JORGE LAGE
Hoje é proprietário da Livraria e o mais antigo e mais prestigiado alfarrabista da cidade do Porto. Sempre que lhe telefono, de tempos a tempos, queixa-se que «o negócio vai mal». E vai mal, porque, cada vez mais, há menos leitores e ainda menos bibliófilos. Para agravar a situação, entre os transmontanos e alto-durienses há pouca gente a ler. Era preciso mudar o paradigma do ensino nas Escolas do Interior Norte. Mas, o negócio livreiro e a boa têmpera agarram-no à vida com entusiasmo, estando para andar e durar. Seria de elementar justiça que Mirandela o homenageasse pelos seus 90 anos de vida e pelo muito que deu a Mirandela com relevo para o imenso acervo bibliográfico e documental, durante décadas. Ouvi-lo discursar sobre livros é como se abrisse a empossada da vargem de uma das velhinhas e dinâmicas azenhas das décadas de cinquenta e sessenta. Muitos anos de vida, para o ilustre amigo e conterrâneo, Nuno Canavez.
Esbarei!... Dizia-me Nuno Canavez… – Há umas três décadas atrás, estava Nuno Canavez na sua amada, livraria (Académica), e pelo meio da manhã, entrou-lhe casa adentro em derrapagem um desconhecido. Como não o conhecia e vendo o cabo dos trabalhos para o cliente não se estatelar, atira-lhe: - Bom dia! O Senhor ia caindo!... Sem se descoser o visitante e anuindo à sua interrogação, respondeu-lhe ainda não refeito do susto e lançando um olhar interrogativo ao tapete e à entrada: - Esbarei!... Surpreendido, Nuno Canavez, contrapõe: - Ai! esbarou!... Então o Senhor é de Trás-os-Montes! Com surpresa responde-lhe, novamente: - Sou! Mas, como é que o Senhor sabe? Responde-lhe o Nuno Canavez: - O Senhor disse esbarou e a palavra «esbarou» é usada pelos transmontanos. Depois, contou-lhe um pouco da sua vida e da sua aldeia, dizendo-lhe que cada vez tem menos pessoas, como acontece em todo o interior rural de Portugal. Um ermamento acelerado e irreversível. Que a filha (ou filho?) tinha vindo para o Porto e ele estava uma temporada com ela. Podia ser bastante diferente se os autarcas (Presidentes de câmaras e de juntas de freguesia) fossem capazes de planear/executar, de se unirem e de gerarem mais-valias para o interior de Portugal. A maioria esbara na incapacidade e no desinteresse autárquico que leva a maioria a nada fazer ou a fazerem muito pouco, opando de importâncias e sacudindo do «capote» a água da incompetência, e do compadrio.

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