JORGE LAGE
Levada
de Víbora – A «Levada de Víbora» e
«Moinhos d’El Rey» são um complexo da indústria da moagem medieva, composto por
uma levada (agueira) que, descendo a nave da Serra Cabreira, fazia trabalhar um
conjunto de antiquíssimos moinhos, datados do tempo de Dom Dinis, no termo de
Abadim - Cabeceiras de Basto.
Mas, a «Levada de Víbora» é o título do livro de
belos textos, em verso e prosa, de Abílio Bastos, de Abadim e veia poética
fogosa. A escrita desassossegou-o pela vida fora. Nascido no mundo rural de
Basto, com parcos recursos, teve de se fazer à vida como carpinteiro, correndo
os quatro cantos do mundo, de Nova Iorque a Timor. Orgulho-me de ser seu
«padrinho» literário, já que, «usando de mansinho», o levei a publicar o
primeiro livro de poemas, «O Vale» e agora «Levada de Víbora». É um hino a
Abadim, a Cabeceiras e á diáspora Lusa. A capa, a cores, reproduz um trecho da
Levada de Víbora a «alimentar» um moinho de El-Rey Dom Diniz. Na contracapa
surge um cruzeiro e pode ler-se do Prefácio: «A voz do poeta soltou-se da
fonte, permitindo que a mão, que sempre trabalhara na arte de carpintaria,
pudesse, agora, alinhar as letras/versos como tábuas e apresentá-las com um
brilho singelo aos leitores, lembrando os versos de Alberto Caeiro: “E há
poetas que são artistas/ E trabalham nos seus versos/ Como um carpinteiro nas
tábuas!” (Júlia Reis Serra)». E do Posfácio: «A poesia é, também, uma arte de
dizermos quase tudo o que nos vai na alma sem constrangimentos (Jorge Lage)». É
uma obra com 200 páginas de textos em verso e prosa, e um conjunto de fotos do
património cultural de Abadim e Cabeceiras. Parabéns ao Abílio Bastos por mais
esta pérola, divulgando memórias e património cultural, material e imaterial. O
livro pode ser solicitado à Junta de Freg. de Abadim (jfabadim@gmail.com ou 96474826 – Presidente), ao preço simbólico de 5€,
para uma causa social local.
CAMINHO PARA A REGALEIRA *
ResponderEliminarEscreve no chão por vaidade,
e quando chega à cidade,
só via fruta madura.
Não encontrava alegria,
era noite sendo dia,
entrou numa rua Escura.
Tempo de Fado constante,
que ouvia a cada instante,
saboreava à noitinha.
Adormecia na farra.
acordava com a guitarra,
àquela hora certinha.
Rua bela seu tesouro,
morando perto do Douro,
lhe vai emprestando a sina.
Quase a leva â Estação,
onde partiu coração,
da Santa Catarina.
Era linda e vaidosa,
porque lhe chamavam Formosa,
é tão grande e não tem fim.
Cruza a Fernandes Tomás,
e vai ensinando o rapaz,
a chegar ao Bom Jardim.
* (Algumas ruas do Porto palmilhadas, vindo à memoria o guitarrista, Simplício de Moura Gonçalves, 1961)
In Levada de Víbora
PÓVOA DE BARROSO
ResponderEliminarQue Póvoa é essa, que um
ribeirinho atravessa e deixa o sumo na terra?!...
Árvores crescidas, alimentadas, nutridas,
pelas aragens da serra?!...
Campos de feno, onde o lavrador sereno,
toca o gado para o meio!
Vai pelo caminho,
afagando-o de mansinho,
desviando-o do centeio.
Que Póvoa é essa?
de onde o sol sai depressa,
e lhe entrega a Lua cedo?!...
É uma terra, apoiada pela serra,
que guarda o seu segredo?
E a resposta chegou:
-"Não sou Varzim, nem Lanhoso,
Mas a Póvoa de Barroso!"
In Levada de Víbora