Em
Braga:
Cimeira da
imprensa local e regional foi mistério positivo
Os 21 anos de ligação ininterrupta ao jornalismo
(nacional, regional e local) que, em Abril de 1974, já somava, permitiram-me,
na qualidade de correspondente do JN, DN e Diário Popular,
na cidade de Guimarães, convencer outros correspondentes de outras publicações,
a fundar uma associação que zelasse pelos direitos de quem escrevia ou
comunicava notícias na imprensa da época.
Esse organismo chamou-se Gabinete de Imprensa de
Guimarães (GIG) e, dia 3 de Março de 1976, nascia o primeiro recurso que
garantia apoio e proteção aos seus aderentes. Fossem da direita, do centro ou
da esquerda política, todos os associados dispunham do mesmo tratamento. A Câmara
local concedeu um espaço, a título gracioso, e dali em diante tudo mudou. Até
essa altura, somente existiam no país dois organismos: AID e AIND; aquele para
os jornalistas «profissionais» e este para os «amadores» que eram uma espécie
de bombeiros voluntários da imprensa: chamavam-se correspondente locais.
Existia uma espécie de sindicato, para um ou outro
mais atrevido que, perante o patronato, simulava uma certa autoridade. A
censura, mais tarde, exame prévio, foi um obstáculo que irritou a
liberdade de imprensa, até à chegada da primavera ideológica. A existência
desse obstáculo limitava a função do jornalismo. E o signatário, que cedo se
intrometeu nessa faina, teve de requerer ao Ministério da Defesa, autorização
para cumprir, no norte de Angola, os 26 meses de oficial Ranger que
desempenhava a dupla função de combatente miliciano e de repórter.
Esta acrescida tarefa ainda hoje a usa, porque dela se serviu quando, em 1975,
se transferiu de Chaves para Guimarães. Na qualidade de jornalista daqueles órgãos
acima referidos, tendo apenas um cartão de representante do JN e do Notícias
de Chaves, viu-se, algumas vezes, com dificuldades de acesso a, por
exemplo, certas empresas têxteis, que negavam a entrada, fosse a quem fosse,
para obter informações.
Foi por essas e por outras que os representantes dos
jornais, chegaram ao entendimento de legalizar o Gabinete de Imprensa, para dar
formação intensiva, de seis meses, simultaneamente, a quantos aderissem ao
projeto. E, assim, em nove concelhos do distrito de Braga tudo decorreu como se
previra.
Que foi na hora certa e com o rumo ajustado, nota-se através da formação intensiva de três centenas de titulares do «Cartão de Acreditação», aprovado pelo então Secretário de Estado da Comunicação Social, Carlos de Sousa Brito; e pela confiança que depositou na designação do líder do Gabinete de Imprensa de Guimarães, ao nomeá-lo delegado da Direção-Geral da Comunicação Social do Norte. Foi esta a primeira associação diretiva, pós 25 de Abril, a olhar para o futuro da comunicação social, mormente no que respeitava à inexistente legislação do sector.
Coincidiu com a chegada ao panorama nacional do então jovem Luís Marques Mendes, ex-secretário de Estado da Comunicação Social e impulsionador do Estatuto da Imprensa Regional. Na qualidade de secretário de dois governadores civis de Braga, ascendeu a membro dos governos de Cavaco Silva. A sua apetência política e jurídica que prestou aos dois influentes governantes do distrito de Braga, Eurico de Melo e a Fernando Alberto, cedo contribuiu para catapultar Marques Mendes, não só como Secretário de Estado, mas também como ministro, conselheiro de Estado e, agora, candidato a Presidente da República. Enquanto responsável máximo pela Comunicação Social, dada a aprendizagem que hauriu a partir da cidade onde nasceu (Guimarães) e cresceu (Fafe), nunca perdeu os efeitos positivos da Cidade Berço e da popularidade que irradiava, por estas exigências que herdou da Família e que se relacionavam com o simbolismo da Portugalidade.Obviamente que a imprensa de Fafe aderiu, em força e
qualidade, ao projeto que o Gabinete de Imprensa, sediado na vizinha Guimarães,
proporcionava aos seus associados. Entre 1976 e 1985, Marques Mendes
preparou-se, em Coimbra, para ser um destinatário privilegiado no amplexo da
área científica de que o país precisava.
Em 1985 o signatário desta narrativa que, entretanto
fora eleito vereador da Câmara de Guimarães, por quatro anos, cessou funções de
delegado no Norte da Delegação da Comunicação Social. Marques Mendes pretendeu
convidá-lo para diretor-geral. Mas a estrutura política local entendeu que o
fundador do GIG não deveria abandonar a autarquia, dado o facto do partido ter
ter ganho as eleições, sem que os dois vereadores que estavam na iminência de
abandonar o elenco, fossem substituídos, como foi o caso do parlamentar Lemos
Damião. Face a essa situação, o jovem governante solicitou ao signatário deste
texto, então vereador vimaranense, a elaboração de uma lista de medidas
necessárias e urgentes para mexer, profundamente, na legislação nacional, que
foi adotada pelo mais novo e irrequieto governante.
Nos dias 15 e 16 de Março último a ANIR (Associação
Nacional da Imprensa Regional) reuniu em Braga meia centena de representantes
desta nova associação, dirigida por Eduardo Costa. Aí esteve Marques Mendes que
falou daquilo que fez em prol da comunicação social. Aqui deixo excertos do seu
testemunho:
«Em
1985, chego ao Governo e tenho a minha primeira experiência governativa. Tinha
28 anos e foi-me atribuída a pasta da Secretaria de Estado da Comunicação
Social. Obviamente que os grandes dossiês que tinha na altura entre mãos eram
outros: o início do processo de privatização da imprensa nacional, o desafio de
criar a primeira lei de rádios que permitisse legalizar as chamadas rádios
locais, o processo de fusão das agências de notícias. Estes eram, portanto, os
grandes dossiês, aqueles que moviam as grandes atenções políticas e mediáticas
e davam origem a inúmeros debates parlamentares. Agora, achei por bem acrescentar
à agenda tradicional o tema da imprensa regional, devo dizer até que com
surpresa para as pessoas que trabalhavam no meu gabinete. As pessoas do meu
gabinete achavam um pouco estranho, porque não conheciam esta imprensa, ou se
conheciam, não atribuíam grande importância e, por isso, não compreendiam
sobretudo o grande enfoque que queria colocar na imprensa regional. Surpresa
maior surgiu quando dei orientações e criei uma pequenina equipa para preparar
um projeto de estatuto da imprensa regional. O primeiro estatuto da imprensa
regional é desse meu tempo e da minha responsabilidade. Era absolutamente
essencial para dar o ponto de partida para uma nova era, um novo ciclo na forma
de abordagem da imprensa regional.»
«Um
outro grande momento foi a criação de um conjunto de incentivos de natureza
financeira para a modernização e a reconversão tecnológica da imprensa
regional. E porquê? Porque achei também que não chega ter um estatuto, porque
senão corre-se o risco de este ser apenas uma espécie de letra-morta, um papel,
uma formalidade. O importante era justamente o contrário, era tratar do futuro
da imprensa regional, que precisava de ser modernizada e tecnologicamente mais
avançada. Havia, na altura, um conjunto de instrumentos para o fazer, mas
precisavam de surgir a montante os instrumentos financeiros. O porte pago que
já existia, mas que existia em más circunstâncias e condições, também era
preciso ser reformulado e reformado».
A
ANIR nasceu em 2016 e contará com 208 aderentes. Como sócio fundador do GIG e
do IPIR, em 1976, 1984 e APIR (Barcelos) respetivamente, confesso que nunca
ouvira falar desta nova coletividade, apesar de saber - agora - que o seu atual
Presidente e fundador, Eduardo Costa, fora membro fiel das três primeiras
associações da imprensa. Gostei de ver o vídeo e de ouvir algumas
personalidades nacionais, mormente Luís Marques Mendes que pode e deve incluir,
no seu curriculum de candidato Presidencial, o muito que fez pelo setor.
Barroso da Fonte
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