sábado, 17 de maio de 2025

IGREJAS DO PADROADO DA UNIVERSIDADE DE COIMBRA NAS DUAS MARGENS DO DOURO SÉCULO XVIII

 

JÚLIA  SERRA



Armando Palavras, na sua obra Igrejas do Padroado da Universidade de Coimbra, revela-nos as igrejas do século XVIII que pertenciam a este Padroado, nas duas margens do Douro, particularmente as do Património Novo. A capa do livro é lindíssima  e retrata o pormenor do Altar-mor da igreja de Valongo dos Azeites (São João da Pesqueira); na contracapa há uma referência à complexidade dos processos, relevando os conhecimentos que daí provêm, quer a nível dos intervenientes – os mestres, os oficiais, os magistrados, as testemunhas, os abonadores, os fiadores , as instituições contratantes, etc. –  quer a nível das atividades económicas e locais onde se procedia à arrematação dos emaranhados processos.

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O investigador Armando Palavras conjuga, através da escrita, a sua formação académica em Belas Artes e em História, dando ao leitor uma perspetiva tão profunda e credível que o transporta para o local, analisado e escalpelizado pelo especialista, fazendo-o reviver o ambiente temporal e despertando-lhe a contemplação mística do cenário (adentro da obra, o leitor coloca-se noutra perspetiva espácio-temporal). Na extensa Introdução, essencial para explicar o trabalho a desenvolver, o autor refere os complexos processos e formalidades exigidas, na época setecentista, na construção e reparação das igrejas e é esse caminho a desbravar na documentação que constitui a trave-mestra deste profundo estudo. Para avaliação desta exaustiva investigação atentemos, nas formalidades indicadas pelo autor com base na documentação consultada: “Antes de tudo a obra era arrematada em hasta pública a mando do corregedor da Comarca” (p.7). Primeiramente, era anunciada em editais públicos em locais visíveis e com muito movimento, para que o maior número de mestres pudesse concorrer; depois, o mestre ia ao local da obra para a analisar, antes de firmar qualquer contrato celebrado entre o contratante, o juiz da igreja e eleitos representantes da freguesia, e o mestre contratado. Do auto da arrematação, por vezes, constavam a data de conclusão e pagamentos da obra. A arrematação, geralmente, tinha um ato simbólico com a “entrega do ramo, por parte do porteiro ao arrematante, como sinal de ter selado o contrato (…) Após a arrematação, o mestre assinava juntamente com o corregedor e o escrivão o termo de obrigação, também chamado termo de lance” (p.8). Havia ainda um termo de fiança, assinado pelos fiadores que se comprometiam a financiar o mestre , caso este não cumprisse as cláusulas contratuais. O arrematante da obra tinha de assinar todos os apontamentos (geralmente no escritório do escrivão) para se lavrar um termo.

O autor perscrutou obstinadamente as várias etapas constituintes de um processo (escritura, apontamentos, arrematação, pagamentos prazos, vistoria e outros pormenores descobertos em algumas igrejas), de modo a não deixar escapar qualquer brecha na investigação do processo de construção e execução, o que permite ao leitor avaliar esta maiêutica cultural setecentista.

Após a abordagem teórica dos complexos processos, o Professor Armando Palavras listou, então, as Igrejas que fazem parte do Padroado da Universidade de Coimbra, nas duas margens do Douro, no século XVIII. Na margem esquerda, estão sinalizadas dez igrejas e na margem direita apenas quatro. (ver mapa pág. 25). O autor refere que” por doação régia os bens destas igrejas passaram a pertencer, no reinado de D. José I, à Universidade de Coimbra, a quem passou a competência de por eles zelar” (p.19). Ficava a encargo do padre da respetiva freguesia e de outros responsáveis comunicarem a necessidade de realização de obras à Junta da Fazenda que, por sua vez, contactava com a Universidade. O arquiteto responsável pelas igrejas deste padroado era Manuel Alves Macamboa. Com a reforma Pombalina houve alterações e surgiu a designação de Património Novo e Património Antigo, mas neste estudo o autor contemplou o Património Novo, já com as incorporações solicitadas por D. João III. Aludidas várias reformas, a nível histórico e religioso, informa-nos o douto investigador: “Só com a Carta de Lei de 23 de Maio de 1848 a Universidade deixa de ter Fazenda e rendas privativas, com as quais até então sustentara as suas despesas” (p.21), passando estas a ser consignadas no orçamento geral do Estado.

O livro é muito rico não apenas no plano informacional, mas também pelas belas imagens artísticas que exemplificam a fundamentação da arquitetura característica do período setecentista, com predominância do barroco, exibindo decoração em talha dourada nas paredes, retábulos e azulejaria. Para além disso, o leitor apreende que o património da Universidade era praticamente constituído pelo seu Padroado (que lhe permitira financiar as despesas até 1848), reconhece também a riqueza do património religioso das regiões atinentes, enquadra-se nos momentos/ contextos históricos definidores dos aludidos processos e construções e, a maior culturalidade advém da explicação minuciosa que Armando Palavras transmite em cada exemplar que contempla.

                Uma obra seminal, atemporal, que serve de guião turístico para uns e de apreciação histórico-religiosa para outros. Os amantes de arte, esses, deverão ser os primeiros destinatários.

                Parabéns ao Autor.

 

                                                                                                          Júlia Serra

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