https://www.wook.pt/livro/o-bom-governo-ernesto-rodrigues/30097834
Devidamente endereçado e autografado «ao Caríssimo e ilustre Amigo ...», com data de 14 do corrente, chegou-me um curioso livro «para rir e pensar» acerca do Bom Governo. Na contra-capa confirma que este título «é a derradeira distopia que colocará em causa todos os valores que constituem uma sociedade». E neste mesmo ramalhete de 14 pétalas parodiar aquilo que se adivinha acontecer, no ministério de cada um dos 14 ministros desse futurível governo. Em regra e, à sorte, neste ramalhete «um governo de cem ministros trabalha de noite e levanta-se às vinte horas para ouvir o primeiro-ministro no telejornal, que os cidadãos não vêem. Neste governo, cada gabinete tem cem funcionários, que não podem ser mais altos do que o seu ministro... O leitor ficciona o que já se pressupõe na contra-capa e volta à página 7, onde fica a saber que «este é o bom governo: primeiro-ministro; segundo-ministro, titular dos Negócios Estranhos; terceiro-ministro, dos Impostos; quarto-ministro, da Propaganda».
Este primeiro ramalhete, abre o apetite ao leitor e
conclui que «o povo não se cansa de votar, nem conhece regimes melhores. O
descanso e a ignorância são razões suficientes para afirmar ser este o governo
certo para fazer avançar a História».
Cedo fixei o apelido da Família «Videira Pires», a que
pertence o investigador, Ernesto Rodrigues. Nunca mais esqueci os Padres
Benjamim e Francisco Videira Pires que registei nos três volumes do meu «Dicionário
dos mais ilustres Transmontanos e Alto-durienses». Já radicado em Chaves e,
tendo Eduardo Carvalho, por meu colega, no liceu dessa cidade, foram próximas
as nossas relações, entre as duas cidades: Chaves e Bragança. Pude conhecer
alguns desse punhado de Brigantinos que, nessa altura, já exerciam o jornalismo
e se preparavam para os destinos comunitários que foram constituindo, para bem
deles de nós todos.
Ernesto Rodrigues foi um brilhante filólogo e pedagogo
nato, ao licenciar-se em Filologia Românica. Doutorou-se em Letras em 1996, aos
40 anos. Na sua tese de doutoramento elaborou o «Mágico Folhetim:
Literatura e Jornalismo em Portugal. Permitiu-lhe investigar e desenvolver,
como professor de Cultura e Literatura Portuguesa, expansivo no espaço
lusófono, deixando esse rasto em Budapeste, onde traduziu obras literárias
húngaras, tendo sido condecorado duas vezes pelo Estado da Hungria. Em
entrevista publicada de Marcolino Cepeda, Rui Mouta e Mara Cepeda ao JN em
3/05/ 2005, afirmou que «não era nada fácil ser estudante na
altura do 25 de Abril. Eu vivia uma faceta da oposição política antes do 25 de
Abril, sonhando com o futuro de um país livre».
Questionado sobre se valia a pena apostar na imprensa
local garantiu que sim e que os Amigos de Bragança, tinham sido uma experiência
que «começou em 1984, tanto mais que o Dr. Eduardo Carvalho precisava de
alguém a seu lado».
Gostei de saber das preocupações desta mocidade
Bragançana, que muito se bateu pela imprensa regional, na geração que se seguiu
àquela, a que eu próprio pertenci, a partir dos jornais da Voz de
Trás-os-Montes, da Ordem Nova, do Noticias e Voz de Chaves; e de muitos outros
que, em 2025, irei coordenar em livro, comemorativo dos meus 72 anos de
jornalista.
Ernesto Rodrigues é hoje o luzeiro-mor da cultura
Portuguesa. O herdeiro natural de Adriano Moreira que será difícil de igualar e
que enche os transmontanos de orgulho, a começar pela Academia de Letras
Trás-os-Montes de que foi co-fundador e Presidente da Direção.
Quando, em 2015, a Tartaruga, atribuiu o
«Prémio Nacional de Poesia ao meu livro: Poesia, amoras & Presunto,
convidei Ernesto Rodrigues para prefaciar esse meu livro. Às cinco páginas com
que me honrou, deu o título de Um grão de humanidade. Fiquei
emocionado e muito agradecido. Quem sou eu para merecer ser «um grão
de humanidade»?
Ao receber, com generosa dedicatória, este seu mais
recente livro que titulou O Bom Governo, não poderia eu
escolher melhor tratamento do que devolver «o grão de humanidade» ao
Ernesto Rodrigues, com que me brindou nesse prefácio.
Nesse mesmo livro consegui prestar homenagem a três
enormes figuras: Fernão de Magalhães Gonçalves, Nadir Afonso e Miguel Torga.
Três transmontanos de luxo aos quais caraterizei, em seis páginas dessa obra.
Entendi adicionar a estas, personalidades já falecidas, outra, ainda viva e
radiosa em toda a sua plenitude cultural: Ernesto Rodrigues. Penso hoje que,
este meu 64mº trabalho gráfico, devo acrescentar o epíteto mais honroso que o
Jornal de Notícias (do Porto), de 23 junho de 2023, me catalogou, como decano
dos jornalistas vivos. Confirmada esta realidade, pela IA (inteligência artificial)
devo esclarecer que este tratamento de decano
dos jornalistas me cabe desde 2017; e que apenas terminará no dia em
que eu falecer. Este, sim, é o único epíteto da lusofonia que me veio ter a
casa, não por mérito, mas pela antiguidade profissional desde 23 de Janeiro de
1953 até ao dia da minha morte.
Barroso da Fonte
FALANDO À MINHA DOR - João Montaño (Vila Real, 19-02-1958)
ResponderEliminarPensei, amor, fazer-te uma canção
Que seja pura e simples como a água,
Para poder expor-te a grande mágoa
Que devora o meu triste coração.
Do mundo só recebo ingratidão.
E a dor imensa, assim gerada, trago-a,
Tanto em mim que, só a própria frágua,
Lhe pode dar atroz consolação.
O mundo malogrou a minha vida
E expôs-me em condição tão reduzida
Que unicamente a ti posso falar.
Eis, pois, amor, a causa do meu canto:
Tu que és a dor e eu que sofro tanto,
Podemos ser um só, num só chorar.
(meu 1º soneto no dia em que fiz 19 anos)
Barroso da Fonte -In Poesia, Amoras & Presunto
O Senhor Doutor não é "um grão da Humanidade" é sim um enorme Monumento do Mundo!!!!
ResponderEliminar"Quando eu morrer/ Levai-me devagarinho,/ para não aborrecer/ quem se cruze no caminho.// Não quero lágrimas / nem anúncios nos jornais:/ -o silêncio não perturba/ e vale mais..." (p. 167)
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