«Sem
se colocar no centro da reportagem aparece como figura estruturante da peça». E
mostra-se, por isso, distinta e bem recortada nas páginas deste seu primeiro
livro, com pontos de vista a fazer o enfoque pessoal, assumindo ela própria -
sublinha no prefácio o ex-diretor da ERC, Carlos Magno - um produto do
Barroso, mas não recusa qualquer outra geografia».
O
gosto de colaborar onde efetivamente possa trabalhar, acrescentar valor, fazer
pontes, criar estratégias, humanizar, fazer acontecer, está enraizado em Maria
José Afonso (MJA). Nascida em Montalegre, aí fez questão de ficar e constituir
família, numa atividade de estudos sociológico-ecológicos, aproveitando as
ferramentas da modernidade que assumiu em plenitude, desde a sua propensão para
a linguística, à sociabilidade grupal, ao carisma físico condizente com o
charme da modernidade reinante.
Lê-se
na sua biografia que «foi co-fundadora da TVBarroso, uma das primeiras webTV
do país, liderou projetos de jornalismo local com impacto nacional. Trabalhou
em rádio, televisão, imprensa e plataformas digitais, com colaborações em
órgãos como RTP, SIC, TVI, Porto Canal e imprensa internacional (Rádio Luanda,
Antena Comercial, ou Rádio e Televisão Pública da Noruega). Criou e dirigiu
revistas temáticas e coordenou campanhas de comunicação institucional e
autárquica. Foi também assessora de comunicação de entidades públicas e
privadas, e oradora em universidades e congressos. Produziu documentários e deu
voz a conteúdos para mais de 30 rádios nacionais. Com uma abordagem centrada na
valorização humana e territorial, é reconhecida pelo seu trabalho na promoção
da coesão social e do mundo rural. Vive em Montalegre e continua ativa no mundo
da comunicação.»
O
lançamento do livro de estreia de Maria José Afonso terá lugar no próximo
sábado, dia 19 de Julho, pelas 21:30h, no Multiusos de Montalegre.
Carlos
Magno, no prefácio, escreve que ela é a «repórter com microfone de pérola»,
como se fosse uma metáfora simbólica com a famosa pintura do holandês Johannes
Vermeer. Fez e teima em continuar a fazer, em Montalegre, o seu «lugar para
ver o Mundo». Talvez por isso afirme, na primeira frase deste seu ditoso
livro, que ele «é um ato de teimosia».
A autora teve bons gostos ao trazer a Montalegre um dos
intelectuais mais lúcidos desta arguência literária. Fez uma sinopse científica
que burilou uma pérola Transmontana.
MJA começou esta sua faina intelectual, em 1994, com uma
aliança certeira que noivou com a geração digital. A informática cruzou-se com
o misticismo da água da mijareta, epíteto da bruxaria que Lourenço
Fontes concentra nas terras de Barroso, seja nos congressos de medicina
popular, em Vilar de Perdizes, seja nas sextas-feiras, dia treze, sempre que
estas datas coincidem.
Responsável pela Rádio Montalegre, onde é repórter,
locutora e, sobretudo, jornalista licenciada pela Universidade de
Trás-os-Montes e Alto Douro, «é também co-fundadora da TV Barroso, uma das
primeiras webTVs do país. Além disso, liderou projetos jornalísticos e
possui uma licenciatura em Ciências da Comunicação». MJA é reconhecida
pela sua atuação na Rádio, onde lidera toda a comunicação e, ao mesmo tempo, é
responsável pela criação dos conteúdos digitais.
A sua experiência nestes domínios permite-lhe afirmar que,
«sem querer, se esquece do melhor que tem e que, confunde progresso com
pressa, parar para ouvir, pode parecer um gesto antiquado. Aqui, no cimo do
mapa, há gente que nunca teve pressa, porque sempre soube onde estava e com
quem estava». E tudo isso acontece porque «Barroso é terra de montanha e
de memória. Fica no extremo mas é centro de muita coisa: da dignidade, da
resistência, da maneira certa de viver com pouco».
Maria José Afonso chega, ainda, a tempo de escrever muitos
e bons livros. Livros positivos, de narrativas que não conspurcam o ambiente e
os humanos que têm direito a não serem massacrados por homúnculos, de gerações
esquizofrénicas, talhadas à medida das suas perturbações daninhas. A autora
deste tratado, felizmente, chega aos leitores com esta certeza, título da obra:
«Sou Barrosã, graças a Deus».
Na introdução, Maria José Afonso teve o cuidado de não
descarrilar por romances grotescos, como alguns que fecundaram por aí. «O
que está nestas páginas não me pertence. Sou apenas a caneta que andou com os
ouvidos. O estilo pode ser meu - os silêncios, esses, são deles».
Este conjunto de crónicas, textos avulsos e pensamentos
dispersos perfazem as 264 da obra literária que marca a chegada à varanda dos
novos autores da região, mormente mulheres.
Escrevo esta nota quando leio, no Planalto Barrosão,
o artigo «Rutura cultural», da autoria de Pedro Araújo. Escreve ele que «Barroso
nunca foi um território de indivíduos. Fala-se em gentes e populações e mais em
nós do que em eu. Esse tempo parece ter os dias contados. Hoje em Barroso,
correm ventos de «só entra quem eu quero e quando quero», imperam o azedume e o
fel, apaziguado no espaço público, mas exacerbado no mundo digital. Perde-se o
amor às coisas simples».
A Editora Âncora apôs a sua chancela nesta obra de grafismo apurado.
Barroso da Fonte



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