terça-feira, 31 de dezembro de 2024

O AMIGO PESSIMISTA

 

JORGE  GOLIAS


Hoje, Segunda, 30 de Dezembro, com 6 graus e sensação térmica de 4, na hora deste encontro talvez já algo mais, mas logo pela manhã, andando eu em modo de caminhada, surgiu o meu amigo pessimista, vestido a preceito invernoso, sobretudo, cachecol, boné, sempre na cabeça e luvas. E máscara! Sim, hoje, veio de máscara, com este frio nunca se sabe se ele não anda por aí.

Atira logo a matar: - tu, que és inteligente (para ele, Eng.º, é inteligente) diz-me lá como é que os hotéis estão todos esgotados numa altura de crise e de tanta miséria (para ele não há pobreza, há miséria). Retruco eu (redundância): -Olha isso é um bom sinal, é sinal de que o índice de pobreza de que falas não é real, é a percepção, que hoje tanto jeito dá: se não é verdade, é percepção, algo semelhante ao “si non è vero, è bem trovato”. Dando de barata a falta de rigor sociológico da minha resposta, o certo é que o amigo pessimista entupiu, mas não cedeu. Aliás ele nunca cede, mas lá no fundo fica a pensar, estilo “va pensieri” (…) Oh Patria tão bela e perdida (…). É isto que penso que alguns dos meus amigos pensam: não gostam do Chega, mas pensam em modo Chega!

Um pessimista está sempre descontente: é a juventude que não presta, é esta juventude que já não vai ter reformas, é o SNS que já faliu, são as guerras que não têm fim. E, eu, retruco, (nova redundância!): mas então não é esta juventude a mais bem preparada de sempre? Esqueceste que a tua conversa era a conversa dos nossos avós - nós éramos uns perdidos que não iam ter nenhum futuro. Retruco ainda (à terceira retiro a redundância, porque o que é demais é moléstia) que para as reformas há-de haver sempre fundos, porque no fundo são os velhos os maiores eleitores. Retruco mais uma vez, mas agora com uma pergunta: -Sabes tu o que de melhor têm as guerras? Que não, que só têm mal. Respondo que isso vem na História, que o que de melhor tem uma guerra, todas as guerras, é que sempre acabam. E que sendo assim só nos restava fazer votos para que acabem para o ano, depressa, ou seja, na melhor das hipóteses daqui por 48 horas!

Pois, tu estás sempre optimista, parece que nem vives cá! E logo tu que tens tudo para estar na fossa! E mira-me, admirado! E vai-me dizendo que me inveja. Fico a pensar se acredita no que eu digo, pois nem eu acreditarei lá muito bem, e se ele me chegasse com demasiados optimismos eu sei que iria retrucar com bons argumentos pessimistas. O meu modo jesuítico, saber defender tudo e o seu contrário! O importante é manter a ligação conversando, fazendo pensar nas coisas em todos os sentidos, nos bons e nos maus e depois tentando concluir sempre que se penso é porque existo e que se não deixo o cérebro adormecer é porque ainda respiro.

E perceber que respirar é das melhores coisas que podemos fazer. E se o ar for bom, bom ar, dá bons ares e boas cores. E a propósito de bons ares que trazem os bons cheiros, que iria ali perto almoçar o bacalhau à minhota que tem bom ar, boa cor e bom cheiro. E, já agora, bom sabor.

Então Bom Ano Novo, com bons ares e boas cores!

CNX30DEZ2024JG83

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