João de Lemos (1819-1890), a quem prestámos homenagem singela nos nºs 279 e 280 do jornal “ Terra Quente “, é um dos maiores vultos literários (e intelectuais) que a Régua teve. Poeta lírico por excelência, cantou o Mondego, o Tejo e o seu “ Pátrio Douro”. A lua de Londres e O sino da minha aldeia são os poemas onde o poeta imortaliza a sua terra (Régua) e o seu rio (Douro). No primeiro, o trovador da Régua evoca a imagem saudosa de um Portugal puro e feliz, rústico e soalheiro que contrasta com o cinzentismo da cidade de Londres. António Feliciano de Castilho, havia de lhe dedicar páginas de enaltecimento, como a redacção da Revista Universal Lisbonense, para quem colaborou juntamente com outros grandes como Camilo Castelo Branco, Bulhão de Pato ou Alexandre Herculano, apenas para citarmos alguns. Com efeito, até os seus contemporâneos o endeusaram, considerando-o o primeiro lírico do seu tempo. Bulhão de Pato considerou-o um “ poeta de raça “, Ayres Pinto de Sousa dedicou-lhe “ Mais uma corda de lyra”, F. Gomes d’Amorim fez-lhe versos que o trovador da Régua publicou no 3º volume do Cancioneiro e Gonçalves Crespo não se esqueceu, na sua obra, de aludir ao poeta da Lua de Londres, colocando-o no trio de poetas, em parceria com João de Deus e João Penha.
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Poeta, dramaturgo e jornalista,
natural do Peso da Régua, também colaborou com alguns dos melhores compositores
da época. Formou-se em direito pela Universidade de Coimbra e foi apoiante da
causa absolutista, desempenhando algumas missões diplomáticas por toda a
Europa. Após a queda de D. Miguel e do seu regime, exilou-se em Londres. Fortemente
apegado às tradições, canta Deus e a Pátria, debruçando-se também sobre temas
como o amor e a mulher. Na sua poesia, o poeta repete exaustivamente lugares
comuns metafóricos e estilísticos, que de certa forma, “prejudicam” a sua
poesia. Problema da época e do movimento que representava – o ultra-romantismo.
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Possui ainda, uma vasta obra
publicada:
1842- 1843 - O Cristianismo
1845 – Maria Paes Ribeira
– conto
1851 – O Sonho da Actriz ...
1853 – O Funeral e a Pomba
– poesia dedicada a Dnª Maria II quando esta faleceu
1857 – Um Susto Feliz –
comédia
1858 – O cancioneiro- 1º
Vol, Flores e Amores ( onde predominam os poemas sobre o amor e a natureza )
1859 - Cancioneiro, 2º Vol, Religião e Pátria ( onde predominam os poemas
sobre o carácter ideológico e politico, que tratam da Pátria e de Deus )
1864- Gomes de Abreu –
folheto
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1866 – Cancioneiro, 3º
Vol, Impressões e Recordações ( onde predominam os poemas que se ocupam das recordações e da infância )
1867 – À Memória d’Elle ...
– folheto homenageando D. Miguel
1869 – O Livro de Elysa :
fragmentos
1875 – Canções da Tarde –
colectânea de poemas
1876 – Os Serões da Aldeia (
livro de memórias ) ; O Tio Damião- poemeto lírico; O Monge Pintor – poema em
quatro cantos fundamentado numa lenda transcrita em Études Religieuses; A Igreja Católica e o seu Clero regular e
secular nas ciências, nas letras e nas artes; folheto sobre os arrozais ( saiu na Figueira da Foz, assinado com o
pseudónimo Amaro Martins Gaveta ).
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1887 – Prefaciou Atalaia que
se venra na capela ...
? - Frades e Elles e Ellas, 2 Vol
O Cancioneiro é onde este trovador do Douro reúne o melhor do seu
espírito lírico.
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(Clique em cima das partituras para aumentar) |
Há cerca de 10 anos (2003) quis o
acaso prendar-nos com a descoberta de dois documentos inéditos, cujos
fac-símiles se reproduzem. Deparámo-nos com duas partituras do trovador
reguense: hino para piano e canto que
o poeta compôs e escreveu, dedicando-o a Dnª Adelaide Sofia, mulher de D.
Miguel de Bragança – A Estrela do Norte.
E Inocência, recitação e canto, com
música de José Augusto Ferreira Veiga e poesia de João de Lemos.
Junto a uma das partituras estão
mais duas magníficas edições de luxo, elaboradas a ouro. É pena que tão rico
acervo cultural e patrimonial esteja tão distante da terra onde o poeta nasceu
e do rio que tão bem cantou.
Júlio Manso Preto, embora não
concordando com as ideias políticas deste trovador da época moderna, soube
reconhecer o vulto que havia lido. O próprio poeta, no prefácio do 2º Volume do
Cancioneiro refere: “ Ao poeta pergunta-se como cantou, não se
pergunta o que cantou. Sujeita-se à crítica a parte literária, deixa-se
liberrima a outra “.
Hoje apenas publicamos o canto: o
poema e a partitura.
Peso da Régua - Vista aérea
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