quinta-feira, 26 de maio de 2011

Os Portugueses (Governo) e a Bancarrota


Miguel de Unamuno, escreveu, em 1908, um pequeno ensaio intitulado Os Portugueses Um Povo Suicida[1]. Observou com atenção, numa tarde, “o formoso monumento[2] a Eça de Queiroz”, diz. Pouco depois, pôde observar o “próprio coração” de Lisboa, “aos pés da estátua de D. Pedro IV”.

Miguel de Unamuno
 Depois comprou três jornais: O País, A Luta e A época. O artigo do País, referindo-se à nação, diz que “perante o corpo inerte de um moribundo todos devem ajoelhar-se”. “ É um artigo que respira morte”, acrescenta o poeta. Mais adiante, no mesmo artigo “fala-se da bancarrota e de intervenção estrangeira[3]”. Na Luta fala-se do Kaiser e no artigo da Época, fala-se de felicidade, para acrescentar adiante que o povo português “é um povo triste”. E Portugal “ é um povo de suicidas”. Dá os exemplos de Antero de Quental, Soares dos Reis, Camilo Castelo Branco, Mouzinho de Albuquerque, e cita o caso do regicídio (Buiça e D. Carlos).


Jornal i
 
Finalmente transcreve uma carta que lhe foi enviada pelo seu amigo Manuel Laranjeira. E nessa carta surgem passagens impressionantes alusivas ao povo português:
“ (…) desta minha tão desgraçada terra de Portugal”.
“Dir-se-ia que foi toda uma raça que se suicidou”.
“Neste malfadado país, tudo o que é nobre suicida-se, tudo o que é canalha triunfa”.
“O nosso mal é uma espécie de cansaço moral, de tédio moral, o cansaço e o tédio de todos os que se fartaram – de crer”.
“A Europa despreza-nos; a Europa civilizada ignora-nos; a Europa medíocre, burguesa, prática e egoísta, detesta-nos, como se detesta gente sem vergonha, sobretudo…sem dinheiro”[4].
“Sei que vamos mal. Para onde? Para onde nos levarem os maus ventos do destino”.
“…sobre nós pesa a herança trágica, duma ignorância podre e duma corrupção criminosa…”.
“…saber se morreremos nobre ou miseravelmente”.
“Portugal atravessa uma hora indecisa, gris, crepuscular, do seu destino”.
“Hoje, porém, há uma tranquilidade podre que me assusta deveras. Não falta mesmo por aí quem diga que isto não é já um povo, mas sim – o cadáver dum povo”.
Unamuno discorre depois sobre o riso trocista para rematar: “No dia seguinte voltarão a falar de bancarrota e de intervenção estrangeira.
Pobre Portugal!”.


[1] Publicado recentemente (2011) pela Ática.
[2] De Teixeira Lopes.
[3] O negrito é nosso.
[4] Acrescenta-se que apesar de tudo, em Portugal ainda há muita nobreza moral. E optimistas.

1 comentário:

  1. Impõe-se a pergunta,... após um século destes factos, o que é que irá mudar dia 5 de Junho de 2011? A "suposta" liberdade veio à 37 anos e na grande maioria deste tempo caminhado, as mentalidades continuam embrutecidas e reticentes à mudança. Este texto não podia ser mais actual. Continuamos e ao que parece continuaremos a viver e a gostar do nosso, triste fado.

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