quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

João de Lemos: o Trovador Duriense (1)

 


João de Lemos (1819-1890), a quem prestámos homenagem singela nos nºs 279 e 280 do jornal “ Terra Quente “, é um dos maiores vultos literários (e intelectuais) que a Régua teve. Poeta lírico por excelência, cantou o Mondego, o Tejo e o seu “ Pátrio Douro”. A lua de Londres e O sino da minha aldeia são os poemas onde o poeta imortaliza a sua terra (Régua) e o seu rio (Douro). No primeiro, o trovador da Régua evoca a imagem saudosa de um Portugal puro e feliz, rústico e soalheiro que contrasta com o cinzentismo da cidade de Londres. António Feliciano de Castilho, havia de lhe dedicar páginas de enaltecimento, como a redacção da Revista Universal Lisbonense, para quem colaborou juntamente com outros grandes como Camilo Castelo Branco, Bulhão de Pato ou Alexandre Herculano, apenas para citarmos alguns. Com efeito, até os seus contemporâneos o endeusaram, considerando-o o primeiro lírico do seu tempo. Bulhão de Pato considerou-o um “ poeta de raça “, Ayres Pinto de Sousa dedicou-lhe “ Mais uma corda de lyra”, F. Gomes d’Amorim fez-lhe versos que o trovador da Régua publicou no 3º volume do Cancioneiro e Gonçalves Crespo não se esqueceu, na sua obra, de aludir ao poeta da Lua de Londres, colocando-o no trio de poetas, em parceria com João de Deus e João Penha.

(Clique para aumentar)
João de Lemos Seixas Castello Branco, filho de Ignácio Xavier de Lemos Seixas Castello Branco (2º Visconde do Real Agrado) e de Dnª Maria do Carmo Vaz Pinto Guedes (filha do capitão-mor de Penaguião), casado em primeiras núpcias com Dnª Maria do Carmo de Lima Botado Ferreira, deu colaboração a inúmeros jornais. Entre outros citamos A Semana, Jornal Literário e Instrutivo, O Prisma, A Ilustração, Grito Nacional, A Nação, A Revista Universal e O Trovador.
Poeta, dramaturgo e jornalista, natural do Peso da Régua, também colaborou com alguns dos melhores compositores da época. Formou-se em direito pela Universidade de Coimbra e foi apoiante da causa absolutista, desempenhando algumas missões diplomáticas por toda a Europa. Após a queda de D. Miguel e do seu regime, exilou-se em Londres. Fortemente apegado às tradições, canta Deus e a Pátria, debruçando-se também sobre temas como o amor e a mulher. Na sua poesia, o poeta repete exaustivamente lugares comuns metafóricos e estilísticos, que de certa forma, “prejudicam” a sua poesia. Problema da época e do movimento que representava – o ultra-romantismo.
1
2
Possui ainda, uma vasta obra publicada:
1842- 1843 - O Cristianismo
1845Maria Paes Ribeira – conto
1851 O Sonho da Actriz ...
1853O Funeral e a Pomba – poesia dedicada a Dnª Maria II quando esta faleceu
1857Um Susto Feliz – comédia
1858O cancioneiro- 1º Vol, Flores e Amores ( onde predominam os poemas sobre o amor e a natureza )
1859 -  Cancioneiro, 2º Vol, Religião e Pátria ( onde predominam os poemas sobre o carácter ideológico e politico, que tratam da Pátria e de Deus )
1864- Gomes de Abreu – folheto
3
4
1866Cancioneiro, 3º Vol, Impressões e Recordações ( onde predominam os poemas  que se ocupam das recordações e da infância )
1867À Memória d’Elle ... – folheto homenageando D. Miguel
1869 O Livro de Elysa : fragmentos
1875Canções da Tarde – colectânea de poemas
1876Os Serões da Aldeia ( livro de memórias ) ; O Tio Damião- poemeto lírico; O Monge Pintor – poema em     quatro cantos fundamentado numa lenda transcrita em Études Religieuses; A Igreja Católica e o seu Clero regular e secular nas ciências, nas letras e nas artes; folheto sobre os arrozais ( saiu na Figueira da Foz, assinado com o pseudónimo Amaro Martins Gaveta ).
5
1887 – Prefaciou Atalaia que se venra na capela ...
   ?    -  Frades e Elles e Ellas, 2 Vol

O Cancioneiro é onde este trovador do Douro reúne o melhor do seu espírito lírico.

6
(Clique em cima das partituras
para aumentar)



 
Há cerca de 10 anos (2003) quis o acaso prendar-nos com a descoberta de dois documentos inéditos, cujos fac-símiles se reproduzem. Deparámo-nos com duas partituras do trovador reguense: hino para piano e canto que o poeta compôs e escreveu, dedicando-o a Dnª Adelaide Sofia, mulher de D. Miguel de Bragança – A Estrela do Norte. E Inocência, recitação e canto, com música de José Augusto Ferreira Veiga e poesia de João de Lemos.
Junto a uma das partituras estão mais duas magníficas edições de luxo, elaboradas a ouro. É pena que tão rico acervo cultural e patrimonial esteja tão distante da terra onde o poeta nasceu e do rio que tão bem cantou.
Júlio Manso Preto, embora não concordando com as ideias políticas deste trovador da época moderna, soube reconhecer o vulto que havia lido. O próprio poeta, no prefácio do 2º Volume do Cancioneiro refere: “ Ao poeta pergunta-se como cantou, não se pergunta o que cantou. Sujeita-se à crítica a parte literária, deixa-se liberrima a outra “.
Hoje apenas publicamos o canto: o poema e a partitura.
 
Armando Palavras

                                                           Peso da Régua - Vista aérea

Sem comentários:

Enviar um comentário

COMUNICADO À IMPRENSA - V Congresso Transmontano e Alto Duriense

  Estimada(o) Consócia(o), A Casa de Trás-os-Montes e Alto Douro, a propósito da realização do V Congresso, em 2025, no ano em que se come...