Caros comprovincianos e amigos,
Apesar de
terem alguns políticos identificados, dado a entender que, o drama do lítio
que, desde há anos despoletou, pondo em risco, o meio ambiente que se
vislumbra, para o futuro dos nossos descendentes. As notícias que nos chegam,
referem-se à «Mina do Romano», no concelho de Boticas. Recebi hoje o texto que
um punhado de Barrosões preparou para ser remetido aos principais órgãos de
soberania.
Reencaminho
este comunicado para alguns patrícios que possam «avisar toda a gente».
Um «abração»
do Barroso da Fonte
MANIFESTO
Mina do Romano – Montalegre
Excelentíssimo Senhor Doutor:
Luís Montenegro, Primeiro-Ministro de Portugal
Assunto: Exploração Mineira em Montalegre
Data:
C/c. ao:
- Excelentíssimo
Senhor Presidente da República;
- Excelentíssima
senhora Ministra do Ambiente e Energia:
- Grupo
Parlamentar do Partido Social-Democrata;
- Grupo
Parlamentar do Partido Socialista;
- Grupo
Parlamentar do Partido Chega;
- Grupo
Parlamentar do Partido Iniciativa Liberal;
- Grupo
Parlamentar do Bloco de Esquerda;
- Grupo
Parlamentar do Partido Comunista Português;
- Grupo
Parlamentar do Centro Democrático Social;
- Grupo
Parlamentar do Partido Livre;
- Grupo
Parlamentar do Partido Pessoas e Animais;
- Excelentíssima Provedora de Justiça.
MANIFESTO
Mina do Romano – Montalegre
Excelência:
I
O concelho de Montalegre, região do Barroso, é um território sui generis,
do qual faz parte 1/3, do Parque Nacional da Peneda Gerês. É reserva da
Biosfera e área distinguida pela FAO, como Património Agrícola Mundial – o
único no país.
II
Ora sendo assim, estes, seriam por si só, factores suficientes para
inviabilizar qualquer Projecto Mineiro na região, tendo em conta, não apenas o
compromisso internacional do Estado Português com a FAO, como também a legislação
em vigor, que proíbe o aproveitamento de recursos mineiros em territórios
SIPAM, bem como o preceituado na PAC-Política Agrícola Comum da União Europeia,
e no PEPAC - Plano Estratégico da PAC 2023-2027 para Portugal.
III
Estamos assim e desde logo, perante requisitos incompatíveis com tal
actividade, que a concretizar-se, pode comprometer a sua classificação e
consequentemente, não apenas os objectivos dos financiamentos comunitários do
programa SIPAM, mas também os investimentos de apoios financeiros do baldio de
Barroso.
IV
Mas não é tudo!... Barroso, é igualmente uma região detentora de
biodiversidade única, cuja mineração do litio a concretizar-se, irá
irremediavelmente destruir.
Falamos de espécies protegidas como o lobo ibérico; da libélula; das aves
migratórias típicas da Península Ibérica, que uma exploração mineira obriga à
perda dos habitats e à sua consequente fuga; falamos da qualidade visual da
paisagem; do relevo; dos uso e costumes e dos solos; da paisagem
agro-silva-pastoril; do ar; e principalmente dos recursos hidricos.
V
Recursos hídricos de um território com abundância de água que escorre das
várias nascentes e ribeiros, e com 6 Albufeiras nele sedeadas, da qual se
destaca a do Alto Rabagão como sendo a 2.ª maior do país, com uma
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MANIFESTO
Mina do Romano – Montalegre
área de 3.000 hectares e que abastece as populações não apenas dos
concelhos do Alto Tâmega, como também da cidade de Braga e Porto Norte. Além
disso, produz ainda energia, que abastece uma média de 400.000 habitantes.
VI
Estamos assim, perante água de qualidade, recurso escasso, cada vez mais
valorizado e que por si só, deverá ser igualmente preservado e não comportar
qualquer tipo de ameaça externa.
VII
Certo é, que a vingar a exploração mineira do lítio na região, todos os
seus recursos hídricos superficiais e as linhas de água serão afectadas. E não
somos apenas nós que o afirmamos!... É o próprio Projecto de Exploração que o
confirma, ao referir-se à captação dos caudais de ribeiros, rios, e da própria
albufeira.
VIII
Isto, porque serão pelo menos necessários, 5.000 m3 de água por dia, que a
exploração se propõe consumir, o que equivale a cinco vezes mais, que o consumo
anual de toda a população do concelho de Montalegre, do qual fazem parte 25
Freguesias e 136 Aldeias e Lugares, numa área de 800 quilómetros quadrados de
superfície, algo semelhante à Região Autónoma da Madeira, ou seja:
IX
Valores absurdos, para um recurso tão precioso e cada vez mais escasso, que
irão servir para lavagem da rocha extraída de uma área completamente devastada,
correspondente a 30 hectares a céu aberto.
X
Significa isto, estarmos assim perante a destruição de todo um ecossistema ribeirinho dos mais puros e preservado do país, como é o caso das trutas fário, mexilhão de água doce, toupeira da água e várias espécies de anfíbios. Impactos, que irão atingir não apenas e de igual modo a bacia do Rio Rabagão e respectiva Albufeira, como também a do Rio Beça, do Rio Cávado e dos seus afluentes em toda a sua extensão, ou seja;
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Mina do Romano – Montalegre
XI
Um verdadeiro desastre, se tivermos em linha de conta, o ex. libris
que representa para todas as comunidades residentes, não apenas a zona
afectada, como as demais envolventes, designadamente os lameiros do Barroso,
terrenos agrícolas onde pasta o gado e devem a sua erva à quantidade de água
que existe à superfície, a qual contribui para um regadio natural, tornando os
prados verdejantes e alvo de pastagem do gado bovino de origem barrosã,
reconhecido internacionalmente como dos mais prestigiados, e caprino e ovino,
espalhados em rebanhos, um pouco por toda a área circundante. Tudo dados, que a
DIA-Declaração de Impacte Ambiental ignorou e depreciou no seu relatório
final.
XII
Pressupostos aliás, que não foram únicos!... A estes, juntam-se igualmente
aqueles que dizem respeito à questão socio-económica e à promessa de que
Projecto de Exploração Mineira, captaria postos de trabalho, o que em boa
verdade não passa de uma falácia, senão vejamos;
A - No que respeita à
empregabilidade local, os últimos Censos são elucidativos: o concelho tem
escassez de população activa dos 20 aos 45 anos e a que existe já se encontra a
trabalhar;
B - Depois, ninguém
acredita que o Projecto da Mina, com todas as características da actividade em
si e riscos que lhe estão associados a curto, médio e longo prazo, possa captar
jovens emigrantes ou migrantes, que se proponham abandonar os seus empregos
para virem trabalhar em minas;
C – Já no que diz
respeito aos postos de trabalho directos mais qualificados, resumir-se-ão
apenas aos que se desloquem pontualmente ao concelho, sem que ali se fixem, o
que significa, não contribuírem de modo algum para o evoluir demográfico;
D – Por último, a
maioria deste trabalho de exploração será mecânico, e por conseguinte,
efectuado com recurso a maquinaria a que não é imune a óbvia poluição sonora em
prejuízo das populações próximas e das aldeias das redondezas.
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XIII
A tudo isto – refira-se, há ainda a realçar a destruição dos terrenos
agrícolas propriedades da população local, e a zona de baldios, neste caso,
propriedade comum, que contribui para os subsídios agrícolas, fonte de receita
considerável para a região e para os habitantes das aldeias que estão situadas
na zona da exploração.
XIV
Apesar do relatado e dos “meandros” ainda não esclarecidos pela
Justiça face a um processo que de transparente tem pouco, a APA – Agência
Portuguesa do Ambiente, resolveu emitir uma DIA – Declaração de Impacte
Ambiental favorável, embora condicionada.
XV
Condicionada, entre outras prerrogativas, por uma alegada e futura
refinaria de lítio nas imediações da exploração, que segundo a APA, "deveria
ser objecto de um procedimento de Avaliação de Impacte Ambiental autónomo"
que nunca ocorreu, e cuja localização se revela incompatível com o Plano
Director Municipal do concelho de Montalegre, tendo em conta, que afecta áreas
ecológicas e núcleos de desenvolvimento turístico.
XVI
E assim sendo, continua por explicar, o que acontece com as 923.000 toneladas de
resíduos para as quais se “desconhece o destino final”. Resíduos, resultantes da
lixiviação das rochas que ficam muito mais permeáveis, e por onde os ditos resíduos
se vão infiltrar. Isto, tendo em conta, que também o sistema de drenagem é
omisso e nada é referido no Estudo de Impacte Ambiental.
XVII
Depois, outros problemas se colocam!... O primeiro, relacionado com o
tráfego!... Quando as projecções apontam para uma média de 10 camiões/hora numa
estrada que nem sequer tem ligação à auto-estrada, as consequências rodoviárias
serão não só avultadas, como significarão a destruição do que resta da EN-103,
e respectivas pontes.
XVIII
O segundo no que concerne aos ventos!... Sendo Montalegre uma zona de
montanha e fortemente atingida por rajadas, principalmente no inverno, teme-se
que as partículas do complexo possam chegar num raio de vários
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Mina do Romano – Montalegre
quilómetros às aldeias, afectando de sobremaneira a saúde e qualidade de
vida das respectivas populações residentes.
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Ora sendo assim, o concelho de Montalegre, designado como está, como uma “Ideia
da Natureza” e com uma aposta em força no agroturismo, não é por isso compatível
com a exploração de minas. Nenhum turista de natureza pretende visitar um
concelho, cuja encosta tem uma cratera gigante com cerca de 30 hectares e que exigirá a
deposição de cerca de 27,1 milhões de toneladas de estéreis que vão alterar por
completo a orografia de uma região e contaminar um espelho de água como o da Albufeira do
Rabagão.
XX
E depois, é que tal como o turismo ecológico e de natureza, também os
produtos endógenos, poderão estar igualmente comprometidos, o que significa que
os agentes turísticos irão sair prejudicados, sobretudo os alojamentos locais
que existem às centenas, e a restauração que atinge as duas dezenas, só em toda
a zona envolvente da dita Albufeira.
XXI
Significa por isso tudo isto, não apenas um forte revés na actividade
turística e no desemprego que lhe está associado, como também na economia
local dependente que está do turismo. Daí, não ter surgido por acaso, o
conceito de ECOTURISMO na região, com a identificação, manutenção e preservação
dos recursos naturais e identidade cultural - Usos e Costumes do Barroso.
XXII
Refira-se ainda, que o concelho de Montalegre e o seu povo, já contribuíram
em muito para a pegada ecológica nacional e para a produção de energia
verde.
Tal acontece com a produção de energia hidroelétrica e eólica, e por isso mesmo, não devem ser mais sacrificados, muito menos perder a sua identidade cultural e património natural, por via de uma extracção, cujo estudo nem sequer conseguiu provar a quantidade exacta de volume anual produzido.
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XXIII
Estas, são apenas algumas das inúmeras razões apontadas, a que acrescem os
estudos levados a efeito pelas Universidades do Porto e Nova de Lisboa e pela
Associação Ambientalista “Zero”, os quais referem estas e outras lacunas e
incongruências que não estão ainda explicadas, e que por si só devem levar ao
chumbo definitivo deste Projecto Mineiro, que a concretizar-se, significará
para a região, não apenas a maior catástrofe da sua História, como também
uma mancha negra, numa região tão singular como a nossa.
Assim sendo, e considerando:
- os pressupostos ora enunciados e que a estratégia de exploração do lítio nesta região aprovada em 2018, está a ser objecto de elevadíssimas críticas, quer pelos prejuízos ambientais e sociais já enumerados, quer pela dúvida da sua viabilidade económica;
- que o desmonte a céu aberto vai levar à descaracterização da paisagem e provocar impactos visuais pelo contraste entre a área a explorar e o meio envolvente;
- que em termos de morfologia do terreno – o desmonte, altera essa mesma morfologia, com a abertura das cortas;
- que a alteração da ocupação e uso do solo actualmente agrícola e florestal, passará a ter uso extrativo em elevada extensão;
- que as actividades sociais, decorrentes da alteração das actividades económicas existentes, designadamente a agricultura e a floresta se esvaziarão;
- a inevitável contaminação dos solos, provocados por derrames de combustíveis e óleos lubrificantes devido à circulação de equipamentos, assim como a exposição de resíduos colocados indiscriminadamente no terreno;
- a hidrologia de superfície, afectada pelas alterações nas linhas de água e pelas depressões associadas à exploração do minério;
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- a hidrologia subterrânea e a respectiva Interferência nos circuitos hidráulicos sub-superficiais e rebaixamento de poços e captações;
- a qualidade das águas, deterioradas pela infiltração e percolação de derrames de combustíveis e óleos, e pela acumulação de resíduos industriais;
- que a Barragem do Alto Rabagão é a segunda maior reserva de água do país – logo a seguir ao Alqueva - e que a mesma é bebida por milhares de cidadãos desde a região do Alto Tâmega até Braga e ao Porto Norte;
- que uma mina a céu aberto, como a do Romano, consome diariamente uma enorme quantidade de água para lavar a rocha, e que essa mesma rocha contém sulfuretos e outros contaminantes de consequências graves quer para a água, quer para os solos, quer ainda para a saúde pública;
- que na área envolvente da pretendida exploração se situam diversas aldeias - Carvalhelhos, Morgade, Rebordelo, e várias outras que se abastecem das nascentes provindas dos lençóis freáticos que uma mina a céu aberto destrói e contamina;
- que todas essas ditas aldeias têm vastas extensões de baldios, com fauna e flora onde predomina o mel que é uma riqueza regional, e onde apascentam animais de espécies diversas;
- que toda essa gente vive da agricultura e do turismo e que uma mina a céu aberto produz intenso e permanente barulho e liberta poeiras contaminantes e altamente prejudiciais à saúde, como está já sobejamente provado;
- que tais efeitos nefastos, afectam gravemente os empreendimentos turísticos já constituídos na região e arredores e inviabiliza outros;
- que o EIA carece de fundamentação séria e rigorosa nos seus diversos itens e particularmente em termos de custos benefícios, agravados que são pelo carácter temporário da exploração;
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- que Barroso está classificado como Património Agrícola Mundial, um estatuto de grande relevância para a região e para o país;
- que o compromisso internacional do Estado Português com a FAO se mantém válido;
- que estamos na presença de uma clara violação da legislação em vigor, que proíbe o aproveitamento de recursos mineiros em território SIPAM, bem como o preceituado na PAC-Política Agrícola Comum da União Europeia e no PEPAC - Plano Estratégico da PAC 2023-2027 para Portugal;
- que é falsa a anunciada construção de uma fábrica de transformação dos minérios, caindo assim e desde logo por terra, a anunciada criação de vários postos de trabalho;
- que o Ambiente é um bem a preservar e que tal preservação, não passa – antes pelo contrário, pela concessão do direito à exploração na região;
- que a eventual concessão de modo a permitir a exploração do minério, viola Direitos Fundamentais dos cidadãos;
- que conforme na vigência do anterior Governo, o GPPSD referiu em comunicado, que “a credibilidade deste processo está seriamente abalada, a população está contra o projeto, e a defesa dos seus interesses não está acautelada”, o que de facto se constitui como verdade inequívoca;
Se requer a V.Ex.ª, a tomada de medidas, para que tal não venha a ocorrer.
1.º Subscritor
F………….
Contacto:
Anexos:
- Lista
de subscritores do presente Manifesto;
- Parecer
da Universidade do Porto;
- Parecer
da Universidade Nova de Lisboa;
- Parecer da Associação
Ambientalista Zero.
Outros Subscritores
Ordem |
Nome |
Residência |
Profissão |
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