sábado, 9 de fevereiro de 2013

A propósito da polémica levantada em torno de Franklin Alves



Num programa radiofónico recente, o Dr. Proença de Carvalho (de quem temos por homem inteligente e sensato) dizia a dado passo que homens como De Gaulle ou Churchill (de quem nos habituámos a seguir o exemplo), hoje, como estão as coisas, ao exigirmos aos políticos uma conduta moral e ética (conceitos que para o articulista são subjectivos porque não são universais) irrepreensível, estariam possivelmente a contas com a justiça (como estão alguns presidentes da republica), porque, demasiadas vezes, a politica depende dos fins. Ou seja, “os fins justificam os meios”.
É claro que o Dr. Proença de Carvalho quando refere esses dois estadistas está a rememorar o período monstruoso que foi o do holocausto na Segunda Grande Guerra. Nesse inferno foi, de facto, necessário usar determinados meios pouco éticos e morais para salvar a HUMANIDADE. Como por exemplo, o acordo entre os aliados e a máfia siciliana, recomendados pelo próprio Churchill, como parece estar provado na investigação feita por Tim Newark. Mas que, na verdade, acordos como este (que se fizeram) não passaram de notas de rodapé em todo o processo que levou os Aliados à vitória final.
Postas as questões deste modo, não há razão alguma para que o cidadão comum não exija à classe politica que actue com transparência, em termos éticos e morais. Porque o fim último da política é o bem geral, o bem comum, não o do interesse partidário e pessoal (medíocre). Porque se o conceito moral não é universal, já o ético o é tendencialmente. Aqui estamos com a “moral Kantiana”: tomar os outros sempre como um fim e nunca como um meio.
Além do mais, estará o cidadão comum mais propenso a perdoar-lhes os “pecadilhos” (quem os não tem) se actuarem desta forma.
Quando se não tem nada para dizer, em Portugal dão-se os exemplos dos outros: “Nos países civilizados já há muito tempo que … “, e os exemplos surgem como moscas. Bill Clinton retirou a nomeação de uma candidata ao cargo de ministra da Justiça por se ter descoberto que em tempos tinha contratado uma empregada que era imigrante ilegal. Esquecem-se, por exemplo, que Portugal, em termos éticos, deu sempre cartas aos chamados “países mais civilizados” (ressalve-se o período de quase sete anos de governação da “tralha Socrática”). No tempo do então Primeiro-ministro Aníbal Cavaco Silva, hoje Presidente da República (queiram ou não queiram os seus adversários e críticos, o período em que se viveu uma democracia – quase – plena, próspera e justa[1]), um ministro (da Agricultura, se não nos falha a memória) demitiu-se (pelos seus pés) pelo facto de ter contado (sem intenção maléfica) uma curta anedota em que envolvia alentejanos.
Vem este intróito a propósito da bagunça a que a classe politica portuguesa se tem prestado nestas duas últimas semanas. Sobretudo no que diz respeito à nomeação para Secretário de Estado do Dr. Franklin Alves.
Que os bloquistas e o P.C. tenham vindo a terreiro pedir a sua demissão, sem mais nem menos, é uma coisa, mas que o tenha feito o P.S., é outra.
Na entrevista que deu na RTP, Franklin Alves foi claro, e só não percebeu o que está em causa quem é tosco. Ao que parece não escondeu no curriculum a sua participação na SLN, não percebendo como essa prestação foi omissa; ao que parece, contribuiu para denunciar o buraco (ao Banco de Portugal) na altura certa (Maio de 2008). Porque, como manda a prudência e a sensatez, a informação necessitava “de ser devidamente fundamentada para ser comunicada”. Como é óbvio para qualquer pessoa de bom senso e de boa fé. Não se deve (nem se pode) acusar alguém, seja do que for, sem dados fundamentados.
Franklin Alves na tomada de posse
Franklin, diz mesmo que esta fraude gigantesca (como é do domínio público) é injusta para os portugueses porque são eles que agora têm de a pagar (é bom lembrar que, quando chamado ao parlamento, o antigo ministro das Finanças de José Sócrates afirmou aos ecrãs de televisão – as declarações estão gravadas – que o BPN era mais uma batata quente que deixavam nas mãos deste Governo. E que o Dr. Cadilhe apresentou um plano ao então grupo “socrático” para evitar que hoje o contribuinte assumisse o buraco, mas não foi aceite). O agora Secretário de Estado da Inovação e do Empreendedorismo diz ainda na entrevista que “só quem viveu o inferno é que seria capaz de perceber o que era a dimensão da fraude…”[2].
Mas além dessa (suposta) omissão curricular, certos sectores (onde, verdade seja dita, se não inclui o P.S.), entenderam que era crime o Dr. Franklin ter trabalhado desde os 16 anos[3]. Alguma dessa gente (que, segundo o seu raciocínio, devia ser proscrita porque na juventude apoiou monstros como Estaline e Mao) não sabe o que é a vida. Vão ao Norte de Portugal, onde a vida é dura, e verão adolescentes de 14 anos (e muito menos) a trabalhar para ajudar em casas de muitos filhos. Isto para lhes não darmos exemplos variados de casos de sucesso. Seja no nosso ou noutros países. Miúdos que muito cedo labutaram, e não deixaram de ser grandes estadistas, cientistas, escritores, etc.
Percebemos muito bem a questão ideológica, mas não a humana. Até porque quando o Dr. Franklin tinha 16 anos, a Lei do trabalho não era a mesma de hoje. Mas essa gente que nunca fez nada (a não ser cacarejar politica), nem isso sabe. E anda essa gente a contribuir para os nossos destinos há mais de vinte anos!
Sobre este assunto por aqui nos ficamos. Nem Franklin Alves se deve demitir, nem o Primeiro-ministro deve ceder a pressões. Por duas razões: 1- a omissão do “pecadilho” é uma areia na praia se comparada com aquilo que a “tralha Socrática” (os que pedem a sua demissão) fez ao país (que o levou à bancarrota![4]); 2 – tomar uma pessoa proscrita porque teve o azar de trabalhar (com honestidade) num local como aquele, é o mesmo que dizer a um pobre inteligente com uma boa ideia que é um maluco, e a um rico com uma péssima ideia, que é um excêntrico. A este propósito convém lembrar, por exemplo, que muita gente de bem, hoje em lugares de eleição, foram “camaradas” no executivo de Vale Azevedo.
Armando Palavras





[1] A esta questão voltaremos brevemente com escrito próprio, onde analisaremos minuciosamente as questões que nos levam a esta afirmação.
[2] E sobre o inferno fazemos um parêntesis. A governação da conhecida “tralha Socrática” foi um verdadeiro inferno. E quem tem memória sabe que se lhe deixou fazer o que quiseram. Já depois de terem perdido as eleições, muitos dos que os deixaram fazer o que quiseram, afirmaram que muito gente de bem fez asneira. Que noutras circunstâncias não faria. Mas … uns têm família, outros … isto e aquilo. Está gravado e escrito.
[3] E já nem sequer nos debruçaremos sobre as investigaçõezitas sobre o seu passado maoísta (na juventude). Porque isso é pura chicana política, do mais pobre que existe. Houve muitos que o foram. Alguns, ilustres, como Durão Barroso e Ana Gomes.
[4] E neste ponto sejamos claros. António José Seguro está distante da “tralha Socrática”, ao contrário de António Costa. Aquele representa o socialismo reformador, próximo da Social-democracia. Este o socialismos republicano, revolucionário. Que pede sangue.

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