quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

Santo Antão de Lagoaça (17 de Janeiro)



Santo Antão, cognominado o Grande, patriarca dos cenobitas, filho de pais piedosos e ricos, nasceu em 251, em Comã, no Egipto. Com 20 anos perdeu os pais. Segundo o seu biógrafo, Santo Atanásio, ao assistir à missa foi influenciado pela passagem do Evangelho: “Se queres ser perfeito, vende tudo o que tens, dá-o aos pobres e segue-me” (Mt: 19, 21). Começou assim a sua vida de asceta, retirando-se para o deserto. São famosas as tentações do santo, motivadas pelo demónio, que a arte bem tratou ao longo dos tempos.
A fama da sua santidade atraiu gente que o queria seguir. Alguns anos depois já se contavam milhares de cenobitas no deserto da Tebaida. E o próprio imperador Constantino lhe dirigiu missivas. Já velho, com 90 anos, visita São Paulo, o Eremita, a quem deu sepultura.
Antão morreu a 17 de Janeiro de 356, com 105 anos. O corpo, descoberto em 561, foi transportado para Alexandria e em 635 para Constantinopla. Hoje repousa na igreja de São Julião de Arles.
Iconograficamente é sempre representado junto de um porco que, para muitos iconólogos, simboliza o demónio, devido às conexões universais sobre este animal. Contudo, esse porquinho que mais parece um cão amestrado, alude à sua protecção sobre os porcos, cujo toucinho se considerava um remédio eficaz contra o "fogo de Santo Antão". 

Santo Antão é padroeiro de algumas (poucas) freguesias portuguesas, entre elas, a de LAGOAÇA (não é, como muita gente pensa, a Senhora das Graças). Na nossa meninice assistimos a algumas arrematações de enchidos, no adro da igreja, no dia 17 de Janeiro. O povo oferecia-os à Comissão Fabriqueira para que este rendimento fosse utilizado na restauração da igreja. Não sabemos se esta tradição ainda existe. Mas que nos deliciámos com ela é pura verdade.
Este santo é padroeiro dos salsicheiros, porqueiros e cesteiros; é invocado contra os contágios e nas doenças de pele; como protector dos porcos e dos animais em geral. E nosso, que nascemos no dia da sua morte (17 de Janeiro).

Ninguém como Hieronymus Bosch ilustrou tão bem a vida de Santo Antão. O quadro que se segue é o tríptico do Museu de Arte Antiga de Lisboa que representa a “Tentação de Santo Antão”. Que, como nenhum outro quadro, ilustra, de maneira tão viva e impressionante, os perigos da vida espiritual.
A sua descrição não cabe neste espaço, mas vamos tentar uma síntese.
1 - No interior do volante esquerdo, no primeiro plano pode observar-se Santo Antão inconsciente a ser levado por três figuras, através de uma ponte. Uma segunda cena, mostra-nos o Santo no Céu, a ser levado por demónios, enquanto é cercado por outros monstros como insectos malignos. A narrativa é ainda enriquecida com uma grande variedade de pormenores dramáticos, inventados por Bosch. Debaixo da ponte assiste-se a uma conversa de três monstros, na direcção dos quais patina um mensageiro igualmente grotesco; na margem do ribeiro, uma ave engole as crias acabadas de nascer; a seguir à ponte um bando de diabos dirige-se a uma figura masculina ajoelhada, que com as suas pernas abertas forma a entrada para um bordel; no mar longínquo um falso farol atrai os barcos para a destruição, estando a costa repleta de cadáveres.
2 – Na aba direita do tríptico surge também uma evocação poderosa de um mundo corrupto e fedorento. Nesta, o pintor rememora a história da Rainha-Demónio que, junto ao rio, cercada pela sua corte, se encontra nua em frente do eremita. O Santo desvia o olhar do grupo obsceno, mas depara com Heraldo, em primeiro plano, a convidá-lo para o banquete. A distribuição dos elementos como a túnica, a mesa, transformam a narrativa numa paródia. Ao fundo ergue-se a cidade da Rainha-Demónio.
3 – No painel central, os acontecimentos infernais atingem o seu clímax. Chegam diabos de todos os tipos e de todas as direcções, seja em forma huma, ou em forma demoníaca. Junto da sepultura está uma mesa requintada; Santo Antão está ajoelhado junto de uma senhora com touca que oferece vinho a outra; ao fundo, na sepultura transformada em capela, está Cristo crucificado e o Santo. Na torre destruída estão cenas monocromáticas como a entronização de um macaco e a adoração do bezerro de ouro.. Uma aldeia em chamas ilumina o fundo sinistro. Os diabos que cercam o Santo, são de uma variedade surpreendente: mulher com cauda de lagarto, ratazana gigantesca, cavaleiros com cabeça de cardo, peixe-gôndula, demónio couraçado com cabeça de caval, etc.
Por aqui ficamos. Passem bem.

Sem comentários:

Enviar um comentário

Justificar o 25 de Abril