formas de exercer pressão sobre Moscovo sem mobilizar os seus exércitos, em particular no campo económico e devido à «dependência da economia russa face às instituições financeiras do ocidente».
Assim, propôs que se atinjam os oligarcas russos, «o que poderá ser um sério golpe, referimo-nos a centenas de milhares de milhões de dólares de fortunas por todo o mundo», sugeriu sanções dirigidas às mais importantes companhias estatais russas «totalmente dependentes de créditos ocidentais», ou aos bens do Estado russo, «reservas colocadas sobretudo nos Estados Unidos mas também pela Europa».
Apesar dos «reflexos negativos mútuos» das sanções, Kasparov garante que a economia russa «simplesmente não conseguirá sobreviver por muito tempo se for isolada do resto do mundo», assegurando ainda que a Europa «poderá facilmente garantir» alternativas à sua dependência de petróleo e gás russos.
Diário Digital com Lusa

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