segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

Jorge Lage e as suas notas de Rodapé no Noticias de Mirandela

NOTAS DE RODAPÉ (102)
  
Jorge Lage
1- As minhas notas Foram pensadas para levar informação útil aos amigos leitores, sem os castigar com textos longos. Quase trinta anos é uma vida como voluntário num projecto de escrita para a minha cidade e para o Notícias de Mirandela. Ultimamente, parece que o tempo anda encarramolado e não consigo arranjar espaço mental para os textos maiores a que tinha habituado os leitores. Acho que pouco faço e que não aproveito bem o tempo, mas o ideal era pegar na escrita de ajusto e trazê-la para as páginas do jornal. Seja como for, depois de chegar à «Nota de Rodapé n.º 100», deveria fazer uma avaliação maior desta espécie de bilhetes escritos. Penso que os pequenos textos são mais convidativos. Eu como leitor só leio o que me suscita interesse. Não é fácil escrever para um jornal de província e pensar, antes de mais, no leitor. A maioria dos que escrevem nos jornais regionais pensa mais neles e menos em quem vai ler o texto. Nas notas abordo mais assuntos, interessando umas a uns e outras a outros.
  
2- Regras para publicar ou apresentar livros nos Municípios – Alguém da cultura de um município me explicava que se estavam a estabelecer regras para apresentação de livros e apoiar autores. Claro que tem de haver regras: a qualidade e o interesse da obra ou do tema. Em cultura temos que ter sempre na mão o rapeiro da qualidade e se o que está na rasa não interessa rapa-se para fora. Em tempos promovi apresentações de livros na Casa de Trás-os-Montes e Alto Douro em Braga e tinha sempre a Casa cheia. Tenho a convicção que não defraudava ninguém porque os crivos da qualidade e do interesse na Casa se ajustavam. Eu próprio só aceito fazer apresentações dos meus livros se houver reconhecido interesse. Não basta dizerem-me que me abrem as portas. Exijo, ainda, que o evento cultural seja divulgado e, atempadamente, preparado. Por isso, este ano, recusei ir a duas cidades trasmontanas. Na vida não vale tudo, mesmo os momentos culturais em tempos difíceis, quando algumas pessoas não têm dinheiro para comer, quanto mais para comprar livros. Aconselho antes de comprar um livro deve-se ver se o assunto interessa ou não. Não interessa, não comprem.
  
3- O gastrónomo Virgílio Nogueiro Gomes – É um dos maiores gastrónomos portugueses e em termos culturais considero-o o maior. Nasceu em Bragança e tem feito pela vida na capital, até se reformar do emprego, porque trabalho é com ele. Consegue fintar a lógica da mitologia clássica e das estações do ano, passando a parte fria do ano ao quente, no Brasil, e regressa na Primavera. Custa-me a entender como é que o Município de Bragança deixa escapar a sua imensa biblioteca privada de gastronomia com milhares de livros!... O Município de Bragança anda pelo distrito (e arredores) a arregimentar tudo o que é cultura para dentro das muralhas bragançanas e depois esquece-se desta raridade dos milhares de livros de gastronomia da biblioteca do Virgílio Gomes que é um filho da terra. Passe o dito bíblico: ninguém é profeta na sua terra. O Virgílio Gomes, com o académico Armando Palavras, deu-me a honra de ser apresentador do meu livro, «Memórias da Maria Castanha», na Casa de Trás-os-Montes em Lisboa. E agora, vejam lá! A revista Tabu, n.º 379, do jornal Sol, de 6 de Dezembro, dedica-lhe três páginas, a propósito do seu recente livro, «Tratado do Petisco e das grandes maravilhas da cozinha nacional», que, logo que possa, hei-de ler e comentar. A sua modéstia, humildade e trasmontanismo fazem do Virgílio uma pessoa discreta mas com um saber gastronómico imenso. Envio-lhe um abraço de parabéns para Terras de Vera Cruz, com votos de continuados e grandes sucessos.

4- Livro de «Crónicas e sonhos»  – Conheci o advogado Fernando Trabulo no início da década de oitenta e mais de perto quando me meti no cabo dos trabalhos para criar a Casa de Trás-os-Montes e Alto Douro em Braga, vindo ele fazer parte dos órgãos associativos. Recordo-o como pessoa generosa e simpática e admirada e respeitada no meio bracarense. Agora, já octogenário, ofereceu-me o seu livro «Crónicas e Sonhos», onde dá a conhecer a sua história de vida, contada como um relatório fluente e que se lê com interesse. O seu percurso de vida. Em jovem, passa por: Foz Côa onde nasceu aquando da grande crise mundial de 1929; por Almendra, terra da mãe; Figueira de Castelo Rodrigo, Trancoso, Angola e, por fim, radicou-se em Braga, sendo uma referência nos Institutos de Emprego e do Trabalho e como advogado. Foi um brilhante aluno e muito precoce a assumir responsabilidades. Por exemplo, com 13 amos já tinha sozinho o negócio do Volfrâmio em Almendra, enquanto o pai o fazia em Foz Côa, avaliando a sua pureza, pesando e pagando. O volfrâmio era preto e a chelite de cor creme. Bons depoimentos das terras por onde passou que nos avivam memórias e nos inspiram. Fala dos jogos populares, como o pauteiro, o batoque, a carronda e os brinquedos rurais. As «Crónicas e Sonhos» de Fernando Trabulo que li com interesse não estão disponíveis nas livrarias apenas podem ser adquiridas por oferta do autor, radicado em Braga.

Manuela Morais5- Livros para (oferta) o Natal – Os livros são bons presentes para oferecer pelo Natal. Sugiro os livros de contos do Nuno Nozelos (Mirandela), do Jorge Tuela (Vinhais) porque compra do melhor que temos. Na poesia as obras recentes «Introdução à Eternidade» e «Mulheres de amor inventadas» do mirandelense Henrique Pedro, «Sou e Sinto» da macedense Virgínia do Carmo («Uma Luz que nasce por dentro» - contos), do maior autor transmontano vivo, A. M. Pires Cabral, tem a novidade «Gaveta do Fundo» e de regionalismos trasmontanos a monumental «Língua Charra» e meu, disponível «Falares de Mirandela». Para gente pia ou que quer recordar orações da mãe ou da avó, as «55 Orações Marianas» da murcense Manuela Morais (Editora Tartaruga). Tem orações aos heterónimos de Maria Mãe de Jesus e tenho pena que não constem a Nossa Senhora do Sameiro e a Nossa Senhora dos Remédios. Estas 55 orações são fruto de muita pesquisa, ao longo de anos, e é uma forma da Manuela estar na vida: solidária e generosa. O prefácio é de Marcelo Rebelo de Sousa e na contracapa de D. Duarte de Bragança. A parte final tem textos, poemas e mensagens de autores vários e sinto-me honrado de eu lá ter «A vida com Maria tem mais alegria». A Manuela na sua actividade editora tem promovido os autores trasmontanos e já editou cerca de 80 títulos, Pode pedir o livro a tartaruga.editora@gmail.com, que o fará chegar aos interessados.  

6- Boas Festas e Feliz Natal – Os leitores têm tido a paciência de conviverem comigo, ao longo de mais de um quarto de século. Uma vida. Alguns já partiram e tanta falta me fazem. A vida sem amigos torna-se mais crua e os amigos ajudam-me a vencer as horas más. Sinto-me um privilegiado com os bons amigos. Muita me alegrará se, neste Natal, apesar da crise, chamarem a memória dos que já partiram para a mesa e para a lareira. Eles vão sentir-se muito honrados e nós mais felizes, apesar das imensas saudades. Saúdo o grande esforço do Jerónimo e Arnaldo em manter vivo o Notícias de Mirandela. Tudo seria melhor, para Mirandela e para todos, se alguns de nós não agíssemos só a pensar no nosso umbigo. A todos – directores do jornal, assinantes e leitores Boas Festas e Feliz Natal!

Jorge Lage – jorgelage@portugalmail.com – 11DEZ2013


Provérbios ou ditos:

Ø  Para o ano não ir mal, hão-de os rios três vezes encher, entre o São Mateus e o Natal.
Ø  Mirandela ou escalda ou gela.
Ø  Pelo Natal ao fogo e pela Páscoa ao jogo.


ORAÇÂO DO POETA
Peço a esta pedra,
Onde acabo de me sentar,
Peço aquela rosa,
Que acabei de beijar.
Me sirvam de abrigo
Que dêem em terra comigo
E me ajudem a rezar.

A  paz de Deus nesta montanha.
Me apague esta sede tamanha
De quase pedir tudo.
Para deleitar e possuir
E ficar quieto e mudo,
Sem saber que mais pedir.

Que o poema se engrandeça
Pelo fervor que me inspira,
Para vos louvar
E meu Deus, que mais quereis,
Se sabeis
Que só os acordes desta lira
Eu tenho para vos dar?

(Nelson Vilela in Livro de Horas)

Nota: Vale mais um simples verso que todos os natais comerciais em que o consumismo se aninha na máscara da solidariedade e da amizade.





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