O semanário regional “Comércio do Seixal e Sesimbra”
vem publicando regularmente as minhas
croniquetas de fitoterapia, destacando curiosidades e utilidades botânicas das
várias espécies que o “escritor” vai dando à liça.
O citado jornal divulga, com assiduidade, notícias de
âmbito cultural e outras, prestando um inestimável serviço às populações da
região, o que é meritosamente reconhecido pelas respetivas autarquias locais.
Só por isso, o cronista já estaria deveras recompensado porque escrever não é
apenas mero exercício para alimentar o ego. O seu objetivo primordial deve ser
o de transmitir utilidade, cativando e mobilizando a atenção dos leitores.
Ora a direção do jornal tem, por reiterado hábito,
juntar colaboradores, patrocinadores e amigos num jantar anual em plena época
natalícia. Tal, agrega sempre momentos sumamente agradáveis de partilha de conhecimentos
e de confraternização desinibida de todos os participantes. Desta vez, o evento
primou pela comemoração do 18º aniversário do semanário e o salão festivo ficou
engalanado a preceito, com música, cantadorias e breves discursos alusivos à
efeméride.
No início do encontro fiquei assaz surpreendido quando Ângela Rosa, a infatigável diretora comercial, me veio entregar um envelope, a solicitação de alguém, contendo duas bonitas aguarelas de flores, uma da Primula palinuri e outra da Nicotiana sanderae e a seguinte mensagem: - “ofereço com estima pelos belíssimos artigos sobre PLANTAS, os quais muito aprecio.”
Foi um dos melhores presentes que podiam oferecer a este amante da botânica. Todavia, não sei como agradecer, pois, a autora não se identifica, apenas termina o escrito com: - “uma seixalense do coração” (artisticamente desenhado).
Este curioso episódio desencadeou o mote para
dissertar sobre a bela primavera, nome popular atribuído à
primula, a qual divisamos amiúde nos jardins, mas, que raramente encontramos na
natureza, pelo menos na região em que fui nado, criado e onde habito.
Verdadeiramente, só me lembro de a ter visto, em estado silvestre, no sopé das
montanhas alpinas austríacas (Salzburgo), brotando viçosa, em pleno mês de
março. Aproveita-se para referir que, na Áustria, ela é muito conceituada e
está até reproduzida no anverso das suas moedas de 5 cêntimos. Noutros países
europeus tem também representação heráldica e estatuto de planta protegida.
Trata-se de uma pequena herbácea vivaz com folhas em
roseta basal enrugadas de margens dentadas irregulares. Apresenta um único
caule que brota no centro da roseta, podendo atingir 30 cm de altura. As flores
com cinco pétalas, em forma tubular, aparecem no cimo do caule, agradavelmente
perfumadas, de cor amarela enxofrada. Frutificam depois, formando cápsulas ovaladas
deiscentes com numerosas sementes. A parte subterrânea é um rizoma com muitas
raízes secundárias.
Julga-se que a primavera é nativa no continente europeu, sobretudo nas partes montanhosas do norte. Nos países da bacia mediterrânica é mais difícil encontrá-la.
Possui, como principais componentes, pigmentos flavónicos, enzimas, vitamina C, caroteno, saponinas, entre as quais, a primulina e sais minerais.
Propriedades: anti-espasmódica, calmante, diurética, laxante, expectorante, mucolítica (detém mucilagens), febrífuga, adstringente, analgésica, balsâmica.
Usos fitoterápicos: bronquites, cefaleias, cólicas,
indigestões, reumatismo, tosse convulsa, dores de cabeça, inflamações oculares,
litiase úrica...
A indústria farmacêutica fabrica com ela extratos, infusões e gotas.
As folhas e as flores são comestíveis e podem ser utilizadas em sopas misturadas com outros vegetais hortícolas. As flores proporcionam agradáveis geleias. Os rizomas enriquecem o sabor da cerveja.
As flores da primavera são muito decorativas e têm
lugar de realce em jardinagem. Os botânicos, explorando a faculdade do
hibridismo, lograram obter lindas variedades multicolores, à semelhança do que
acontece com a geribera.
Dezembro de 2025

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