JORGE LAGE
Pelos finais da década de oitenta, do século XX, constou a um finório tripeiro
e bilharista que em Terras de Monforte de Rio Livre havia um jogador de snooker
imbatível. Pois bem, o habilidoso meteu dois tacos matreiros em fina mala-estojo
e, bem cedinho, pôs-se a caminho de Lebução. Ao parar no Largo da Praça,
tratou de perguntar pela casa que tinha um bilhar. A ânsia era muita de esfolar
o pacóvio que tinha fama. Bem, o que este finório não sabia era que o Lidinho
já tinha corrido Seca e Meca, até trabalhara, algum tempo, no Porto e mostrava
ter grande jeito para tacar as bolas na mesa de bilhar. Aliás, terá sido a sua
paixão pelo bilhar que o terá levado a montar um bilhar para as pessoas da
aldeia, principalmente a rapaziada nova, poderem dar asas às suas habilidades.
Geralmente jogava-se ali ao perde-paga. Havia lá um pastor (Dinis) que, também,
era quase imbatível nas tacadas de snooker. Mas, voltemos ao finório portuense,
já de tacos na mão, intima o Lidinho: - constou-se no Porto que era um bom
jogador de bilhar e eu vim ver se é mesmo verdade. E atira-lhe o tripeiro à
queima-roupa: - quer jogar uma partida comigo e o que perder paga a um
whisky ao que ganhar? O Lidinho respondeu-lhe um pouco desinteressado: -
aceito! O Lidinho ganha-lhe o jogo e os dois seguintes. O finório desafia-o
para mais uma partida, mas a 100$ (cem escudos) e o Lidinho volta a ganhar.
Mas, o finório quis tirar a desforra e desafia-o para nova partida e o que
perdesse pagava. Aqui, o Lidinho lembrou-lhe que tinha de pagar os três
whiskies e os 100$, das partidas anteriores. Ferido no seu orgulho desafia-o: -
aceita jogar a 1.000$ a partida? O Lidinho informa-o: - eu não jogo
mais, mas vai jogar aqui com este pastor por mim. O Dinis ficou amedrontado
e quis escusar-se, sendo afoutado pelo Lidinho: - a este, tu vais-lhe ganhar
nas calmas. Certo é que o finório voltou a perder e só acalmou quando se
viu de carteira bem aliviada. Meteu os tacos de profissional no estojo e, de
beiça caída, como quem não mata ceba, despede-se e abalou para o Porto muito
mais leve na carteira (menos uns 7.000$00 ou 8.000$00) e no orgulho de ser um
dos melhores jogadores de bilhar da sua cidade. O pastor fica com as notas de
mil escudos na mão e quer entregá-las ao Lidinho, dono da mesa de bilhar. Porém,
o Lidinho remata: - São tuas! Foste tu que as ganhaste! O feito deu
brado na pacata aldeia de Lebução. No antigo Café do Tótó Gordo (hoje saudades),
centro cívico dos ansiãos da terra, o assunto passou de boca em boca, com uma
ponta de orgulho, e houve quem arrematasse a conversa: - miúda foda levou o campeão
de bilhar do Porto! Saiu, da sala de bilhar, de cara pálida e a carteira vazia!
Pisgou-se para o Porto! O Lidinho passou a ter a mesa de bilhar mais
ocupada. Hoje é uma pessoa alquebrada pelos anos, mas o fino humor e argúcia
afloram-lhe em cada conversa, só as poucas perdizes das redondezas cantam mais
afoutas, porque, mais um caçador certeiro, pendurou a caçadeira e reformou o
perdigueiro.
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