sexta-feira, 8 de junho de 2012

Hirondino Fernandes - E não é que a luz se fez!...


Parâmio



Hirondino Fernandes é um dos mais profícuos investigadores que as serras transmontanas algum dia viram.
Hoje (oito de Junho), às 15h00 é lançado o seu segundo volume (seguido de debate) da “Bibliografia do Distrito de Bragança”  - obra monumental com 30 anos (ou mais)  de estudo profundo, muitas vezes em condições muito dificeis -, que ainda não conseguimos consultar (assim como o primeiro)[1] . Talvez lá para Agosto o possamos fazer na Biblioteca Nacional.
O evento vai ter lugar no Auditório Professor Adriano Moreira, no programa Artes / Livros, organizado pela Câmara Municipal de Bragança e pela Academia de Letras.
Da sua pena saiu este admirável texto[2], dedicado a Amigo de ambos, já na Eternidade. Que lá descanse como nunca junto dos homens o fez.
O exórdio do falecido Dr. Fernando Subtil, que Hirondino Fernandes transcreve no seu texto, sublinhado por nós a azul, é de uma actualidade assombrosa. Há acções que adquirem o foro de “patifaria”.  [Tempo Caminhado: BRAGANÇA - Bernardino Henriques e Carlos ...]. “Adiante … que atrás vem gente!”.
Há muito que seguimos a escrita de H.F. Aqui mesmo ao lado, na nossa secretária de trabalho (se é que isto se pode considerar uma secretária) temos uma vellha Brigantia de 1985 (Vol V, nº 1, pp. 181-188) onde estão incrustados alguns Apontamentos Para Um Visitante, sobre o Parâmio, que inicia com a problemática etimologica, para logo no sexto parágrafo acrescentar: “ Se gostaram do local e não mais o largaram ou se, terminado o repasto … foram bater à porta de melhor estalagem …”. E segue por aí fora numa linguagem muito própria e encantadora.
Armando Palavras




 E não é que a luz se fez!...

Hirondino Fernandes
Vá lá um saber quando foi!… foi há um ror de anos, sobretudo se medidos/contados pelo “gosto amargo” que Garrett cantou!…
Tínhamos dado um pulo até Vila Arçã, para espairecer … respirar o ar ainda mais ou menos puro dos nossos montes, beber a água ainda mais ou menos cristalina das nossas (algumas) fontes e, é claro, cumprimentar meia dúzia de amigos — e, forçosamente, tratar da BdB, que há mais de “vinte” e de “trinta” anos, como diria Junqueiro, até mais de quarenta, um bô catcho!, que nos não larga, “nem de noite / nem de dia / nem à hora do mei dia”.
Estugando o passo, caderno de notas debaixo do braço — para a poesia e para o jornal —, nos lábios a alegria de sempre e na alma sempre o sonho de mais-além, pouco passava da hora combinada quando entrou no velho Café Central (Bragança), onde também não havia muito que nos havíamos sentado à sua espera.
Um xi-coração, do tamanho das saudades que tínhamos em o (/nos) ver(/mos), que eram muito mais que muitas, e estava aberta a sessão: apresentação das grandes ocorrências do longo interlúnio que nos havia separado, generalidades sobre a BdB, análise da sua ficha, uma ficha “de alto lá c’o charuto”, diga-se desde já, em bom abono da boa verdade — não sei nem importa se mais algum assunto  e pronto, encerrada a sessão com o “modus faciendi” de solucionar dúvidas que sempre haverá, às mãos cheias, a par com meia solução para uma delas, a de quem era um tal Armando Palavras que, a cada passo, nos saltava no meio dos seus jornais.
Solucionou-se, ou p’r’ò quajo que sim, esta dúvida, acertámos umas duas ou três vírgulas e por aqui nos quedámos, para sempre. Desgraçadamente para sempre, — porque o velho Colega, querido Amigo Fernando Subtil, de quem as Letras tanto esperavam ainda, e de cuja amizade os amigos tantíssimo precisávamos, pouco tempo depois resolveu deixar-nos … para sempre! Sem apelo nem agravo, para sempre!
… mas nós havemos de ir bater-lhe à porta, “qualquera” dia, ai não se não vamos! E ele vai receber-nos, que ‘romédio’ tem!…
Ficara sabido quem era o dito Armando Palavras, mas chegar à fala com este Senhor Professor Doutor (a partir de há dias), incumbência relegada para mais tarde, é que se tornou num bico-d’-obra, que ‘não sei se te diga ou se te conte’: colaborava num jornal lá não sei onde, nos confins de Vila Real — e ‘òsdespois’ era sempre o mesmo (sem ofensa) pita choca que ouvíamos do lado de lá da linha, uma resposta que mais parecia de grafonola: que não tinha autorização para nos dar o paradeiro, fosse qual fosse, físico, virtual, sei lá… do Armando Palavras, ou de outrem, e o Senhor Director … num dia não estava e no outro não tinha ainda chegado ou não tinha vagar para ouvir o pobre comprovinciano que lhe dissemos ser … Vá lá que apareceu um dia ‘de boas ervas’ e mandou encaminhar a chamada para a Esposa que, menos ocupada e mais gentil, nos disse onde o encontrar: por sinal, nem andava por muito longe, lá para os lados da capital, em Oeiras.
Bons dias, meu grande Mestre Professor Doutor.
Amável, generoso (nos termos bibliográficos que lhe pedimos), ficámos amigos desde então e é por vias desta amizade, que outra razão não vislumbramos, que nos convida para deixar gravado o nosso nome nesta preciosa (pelo que já soubemos) colectânea que está a organizar.
Que não, que o nosso pobre nome, nome de um simples bibliógrafo amador, iria destoar por demais no meio de tão distinta plêiade …
Que não, que a BdB, mesmo sem as asas que os azares da fortuna lhe cortaram, não nos deixava tempo ‘sequer ò menos’ para respirar…
Que sim e que sopas … Que esperava… disse.
E logo a seguir, peremptório, que queria… disse.
Pois está bem. Que seja.
Como deseja — dissemos nós, para não usar de uma linguagem mais chã, definitiva, nunca menos genuína, que pudesse ferir espíritos (falsamente) puritanos cá do burgo (português), tipo:
— “Maria, lá t’o bôto”.
Estamos em crer, no entanto, que o ‘botarmos’ coisa com um mínimo de mérito, como se impõe, vai ser empreitada bem mais complexa do que chegar à burra e tirar um pêlo. Mas vamos ver, vamos pensar, que a cabeça é para isso mesmo: para pensar. As dificuldades aguçam o engenho, é voz corrente. Tentemos …
Fiat lux.
…………………………………………………………………………

E não é que a luz se fez!… Fulgurante, resplendorosa: arregalem-me esses olhos e vejam, Senhores Leitores: em vez do nosso texto, só chochices, como acabam de confirmar (se é que tiveram paciência de nos ler, desde lá do alto), então não é que podemos oferecer um texto bom, capaz de  lançar luz sobre … querem ver sobre o quê?!…
Nós que temos, “a dar c’ uma moca”, aqui, no nosso gabinete de trabalho, e lá fora então!, nesses arquivos e bibliotecas …, textos e mais textos de tão fino quilate a pedirem, pelas almas, que alguém os tire do suplício das traças em que têm vivido!…
(Compreende-se, a esta luz, tanta publicação inútil, que se faz?!…).
Lançámo-nos no encalço de um — do Dr. Alexandre de Matos, fotocópia que devemos ao saudoso Amigo Raúl de Sá Correia. Sobre Vila Flor, para a história da sua Biblioteca-Museu (de Vila Flor). Onde é que parará ele, esse texto/documento?!… Já o trouxemos para Bragança ou tê-lo-íamos deixado em Coimbra?!…
Já no seu encalce. 
 Descortinámo-lo breve, afinal já estava cá, e imediatamente lido parágrafo aqui, duas linhas mais além … pudemos proclamar, alto e bom som: Melhor que isto nem de candeia na mão: nós estamos servido e o senhor Leitor vai ficar contente que nem ‘melro cheio de miocas’. 
Voltadas que foram, porém, umas quatro ou cinco novas folhas, no mero intuito de relembrarmos o real conteúdo do maço … oh! maravilha dos mil e um dias!… E nós que já nem por sombras nos lembrávamos disto!!!… 

— É do Abade de Baçal?, perguntou um amigo que nos fazia companhia.

Vendo a nossa reacção, corrigiu:

— Ah!, é do Trindade Coelho?

E logo a seguir, olhando-nos, de novo, e vendo que ainda não tinha acertado:

— Não, já sei, é do Junqueiro, como três e dois …

Mas, cautelosamente, não declarou, agora, quantos seriam 3+2, em nenhuma das bases possíveis.
Zás-traz, nó cego, a troca foi uma questão de segundos. Por uma razão mais que evidente: este é o documento certo… para aqui.
Mas de quem é ele, afinal?!…
— Agora sei: é do Dr. Fernando Subtil, ao que vejo pela letra, avançou o referido amigo.
E é mesmo do Dr. Fernando Subtil, com quem entrámos conversando e de quem, mais que não fosse por uma simples razão de cortesia, nos devíamos despedir.
Vem multiplamente a calhar.
É que o Dr. Fernando Subtil, podia ter sido um segundo Abade, ou um segundo Trindade Coelho, ou um segundo Junqueiro, ou sei lá quem — podia ter sido ele-mesmo, e ele-mesmo é que gostaríamos que tivesse sido, na plenitude das suas infinitas potencialidades.
Mesmo assim subiu altíssimo, foi … o que foi, só não ocupando o lugar cimeiro do mais alto posto das letras porque sempre lhe faltou a serenidade de espírito necessária às obras de grande vulto: “engenho e arte” teve bem mais que muitos dos presenteados a toda a hora e momento com parangonas nos jornais … porque os compadres … para alguma coisa hão-de servir.
Conhecemo-lo razoavelmente bem… moradores da mesma casa — a casa dos seus avós —, alunos que fomos do mesmo liceu, colaboradores do mesmo jornal (escolar), que criámos.
Depois, veio a Universidade — cursos diferentes; a seguir, foi o Ultramar, para ele; após o regresso, nós continuámos pelo Técnico, ele retomou o Liceu; encontros poucos, desencontros nenhum; mas leitura assídua dos seus jornais, como o comprova à saciedade a ficha que na BdB merecidamente lhe dedicamos.
A carta que temos o gosto de trazer ao conhecimento de muitos Leitores (outros a terão recebido e portanto já a conhecem) é uma mera carta-circular, escrita numa vulgar folha de papel recortado de um vulgar bloco 19,5 X 29,5, com linhas (37), sem indicação de destinatário (seria/era o do envelope, e neste caso éramos nós, signatário desta), e tinha por fim saber da disponibilidade de viabilização de uma “segunda tentativa” de criação de um novo jornal.
Não vamos deter-nos na sua análise, já que no final desta nota a reproduzimos facsimilarmente, com conhecimento e total consentimento da Irene, que foi sua Mulher, e é nossa boa Amiga, desde os nossos tempos de meninos e moços. Não podemos, no entanto,  deixar de chamar a atenção para o seu exórdio.
É que o seu A. se nos mostra, em tão poucas linhas, como o exemplo acabado do sonhador irrequieto, combativo, frontal — quem, na altura, chamava os bois pelo seu nome?!… —; no aspecto formal, não podemos esperar requintes de estilo, mas é bom atentar na lógica que preside à apresentação dos diferentes itens, na sua concisão, na sua clareza.

Um exemplo para … quem gosta de saber escrever (que implica saber pensar).  

Reza assim o exórdio: Convicto da importância que um VERDADEIRO JORNAL assume na vida de uma região, e conivente na lamentável situação que acontece na nossa onde apenas se publicam umas folhas diocesanas em louvor dos seus donos e senhores, atrevi-me às bases de O CARDO que, porque não podia agradar a reizinhos e tiranetes, logo foi amordaçado.
Sou agora proprietário de um novo título: NORDESTE — Semanário regional de intervenção. De INTERVENÇÃO, sim, como tem de ser qualquer órgão de comunicação social que se preze!
Está o AMIGO disponível a contribuir para a viabilização desta segunda tentativa? para a criação de um periódico apostado na defesa intransigente da DEMOCRACIA e dos INTERESSES DO NORDESTE? acerrimamente adverso da mediocridade arrogante e oportunista, do nepotismo, da hipocrisia e da corrupção mais ou menos encoberta, mais ou menos descarada?
Se está — como julgo que sim, caso contrário não o seleccionaria! — poderá fazê-lo nas seguintes modalidades (seguem-se as modalidades, a 1ª “Essencial”, a 2ª “Indispensável”, a 3ª “Obrigatória” e a 4ª “Louvável”, e a carta termina com o pedido, na margem esquerda, em altura, letras maiúsculas: “PASSE PALAVRA A AMIGOS E CONTERRÂNEOS”.
Hirondino Fernandes

Nótula ao texto
A quantos eventualmente estranharem a introdução, no texto, de simples palavras ou expressões regionalistas, apenas lembramos que todas elas são usadas diríamos quase que por cão e gato (sem ofensa para os excelentíssimos senhores de lacinho ao peito), em Vila Arçã e localidades circunvizinhas, pelo menos, tendo por isso toda a legitimidade para as deixarmos plantadas aqui. Vila Arçã é Trás-os-Montes e Trás-os-Montes é PORTUGAL — e isto é do que muita gente se esquece ou faz esquecida.  

“Boas tardes bos dia Deus” e até mais ver. 

Nótula biográfica
Um pobre ‘bicho-careto’ que teve a pouca sorte de o terem mandado vir a este mundo, quando estava tão bem lá no Outro. Aprendeu o abc, que lhe foi servindo para as sopas e farapela, em troca de umas aulas (de Português e de Francês) que gostava que tivessem sido mais atractivas/produtivas, mas na altura não sabia mais do que aquilo que sabia (lhe tinham ensinado / tinha aprendido). Nas horas vagas deu umas voltas, pelo País abaixo e acima, andou pela Europa (Espanha, França, Inglaterra, Alemanha, Itália, Rússia, etc.) e foi até ao Oriente (Turquia, Índia, Macau, China, etc.) e também ao Ocidente (Brasil, Venezuela, também etc.). E ainda apanhou umas rosas nos desertos da Tunísia. “Cá como lá más fadas há”, e ponto final, acabou-se. Borratou uns milhares de folhas de papel, ou talvez não, e se, involuntariamente, alguma vez foi antipático para quem, eventualmente, não foi simpático com ele — mesmo assim, que o desculpem os que quiserem ser responsáveis. Até porque ele desculpa Pedro e Paulo. Ao longo da vida (quase 80 anos, para já!) juntou uns milhares de livros, que gostosamente (com sua mulher, a Olga) pôs a cantar na Obra Social Padre Miguel, onde se alojou/alojaram. Presentemente trabalha, afincadamente, na conclusão de uma (algo) imodestamente chamada Bibliografia do Distrito de Bragança (BdB), que, certo dia, certos senhores classificaram de inútil — ou coisa que o valha —, na medida em que não quiseram saber da sua publicação, mas que felizmente um HOMEM que vale mais que todos eles juntos quer trazer à luz do dia, o mais breve possível. Já passa muito das 6 000 (seis mil) páginas. Como hão-de ver.

… e se mais alguma coisa digna de nota, amanhã, vier a acontecer, se possível dela daremos nota. Se não … até à próxima, se não for antes, como o outro que dizia. 

(escrito pelo próprio autor)



[1] Razão pela qual ainda não colocámos o primeiro volume na barra lateral do blogue.
[2] Trás-os-Montes e Alto Douro, Mosaicos de Ciência e Cultura (Coord. PALAVRAS, Armando), ed. Exoterra, 2011, pp. 19-23.

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