JORGE LAGE
A irrequieta e sonhadora Mofina Mendes, como
voaria nas asas do sonho à «Feira de Trancoso» e iria até Silgueiros, para ver
como se tece uma grande obra cultural. No caminho encontraria o sapateiro
Bandarra, sábio profeciador e ouviria, o imortal e belicoso Magriço, Álvaro G.
Coutinho, de Penedono. Mas só caminha quem tem caminho para andar ou quer
correr atrás da ilusão. Belicoso e burilador da pena, em Terras do Demo,
Aquilino Ribeiro que do Carregal (Senancelhe) e numa taloca dum «Gigante Vegetal
no Codessal» ou na Soutosa (Moimenta da Beira) com uma pena fazia o Malhadinhas
calcorrear as serranias a salgar-se, carregando as azémolas nas alvas salinas
aveirenses. Ás tantas já o Viriato torcia o nariz a esta magra escrita porque
se achava como o mais famoso a pelejar contra os romanos, fosse nas Cabanas ou
emboscado, em Folgosinho, enquanto ali recobrava forças com umas «castanhas
tamanhas». Hoje, a «Martaínha» arroga para si a coroa do tamanho, do reino
serrano e castanhícola lusitano. E se fossem todos/as em penitenciador clamor à
Sra. da Lapa ou à terra beirã dos sirgos, tecer as mais belas histórias que as
dezenas de milhares de «personagens» do Museu de Silgueiros nos têm para nos
contar? É só olhá-las nos «olhos» e com elas devanear. Eu conto-vos que tenho
mais fascínio pela cultura rural e silvestre do que por muitas criações urbanas
que de cultura pouco parecem emanar. Atrevo-me a sugerir aos assessores
culturais de Belém e à actual Ministra da Cultura uma visita aos dois espaços
culturais: ao Museu Etnográfico de Silgueiros e, se passar por Escalhão
(Figueira de Castelo Rodrigo), faça mais uma pausa e ganhe uma hora ou duas de
cultura, no Museu Etnográfico da Freguesia de Escalhão dialogando com as
raríssimas peças que por lá encontramos. Amigo leitor aponte na agenda uma
futura visita. O mundo rural não morre enquanto houver guardiões da sua
cultura.
Museu de Escalhão
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