Amigos Transmontanos,
venho agradecer que me
tenham enviado a notícia da morte do António Chaves. Desde há cerca de um mês
que o seu (dele) telefone não respondia. Por incrível que pareça fui, desde 23
de Janeiro de 1964, um dos seus amigos mais chegados. Conhecemo-nos na estação
de S. Bento, rumo a Mafra. Passámos a ser uma espécie de irmãos-gémeos, na
tropa e nos 60 anos de convivência que mantivémos, nos bons e maus
momentos. Sempre as divergências eram seladas, com um abraço. Nasci em 1939 e
ele em 1943. A última causa que travámos, aconteceu em 2019 (?) Quando,Eugénia
Neto, a viúva de Agostinho Neto, visitou, em três dias, com a filha mais velha,
a vila de Montalegre, onde ela nasceu em 1934. Sempre lutámos por Barroso
e por Trás-os-Montes, cada qual com as suas armas. Em 2011 publicou o livro «A
última Estação do Império», com 366 páginas. Em 2014, a âncora, reeditou
esse livro com outro título: «Em armas pelo sonho do Império».Quis que eu partilhasse
com ele esse livro que foi por ele apresentado em Luanda.
Foi o 3º Presidente da
Direção da Academia de Letras de Trás-os-Montes. Sempre ambos e as nossas
esposas: a Cândida e a Manuela. Elas partiram primeiro. Foram muito amigas e
solidárias. Com elas e connosco. Ambas nos deixaram de rasto.
Com grande pena, fiquei:
sem o contacto da sua filha (ANA ?), para, ao menos agora, lhe transmitir um
respeitoso abraço de solidariedade. Um telefone ou endereço para lhe transmitir
esta solidariedade eterna.
Com um grande abraço de
solidariedade e agradecimento do
Barroso da Fonte
A ÚLTIMA ESTAÇÃO DO IMPÉRIO -EXCERTO
ResponderEliminarLeituras a Bordo
Retomei a leitura dos apontamentos do João Barroso da Fonte, onde se referia à saída do seminário de Vila Real:
«Mal pensava eu, que até essa altura apenas caminhara, durante dez anos, para o seminário de Vila Real, que o iria abandonar, quando já medrava nos lameiros da minha aldeia, a vitela para a missa nova.
Quando deixei o seminário para entrar em férias falei pelo caminho com dois colegas sobre a perda de vocação para continuar os estudos religiosos. Manifestaram-me uma preocupação idêntica e ali tomámos a decisão de abandonar o seminário».
Ao longo desses dez anos tinha ouvido muitas histórias contadas pelos seminaristas com quem convivia em férias. Nesse tempo, os alunos do seminário de Vila Real ainda jogavam à bola de batina vestida e só saíam em passeio em fila indiana dupla, frequentemente a caminho da Senhora de Almodena, onde ficavam pelo adro da Igreja, enquanto o padre acompanhante se ocupava dentro, em confissões. As confissões ficaram cada vez mais longas e os passeios mais curtos, o que inspirou o então seminarista e poeta a escrever este poema:
Óh! Senhora de Almodena,
Ontem, sim, valeu a pena
Haveres feito um milagre
Se não a face morena
Daquela linda pequena
Era mordida dum padre
Faz assim muitos, Senhora
Se não o mundo piora
E os culpados são os padres
E, se algum dia, o amor
Fecundar uma flor
que afecte uma batina,
traça nela a tua sina,
para que murche o feijão.
Porque se o fruto aparece
todo o mundo escarnece
Dos padres, e com razão.
Está visto que os exemplos não eram abonatórios, mas os pais do João, com poucas posses e dez filhos para criar, fizeram o impossível para o mandar estudar ... (...)
In A Estação do Império - ANTÓNIO CHAVES