PRELÚDIO
Pela
estrada desce a noite
Mãe-Negra,
desce com ela...
Nem
buganvílias vermelhas,
nem
vestidinhos de folhos,
nem
brincadeiras de guisos,
nas
suas mãos apertadas.
Só
duas lágrimas grossas,
em
duas faces cansadas.
Mãe-Negra
tem voz de vento,
voz
de silêncio batendo
nas
folhas do cajueiro...
de
mansinho, pela estrada...
Que é
feito desses meninos
que
gostava de embalar?...
Que é
feito desses meninos
que
ela ajudou a criar?...
Quem
ouve agora as histórias
que
costumava contar?...
Mãe-Negra
não sabe nada...
Mas
ai de quem sabe tudo,
como
eu sei tudo
Mãe-Negra!...
Os
teus meninos cresceram,
e
esqueceram as histórias
que
costumavas contar...
Muitos
partiram p'ra longe,
quem
sabe se hão-de voltar!...
Só tu
ficaste esperando,
mãos
cruzadas no regaço,
bem
quieta bem calada.
É a
tua a voz deste vento,
desta
saudade descendo,
de
mansinho pela estrada..
Lisboa,
1951 (de Poemas, 1966)
PRESENÇA AFRICANA
E
apesar de tudo,
Ainda
sou a mesma!
Livre
e esguia,
filha
eterna de quanta rebeldia
me
sagrou.
Mãe-África!
ainda
sou,
a
Irmã-Mulher
de
tudo o que em ti vibra
puro
e incerto...
A dos
coqueiros,
de
cabeleiras verdes
e
corpos arrojados
sobre
o azul...
A do
dendém
Nascendo
dos abraços das palmeiras...
A do
sol bom, mordendo
o
chão das Ingombotas...
A das
acácias rubras,
Salpicando
de sangue as avenidas,
longas
e floridas...
Sim!,
ainda sou a mesma.
A do
amor transbordando
pelos
carregadores do cais
suados
e confusos,
pelos
bairros imundos e dormentes
pelos
meninos
de
barriga inchada e olhos fundos...
Sem
dores nem alegrias,
de
tronco nu
e
corpo musculoso,
a
raça escreve a prumo,
a
força destes dias...
E
eu revendo ainda, e sempre, nela,
aquela
Longa
história inconsequente...
Minha
terra...
Minha,
eternamente...
Terra
das acácias, dos dongos,
dos
cólios baloiçando, mansamente...
Terra!
Ainda
sou a mesma.
Ainda
sou a que num canto novo
pura
e livre,
me
levanto,
ao
aceno do teu povo!
Benguela,1953
(de Poemas,1966)
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