segunda-feira, 17 de março de 2014

Barroso da Fonte - João de Araújo Correia em tese de Mestrado do Jurista Manuel Martins de Freitas


Barroso da Fonte
Barroso da Fonte
Não pude ser o primeiro recensor a dar testemunho público do livro que me chegou com data de 13 de Janeiro, com generosa dedicatória do seu Autor, Mestre Manuel Joaquim Martins de Freitas. Mereciam (livro e Autor) que eu correspondesse a essa distinção. Mas o tempo, a memória e o peso de tantos anos de trabalho ininterrupto, contribuíram para este retardamento que tem a vantagem de me permitir uma leitura pausada, como merecem a Vida e a Obra de João de Araújo Correia e o Académico Martins de Freitas.
Tive a sorte de conhecer pessoalmente este médico Duriense. Trocámos correspondência e com ele aprendi muito do pouco que sei. Conservo dele e de vários outros escritores Transmontanos, correspondência inédita de : Guedes de Amorim, do filho Camilo de Araújo Correia, de Miguel Torga, de Mário Gonçalves Carneiro, de Alberto Miranda, de Gonçalinho de Oliveira, de António Cabral. Trás-os-Montes e Alto Douro sempre foi berço de muitos e notáveis escritores. E esse estatuto prossegue com nomes que honram os seus antecessores: Adriano Moreira,  Hirondino Fernandes, A. M. Pires Cabral, Amadeu Ferreira, Ernesto José Rodrigues, Armando Palavras, Jorge Lage, Jorge Golias, Henrique Pedro, Luís Oliveira, Francisco Gouveia, Barros Ferreira, Ribeiro Aires, Caseiro Marques, Bento da Cruz, Lourenço Fontes, Dias Vieira e tantos quantos justificam a fundação da Academia de Letras de Trás-os-Montes, o Grémio Literário e outros organismos culturais. Na senda desses renomados criativos vão surgindo, um pouco pela antiga Província que as Comunidades intermunicipais vieram perturbar, num processo administrativo condenável por vários motivos. A identidade cultural é um desses malefícios.
  O ilustre Advogado Manuel Joaquim Martins de Freitas, sediado na Régua sempre manifestou propensão para as letras. Tem colaboração dispersa por diversos jornais e revistas, fez palestras, editou opúsculos e, após um quarto de século como jurista e como delegado concelhio da Ordem dos Advogados entendeu regressar à vida académica para frequentar na UTAD, um Mestrado na área da Cultura Portuguesa. Após a parte lectiva é obrigatório desenvolver um tema original sob a coordenação de um orientado que com mais dois doutorados constituem o júri dessa defesa pública.
Fernando Moreira foi seu professor e Orientador. Mário Pinto, outro docente da mesma área científica foi arguente. E, trabalhando  e vivendo na Régua que foi berço de João de Araújo Correia, que «foi mestre na crónica», e figura incontestada  da literatura Portuguesa, nenhum outro tema seria mais apropriado para uma dissertação que há muito se esperava.
Memória e Património Cultural nas Crónicas Durienses de João de Araújo Correia, foi o tema desse grau académico registado em 2010  nos Serviços científicos da UTAD.  Em 264 páginas, com  dezenas de fotos, a preto e branco e a cores, Martins Freitas, reuniu vivências de uma vida complexa, rica e diversificada. Dessa pesquisa  resultou uma obra em que nada escapa à observação do investigador e que o obrigou a rebuscar aspectos inéditos e originais, porque essa é a essência de uma tese.
Já bastante se escreveu sobre a fecundidade deste Autor Duriense. Mas muitos aspectos dessa exuberância gravitacional ainda se encontrava nas catacumbas da memória mais empedernida. Faltava-lhe o zigoto da fecundação literária. Dessa descoberta se incumbiu Martins de Freitas que cedo se habituara ao «fascínio que João de Araújo sentia pela Região do Douro que amiúde, a tratava por «o meu país vinhateiro» ou «o meu pátio Doiro». Na introdução o investigador esclarece o leitor de que «o corpus deste ensaio se circunscreve às crónicas relativas à memória, à identidade e ao património cultural do Douro, incluindo o  etnográfico, publicadas em cerca de 50 anos. As crónicas a analisar vão desde a recolha publicada no volume «Sem Método», de 1938, às publicadas no Jornal O Arrais, semanário do Peso da Régua, desde o seu primeiro número, de 23 de Março de 1978 a 31 de Dezembro de 1985, altura em que o escritor faleceu. Adverte Martins de Freitas que «tivemos de fazer opções na escolha do tema. Inclinamo-nos para a memória, a identidade e o património cultural. Neste se insere a etnografia duriense».
 Depois da explicação introdutória que é fundamental à interpretação do leitor, Martins de Freitas entra na biografia do biografado e dele  diz  aquilo que em João de Araújo Correia, num estudo como este não poderia ser subestimado. Elaborou um esquema amplo e envolvente à dimensão dos parâmetros a inquirir para concluir por três capítulos elementares: etnografia, etnologia e antropologia. É essa a trilogia que resulta da obra de João de Araújo Correia à luz do campo de análise que quis invocar na sua produção literária. Uma espécie de monografia duriense que, de ora em diante, obrigará todos aqueles que pretendam falar deste pedaço de céu implantado nas margens do Rio Douro, a citar o mais importante livro que se editou acerca do papel do médico João de Araújo Correia,desde a sua morte em 31/12/1985.

                                                                                                                            Barroso da Fonte         

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