domingo, 20 de outubro de 2024

Levada de Víbora

 

JORGE  LAGE


Levada de VíboraA «Levada de Víbora» e «Moinhos d’El Rey» são um complexo da indústria da moagem medieva, composto por uma levada (agueira) que, descendo a nave da Serra Cabreira, fazia trabalhar um conjunto de antiquíssimos moinhos, datados do tempo de Dom Dinis, no termo de Abadim - Cabeceiras de Basto. 

Mas, a «Levada de Víbora» é o título do livro de belos textos, em verso e prosa, de Abílio Bastos, de Abadim e veia poética fogosa. A escrita desassossegou-o pela vida fora. Nascido no mundo rural de Basto, com parcos recursos, teve de se fazer à vida como carpinteiro, correndo os quatro cantos do mundo, de Nova Iorque a Timor. Orgulho-me de ser seu «padrinho» literário, já que, «usando de mansinho», o levei a publicar o primeiro livro de poemas, «O Vale» e agora «Levada de Víbora». É um hino a Abadim, a Cabeceiras e á diáspora Lusa. A capa, a cores, reproduz um trecho da Levada de Víbora a «alimentar» um moinho de El-Rey Dom Diniz. Na contracapa surge um cruzeiro e pode ler-se do Prefácio: «A voz do poeta soltou-se da fonte, permitindo que a mão, que sempre trabalhara na arte de carpintaria, pudesse, agora, alinhar as letras/versos como tábuas e apresentá-las com um brilho singelo aos leitores, lembrando os versos de Alberto Caeiro: “E há poetas que são artistas/ E trabalham nos seus versos/ Como um carpinteiro nas tábuas!” (Júlia Reis Serra)». E do Posfácio: «A poesia é, também, uma arte de dizermos quase tudo o que nos vai na alma sem constrangimentos (Jorge Lage)». É uma obra com 200 páginas de textos em verso e prosa, e um conjunto de fotos do património cultural de Abadim e Cabeceiras. Parabéns ao Abílio Bastos por mais esta pérola, divulgando memórias e património cultural, material e imaterial. O livro pode ser solicitado à Junta de Freg. de Abadim (jfabadim@gmail.com ou 96474826 – Presidente), ao preço simbólico de 5€, para uma causa social local.

2 comentários:

  1. CAMINHO PARA A REGALEIRA *

    Escreve no chão por vaidade,
    e quando chega à cidade,
    só via fruta madura.
    Não encontrava alegria,
    era noite sendo dia,
    entrou numa rua Escura.

    Tempo de Fado constante,
    que ouvia a cada instante,
    saboreava à noitinha.
    Adormecia na farra.
    acordava com a guitarra,
    àquela hora certinha.

    Rua bela seu tesouro,
    morando perto do Douro,
    lhe vai emprestando a sina.
    Quase a leva â Estação,
    onde partiu coração,
    da Santa Catarina.

    Era linda e vaidosa,
    porque lhe chamavam Formosa,
    é tão grande e não tem fim.
    Cruza a Fernandes Tomás,
    e vai ensinando o rapaz,
    a chegar ao Bom Jardim.


    * (Algumas ruas do Porto palmilhadas, vindo à memoria o guitarrista, Simplício de Moura Gonçalves, 1961)
    In Levada de Víbora

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  2. PÓVOA DE BARROSO

    Que Póvoa é essa, que um
    ribeirinho atravessa e deixa o sumo na terra?!...
    Árvores crescidas, alimentadas, nutridas,
    pelas aragens da serra?!...
    Campos de feno, onde o lavrador sereno,
    toca o gado para o meio!
    Vai pelo caminho,
    afagando-o de mansinho,
    desviando-o do centeio.

    Que Póvoa é essa?
    de onde o sol sai depressa,
    e lhe entrega a Lua cedo?!...
    É uma terra, apoiada pela serra,
    que guarda o seu segredo?

    E a resposta chegou:
    -"Não sou Varzim, nem Lanhoso,
    Mas a Póvoa de Barroso!"

    In Levada de Víbora

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