sábado, 18 de janeiro de 2025

Crianças traídas em nome de um mito

 


Margarida Bentes Penedo

Arquitecta e deputada municipal

Não é um caso de encobrimento, é um caso de cumplicidade consciente e deliberada. O estado britânico é cúmplice de crimes de agressão sexual e pedofilia. Eis o wokismo em toda a sua brutalidade.

Observador, 17 Janeiro 2025, 00:17

https://observador.pt/opiniao/criancas-traidas-em-nome-de-um-mito/   

 

O caso é de virar o estômago do avesso. Tão grave e tão indigesto que fez o mundo mediático virar-lhe as costas e entupir o debate com platitudes beatas sobre o “imperialismo de Trump”. A esquerda não sabe como se defender do escândalo de pedofilia que provocou no Reino Unido. Durante décadas, milhares de raparigas inglesas, brancas e pobres, com idades entre os 11 e os 16 anos, foram barbaramente violadas por gangues de homens adultos paquistaneses.

Aconteceu no norte de Inglaterra, com grande concentração na área metropolitana de Manchester. A polícia sabia, tal como os governantes, os serviços sociais, o Ministério Público, e todos os representantes do estado que podiam ter parado a selvajaria e, em vez disso, encobriram os criminosos. Porquê? Uns por medo de parecer racistas, xenófobos, ou islamofóbicos; outros para não alimentar o “populismo” e a “extrema-direita”. Acima de todas as prioridades, impunha-se proteger a “comunidade asiática” e defender o multiculturalismo.

Havia queixas, relatórios, provas, informação mais do que suficiente, e havia acusações até oficiais. Mas não havia acção. Os funcionários do estado tinham orientação superior para não fazer nada.

Os números são grotescos. Em Rotherham, uma pequena cidade com 100 mil habitantes, e apenas no período compreendido entre 1997 e 2013, foram violadas com especial brutalidade 1.400 miúdas pobres, tão pobres que viviam quase todas em orfanatos e casas de acolhimento. Algumas crianças, pela violência das agressões sexuais que vários homens praticaram sobre elas colectivamente, tiveram de ser submetidas a cirurgias. Um polícia disse que os abusos duravam há 30 anos. Os casos eram conhecidos desde os anos 80. A população de paquistaneses nesta cidade é de 3% (cerca de 3 mil). Calcula-se que o escândalo tenha atingido 50 cidades britânicas. Entre centenas de outras histórias aberrantes, o pai de uma das crianças, ao tentar retirá-la da casa onde a filha era violentada, foi impedido pela polícia e levado preso.

A esquerda, que neste momento governa o Reino Unido, bloqueou um inquérito público sobre todas as violações praticadas por gangues paquistaneses sobre crianças britânicas. Para proteger o multiculturalismo? Já não. Desta vez foi para proteger o chefe. Keir Starmer, primeiro-ministro e chefe do partido trabalhista, dirigiu entre 2008 e 2013 o departamento do Ministério Público que devia ter investigado estes crimes.

Aqui, jornais e televisões, a braços com o pequeno escândalo doméstico da pequena criminalidade enfrentada pela polícia na Rua do Benformoso, deram grande visibilidade à esquerda para emitir protestos contra o racismo da polícia, e a xenofobia de polícia, e a imaginada infiltração da “extrema-direita” nas nossas forças de segurança. Não se lhes ouviu mais do que um resmungo morno sobre o escândalo de agressões pedófilas no Reino Unido. A generalidade dos comentadores portugueses, se falou foi para apontar o dedo a Elon Musk, culpado de “ingerência nos assuntos do estado britânico” por ter escrito sobre o escândalo no X. Quase nunca para culpar o estado britânico, nem o primeiro-ministro Keir Starmer, nem os vários governos britânicos que parecem estar envolvidos.

O escândalo prossegue, porque os criminosos passeiam-se pela rua e os representantes do estado que os encobriram foram deixados em paz. Deviam estar todos na prisão. E só há uma maneira de remediar isto: desenterrar, investigar, levantar todas as pedras, e fazer justiça por todos aqueles milhares de crianças.

Mas acima de tudo, no Reino Unido como no Martim Moniz, o multiculturalismo não pode impedir a segurança pública. A lei tem de ser igual para todos. Em nome do multiculturalismo, não se pode aplicar a lei selectivamente.

No caso britânico, o estado de direito foi abandonado em nome de um mito, destruindo a vida de milhares de crianças pobres. Estas crianças foram traídas em vez de protegidas, em troca de uma falsa coesão social e a um preço imperdoável. Já não é um caso de encobrimento, mas de cumplicidade consciente, ponderada, e deliberada. O estado britânico é cúmplice de crimes de agressão, abuso sexual, e pedofilia. E o escândalo também não é um produto do wokismo, nem um efeito secundário ou colateral. É o wokismo em si próprio e em toda a sua brutalidade.


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